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Monitoramento identifica onda de ataques racistas nas redes de famosos

Trabalho vem sendo feito pelo Observatório do Racismo nas Redes, um projeto da entidade Aláfia Lab

Publicado quinta-feira, 23 de maio de 2024 às 12:00 h | Autor: Madson Souza
Vini Jr. e outras 26 personalidades negras tiveram os perfis analisados no relatório ‘Racismo pra quê?’
Vini Jr. e outras 26 personalidades negras tiveram os perfis analisados no relatório ‘Racismo pra quê?’ -

Foram alvos de ataques racistas 91% das postagens do jogador de futebol Vinicius Junior, no Instagram, no período de outubro de 2023 a fevereiro de 2024. Os dados do novo relatório que monitora casos de racismo nas redes sociais são do Observatório do Racismo nas Redes, um projeto da entidade Aláfia Lab. A falta de legislação específica para os casos de discriminação online e a branda moderação das plataformas são os principais facilitadores do racismo no meio digital.

O racismo acompanha a carreira de Vini Jr. desde os primeiros momentos de destaque do atleta no Flamengo. Com a chegada ao time espanhol Real Madrid, os ataques racistas ganharam dimensão global. Nas redes sociais, os comentários de ódio contra o futebolista são uma constante, conforme dados apresentados pelo relatório.

“Não existe uma moderação eficaz nessas plataformas, esses mecanismos não dão conta. O uso dos emojis de macaco são uma forma de burlar como a própria rede funciona. São comentários que recebem muitas curtidas e muitas vezes ficam em primeiro lugar nas publicações. É muito fácil de serem vistos. O que a gente percebe é que não existe um esforço das plataformas em fazer uma mediação que torne o ambiente seguro”, afirma a gerente de projetos da Aláfia Lab, Ellen Guerra.

Os agressores usam uma variedade de emojis e gifs de macacos para contornar a moderação da plataforma (Instagram) e desumanizar o jogador. Nos dois primeiros meses de 2024, os comentários contendo ataques racistas no Instagram de Vini Jr receberam 2.402 curtidas. O alto engajamento faz com que muitas vezes essas mensagens de ódio fiquem em destaque nas publicações. O único momento em que as ofensas cessaram foi no período entre 25 e 28 de dezembro de 2023.

Outro fator que contribui para o racismo no meio online é a falta de uma legislação específica para esses casos, como explica o advogado e professor da UniRuy, José Vinícius de Santana. “Essa falta de regulamentação faz parecer para essas pessoas que são inalcançáveis, que podem destilar aquilo já que não temos um regulamento. E essa falta de regulação específica dificulta alcançar essas pessoas”.

O que pode ajudar no combate aos ataques racistas online é a aprovação do projeto de lei 2630/2020, mais conhecido como “PL das fake news”, de acordo com José Vinícius. Ele explica que além do enfrentamento às notícias falsas, o decreto vai gerar um sistema regulatório para essas redes e uma maior transparência na internet.

Crimes qualificados

Para entender as estratégias dos comentários racistas online, o relatório ‘Racismo pra quê: as estratégias dos discursos racistas nas redes’ acompanhou de perto as diversas facetas da discriminação social direcionado a 26 personalidades negras em seus perfis de mídias sociais.

O estudo determinou quatro principais categorias para os ataques: desumanizar, desqualificar, invisibilizar e desinformar. Os dados apurados buscam impactar nas decisões políticas e na política dessas plataformas digitais.

Além do jogador, o relatório também trabalhou em cima de outros casos, como o do ator Lázaro Ramos, da jornalista Flávia Oliveira, da professora Djamila Ribeiro, entre outras personalidades. A coleta foi realizada entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, mas o relatório é fruto de um trabalho de dois anos.

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