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Mercado de bioinsumos registrou valorização nos últimos seis anos

A expansão do setor acompanha a tendência da busca por sustentabilidade

Publicado segunda-feira, 08 de abril de 2024 às 05:00 h | Autor: João Vitor Sena*
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Os setores de bioestimulantes, biodefensivos e bioinoculantes, integrantes do mercado de bioinsumos - produtos agrícolas ou veterinários produzidos a partir de matéria orgânica - passaram por valorização nos últimos seis anos, com crescimentos de R$ 600 milhões, R$ 106 milhões e R$ 2 bilhões, respectivamente. Isto é o que diz a pesquisa “Insumos Biológicos no Brasil”, publicada em março deste ano pela Agroanalysis, revista do FGV Agro.

Fernanda Valente, autora da pesquisa “Bioinsumos no Brasil”, explica que essas taxas de crescimento acompanham a tendência da busca pela sustentabilidade, um dos principais objetivos da sociedade nas últimas décadas.

“No setor agropecuário, isso não é diferente. Nos últimos anos, a categoria vem evoluindo para se tornar mais sustentável por meio de diversas práticas e tecnologias, que incluem o uso de insumos biológicos. Isso explica o crescimento observado no mercado de defensivos biológicos e no mercado de bioinsumos, de maneira geral”, explica a pesquisadora.

Waldyr Promicia, produtor de limão e vice-presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), ainda pontua que os esses produtos têm sido muito procurados por produtores da agricultura orgânica e convencional. “É uma revolução na agricultura brasileira e mundial. Todos têm procurado entender, conhecer e testar”, afirma.

As finalidades

Marcos Pupin, diretor de Assuntos Regulatórios & Científicos da Associação Brasileira de Bioinavação (ABBI), explica que a nomenclatura “bioinsumos” também engloba produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana, destinados ao uso na produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agropecuários, que interfiram positivamente no crescimento, no desenvolvimento e no mecanismo de resposta de animais, plantas ou microrganismos.

Os bioinsumos ainda podem ser divididos de acordo com a sua finalidade. Biodefensivos utilizam microrganismos ou substâncias derivadas de plantas para controlar pragas e doenças de forma natural. Já os promotores de crescimento, como biofertilizantes, bioinoculantes e bioestimulantes, utilizam a mesma matéria-prima para fornecer nutrientes às plantas ou estimular seu crescimento.

O mercado desses promotores de crescimento também passou por expansão nos últimos anos, segundo a pesquisa da Agroanalysis, com valorização expressiva do setor de bioinoculantes, que passaram da estimativa de R$ 287 milhões na safra 2018/2019 para R$ 393 milhões na safra 2020/21, com expansão de aproximadamente 37%.

A pecuária também se beneficia dos bioinsumos, utilizando-os na suplementação nutricional dos animais ou no controle parasitológico através dos mesmos biodefensivos utilizados em plantas. Além disso, segundo Reginaldo Minaré, diretor executivo da Associação Brasileira de Bioinsumos (ABBINS), os biofertilizantes aplicados nas plantações para melhorar a qualidade do solo refletem positivamente na qualidade nutricional da carne. “Se você tem um solo mais rico em nutrientes, vai refletir positivamente na qualidade final da produção, que são os grãos, as carnes”, afirma.

O tratamento do solo com esses produtos naturais ainda promove economia de gastos com a compra e transporte de herbicidas e fertilizantes químicos, porque esses microrganismos podem ser reproduzidos nas próprias plantações. De acordo com Fernanda Valente, até mesmo os custos com tratamento de água e outros recursos naturais podem ser reduzidos, já que esses seres vivos ajudam a reduzir os riscos de contaminação do solo.

Os benefícios

Waldyr conta que tem reparado inúmeros benefícios após começar a utilizar bioinsumos em suas plantações de limão. “Os benefícios são inúmeros. O primeiro benefício é ter um produto que está “de bem” com a natureza. Não tem como comparar o (produto) convencional (químico) com um biológico, usar um herbicida ou inseticida e contaminar o solo ou as nascentes ao invés de usar um produto que combate o mesmo problema (pragas) e, na maioria das vezes, por um custo menor”, relata o vice-presidente da Abrafrutas.

Porém, apesar do crescimento do mercado nos últimos anos, a adesão dos produtores rurais aos bioinsumos progride de forma lenta. O documento publicado pela Agroanalysis mostra que apenas 28% das culturas agrícolas safra 2021/2022 utilizaram bioinsumos, enquanto 72% recorreram a agroquímicos.

“Não é um processo rápido. Você precisa mudar a cultura dos agricultores que cresceram praticando uma agricultura nos moldes da Revolução Verde (à base de produtos químicos) e a mentalidade de quem se formou em escolas agrícolas que prestigiam o uso de químicos”, pontua o diretor da ABBINS. No entanto, ele afirma ter expectativas positivas para os próximos anos.

Waldyr diz que realmente teve dificuldades no seu primeiro contato com bioinsumos. “Encontramos grandes desafios. O pessoal pensa que é simples, mas não é, porque o grande lance é multiplicar dentro da sua propriedade. Estamos falando de multiplicação de fungos e bactérias, um erro ali e você pode multiplicar outras coisas que não é o que você queria”, relata

Já Marco Pupin afirma que é justamente essa complexidade que freia o avanço do setor, além da ausência de uma lei que regulamente o uso de bioinsumos. “As áreas de pesquisa e desenvolvimento normalmente são custosas e demoradas, principalmente devido à complexidade dos processos biológicos envolvidos. Além disso, a necessidade de comprovar a eficácia e a segurança dos produtos também representa um desafio. Isto também envolve os processos de padronização e qualidade com a definição clara dos critérios de qualidade e de métodos de análise. Por outro lado, a falta de uma regulamentação clara pode gerar insegurança jurídica para as empresas e dificultar o acesso ao mercado”, declara.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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