ARTIGOS
A primeira vez que vi Sebastião Nery
Confira o artigo do professor Joaquim Nery Filho
Por Prof. Joaquim Nery Filho
A primeira vez que vi Sebastião Nery, foi em meados dos anos 60.
Eu tinha 10 anos, ele 36. Chegou numa pequena fazenda da zona rural de Itiruçu, para visitar meus pais. Sempre carinhoso, chamava a minha mãe de Liginha e o meu pai de Juju.
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Chegou com dois filhos adolescentes, Jaques e Nerynho, criados no Rio de Janeiro. Para nós, motivo de orgulho e admiração. Cariocas, cabelos longos e surfistas.
Depois disso virou uma lenda viva para mim. Ouvia as suas histórias e admirava o seu sucesso, sempre com muito orgulho do tio, ou primo. Nunca soube ao certo a qualificação do parentesco.
Devorei entusiasmado a coletânea do Folclore Político Brasileiro.
Em 1988, com 30 anos, fui candidato a vereador pela cidade de Salvador.
Liguei para Sebastião pedindo apoio. De imediato se colocou à disposição para ajudar. Pediu para que organizasse um encontro num auditório, que ele viria fazer uma palestra. Não precisava providenciar nada a mais. Só o espaço, som, divulgação e convite às pessoas. Fiz isso e ele fez a palestra. Se envolveu na campanha.
Depois organizamos um comício no Farol da Barra e ele veio novamente. Fizemos um almoço genial. Sebastião Nery, Gilberto Gil, Wally Salomão, Benvindo Cerqueira, Geraldo Walter, eu e os meus companheiros organizadores da campanha. Todos boquiabertos com a genialidade que cortava a mesa em todos os sentidos. O almoço já valeu a campanha.
Em 1990, Sebastião Nery foi ser Adido Cultural do Brasil em Roma. Logo depois transferido para Paris. Duas das cidades que mais amava, depois de Jaguaquara e do Rio de Janeiro.
Fui visitá-lo no verão de 90/91. Me hospedou em sua residência em Paris e ficou doze dias a minha disposição. Foi guia turístico e anfitrião como não poderia haver outro igual. Fomos aos restaurantes mais icônicos da cidade e foram 12 dias de contos, casos e histórias sobre a sua vida e sobre o Brasil. Que orgulho e privilégio.
Fomos passar o réveillon em Amsterdã. Não tínhamos hotel reservado. Me deu o carro para dirigir e foi cochilar, dando o recado claro.
- Vá devagar. Quando chegar a Amsterdã, siga a sinalização que leva ao CENTRUM. É sempre o melhor lugar para se hospedar nas cidades europeias. Foi assim que fizemos.
Quando voltou ao Brasil, sempre mantivemos contato. Brasília, Salvador, Guarajuba, Jaguaquara e Rio de Janeiro.
Quando publiquei um livro de fotografias em 2016, fez questão de fazer um prefácio. Como sempre genial.
Que prazer sentar numa roda de conversas com Sebastião. Todos os olhares e escutas eram para ele e ele gostava muito disso. Sempre acompanhado pela sua amada Beatriz, que impulsionava a sua memória de uma forma espetacular. Bia era uma memória paralela e completa. Sempre doce e carinhosa. Cuidava dele como queria ser cuidada.
Quando adoeceu, durante a pandemia, fui visitá-lo no Rio de Janeiro. Sempre positivo e otimista, ainda fazia planos de vir a Salvador, tomar um banho de mar em Guarajuba, ir à Jaguaquara e quem sabe a Paris. Sabíamos que não seria mais possível, mas ele jamais admitiria. Muitas vezes os contatos eram intermediados por Ana Rita. Motivo de orgulho e carinho.
Nunca mais o vi. Falei por telefone algumas vezes, mas sentia e compreendia a sua dificuldade.
Sebastião foi pro céu. Fico aqui imaginando o tamanho da roda de amigos que estarão ao seu redor para ouvir as histórias de Jorge, Oscar, Karol, Boris, Charles, Ray e Zélia dentre tantos outros que cruzaram o seu caminho.
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