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A TARDE AGRO
Sombra gera conforto e reduz consumo de água do gado
Pesquisa demonstra que animais na sombra consumem, em média, três litros de água a menos por dia
A criação de gado bovino é uma importante atividade do agronegócio. No Brasil, a raça nelore é uma das mais escolhidas pelos produtores por se adaptar bem ao clima tropical. No entanto, para maximizar os resultados do animal, uma boa qualidade de vida deve ser oferecida para ele. Nesse cenário, uma das técnicas que tem contribuído com o bem-estar e potencial de produção dos bovinos é o sombreamento artificial.
Isso é o que comprova um experimento realizado pela Embrapa Pecuária Sudeste (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que avaliou o impacto desse mecanismo sobre as características fisiológicas, comportamentais e de desempenho de nelores durante 76 dias. O resultado foi que os animais que tiveram acesso à sombra consumiram diariamente, em média, três litros de água a menos que o gado que estava a pleno sol.
O sombreamento artificial nada mais é que o uso de uma estrutura para bloquear a luz do sol. No estudo, foi utilizada uma tela com 80% de bloqueio da iluminação solar, mas outras coberturas também podem ser usadas de acordo com a necessidade de cada produtor. Segundo o especialista em manejo hídrico e pesquisador da Embrapa, Julio Palhares, os efeitos da utilização serão positivos para a bovinocultura.
“Num cenário de mudanças climáticas, em que o aumento das temperaturas é um fato, ter na mão uma prática que dê maior conforto térmico aos animais e reduza a dependência hídrica do sistema produtivo é uma vantagem. Além de tornar a propriedade rural mais resiliente aos impactos ambientais do aquecimento global”, explica o pesquisador.
A investigação da Embrapa também trouxe outro dado importante. A produtividade hídrica, que é a relação de quilogramas de peso de carcaça, foi 10,37% maior para os nelores que estavam nos ambientes com sombra. “Os animais sob sombra, além de terem um menor consumo médio diário de água, apresentaram um maior peso final de carcaça”, afirma Julio.
De forma natural
Com base na boa relação da sombra com o gado bovino, é ideal na formação ou recuperação das pastagens fazer um bom planejamento para ofertá-la ao animal. Isso é o que diz o médico veterinário e presidente da Associação Baiana dos Criadores de Nelore (Abcn), Luiz Sande. Segundo ele, a sombra natural, promovida pela integração com árvores, deve ser a prioridade.
“Vários estudos demonstram que o sombreamento natural é mais eficiente que o artificial. Entretanto, se não for possível, o sombreamento artificial é uma excelente alternativa para oferecer conforto e bem-estar aos animais e potencializar o seu desempenho”, diz o médico veterinário.
O presidente da Abnc também ressalta que na Bahia, principalmente na região semiárida, onde a disponibilidade hídrica é restrita, torna-se necessário promover o uso racional da água. “Então, diminuir e racionalizar o consumo desse importante nutriente pelo sombreamento artificial ou natural é uma prática inteligente, eficiente e fundamental para os criadores baianos”, diz.
Para que a criação de nelore alcance ótimos resultados, a atenção do produtor deve ser direcionada à sanidade, nutrição, manejo, gestão e, principalmente, segundo Luiz, ao melhoramento genético.
“A raça Nelore é a mais numerosa do rebanho brasileiro, precisamos transformar essa quantidade em qualidade. Nesse sentido, os vários programas de melhoramento genético disponíveis no país são ferramentas importantes, necessárias e imprescindíveis para produção de bovinos de melhor desempenho, produtividade e precocidade, tanto de acabamento de carcaça como reprodutiva”, esclarece Luiz.
O médico veterinário destaca também que a cadeia produtiva tem que trabalhar com sustentabilidade, priorizando sempre o bem-estar do animal. Além disso, proporcionar aos bovinos nutrientes fundamentais e necessários para atender, em quantidade e qualidade, às suas exigências nutricionais em proteína, energia, minerais, vitaminas, fibras e água.
“Não cabe mais a sazonalidade na oferta de alimentos aos animais, é preciso um bom planejamento forrageiro, disponibilizando uma dieta adequada durante todo o ano”, enfatiza Luiz.
* Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló
