DISCRIMINAÇÃO
Monitoramento identifica onda de ataques racistas nas redes de famosos
Trabalho vem sendo feito pelo Observatório do Racismo nas Redes, um projeto da entidade Aláfia Lab
Por Madson Souza
Foram alvos de ataques racistas 91% das postagens do jogador de futebol Vinicius Junior, no Instagram, no período de outubro de 2023 a fevereiro de 2024. Os dados do novo relatório que monitora casos de racismo nas redes sociais são do Observatório do Racismo nas Redes, um projeto da entidade Aláfia Lab. A falta de legislação específica para os casos de discriminação online e a branda moderação das plataformas são os principais facilitadores do racismo no meio digital.
O racismo acompanha a carreira de Vini Jr. desde os primeiros momentos de destaque do atleta no Flamengo. Com a chegada ao time espanhol Real Madrid, os ataques racistas ganharam dimensão global. Nas redes sociais, os comentários de ódio contra o futebolista são uma constante, conforme dados apresentados pelo relatório.
“Não existe uma moderação eficaz nessas plataformas, esses mecanismos não dão conta. O uso dos emojis de macaco são uma forma de burlar como a própria rede funciona. São comentários que recebem muitas curtidas e muitas vezes ficam em primeiro lugar nas publicações. É muito fácil de serem vistos. O que a gente percebe é que não existe um esforço das plataformas em fazer uma mediação que torne o ambiente seguro”, afirma a gerente de projetos da Aláfia Lab, Ellen Guerra.
Os agressores usam uma variedade de emojis e gifs de macacos para contornar a moderação da plataforma (Instagram) e desumanizar o jogador. Nos dois primeiros meses de 2024, os comentários contendo ataques racistas no Instagram de Vini Jr receberam 2.402 curtidas. O alto engajamento faz com que muitas vezes essas mensagens de ódio fiquem em destaque nas publicações. O único momento em que as ofensas cessaram foi no período entre 25 e 28 de dezembro de 2023.
Outro fator que contribui para o racismo no meio online é a falta de uma legislação específica para esses casos, como explica o advogado e professor da UniRuy, José Vinícius de Santana. “Essa falta de regulamentação faz parecer para essas pessoas que são inalcançáveis, que podem destilar aquilo já que não temos um regulamento. E essa falta de regulação específica dificulta alcançar essas pessoas”.
O que pode ajudar no combate aos ataques racistas online é a aprovação do projeto de lei 2630/2020, mais conhecido como “PL das fake news”, de acordo com José Vinícius. Ele explica que além do enfrentamento às notícias falsas, o decreto vai gerar um sistema regulatório para essas redes e uma maior transparência na internet.
Crimes qualificados
Para entender as estratégias dos comentários racistas online, o relatório ‘Racismo pra quê: as estratégias dos discursos racistas nas redes’ acompanhou de perto as diversas facetas da discriminação social direcionado a 26 personalidades negras em seus perfis de mídias sociais.
O estudo determinou quatro principais categorias para os ataques: desumanizar, desqualificar, invisibilizar e desinformar. Os dados apurados buscam impactar nas decisões políticas e na política dessas plataformas digitais.
Além do jogador, o relatório também trabalhou em cima de outros casos, como o do ator Lázaro Ramos, da jornalista Flávia Oliveira, da professora Djamila Ribeiro, entre outras personalidades. A coleta foi realizada entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, mas o relatório é fruto de um trabalho de dois anos.
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