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Empacotando a Rua Chile e a Amazônia

Confira o artigo de Jolivaldo Freitas

Redação

Por Redação

09/10/2025 - 7:11 h
Jolivaldo Freitas
Jolivaldo Freitas -

O turismo, no Brasil, tem se transformado em um campo de contrastes entre a exploração predatória e as tentativas de revitalização urbana. Na Amazônia acontece o que aconteceu no Litoral Norte e no Litoral Sul da Bahia. Aqui surgiram os resorts e eco-resorts em profusão, pousadas de alto padrão e hotéis que se dizem até seis estrelas.

Na Amazônia o crescimento dos chamados “hotéis de selva” vem acompanhando o ritmo da expansão da indústria turística internacional. São empreendimentos que oferecem a brasileiros ricos e estrangeiros a experiência de “viver a floresta” em alto estilo, com cabanas suspensas, spas e serviços de luxo em meio à mata.

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Porém, o que se viu aqui e agora se vê lá, muitas vezes, a lógica que impera é a da exploração: terras compradas a preços irrisórios, comunidades locais relegadas ao papel de figurantes e pouca ou nenhuma redistribuição da riqueza para a população.

O que poderia ser uma ferramenta de educação ambiental e de geração de renda sustentável, em boa parte dos casos, vira apenas mais uma engrenagem da máquina de transformar natureza em mercadoria. Esse modelo exploratório ganha ainda mais visibilidade diante da COP 30, prevista para Belém agora em 2025.

Hotéis da capital paraense já vêm sendo denunciados por aplicar diárias abusivas durante o evento. Há relatos de hospedagens que normalmente custam R$ 200 ou R$ 300 por noite, mas que, na semana da conferência, estão sendo oferecidas por até R$ 4 mil a diária. Um aumento de mais de mil por cento, que escancara a lógica do lucro a qualquer custo e expulsa não apenas os moradores locais da possibilidade de participar da efervescência da cidade, mas até mesmo pesquisadores, jornalistas e ambientalistas que deveriam estar no centro do debate.

Voltando agora a Salvador, outro cenário mostra uma face diferente do embate entre decadência e requalificação. A Rua Chile, primeira rua do Brasil, no coração da cidade da Bahia, já foi sinônimo de abandono, lojas fechadas e prédios históricos se deteriorando diante da pressa dos transeuntes. Hoje, o espaço passa por um processo de revalorização — hotéis-boutique, restaurantes sofisticados e grandes investimentos públicos e privados dão um ar de luxo e exclusividade à via. Tem que defenda e, claro, quem critique.

É verdade que, à primeira vista, a Rua Chile vai virando um reduto de ricos, distante da realidade de grande parte da população soteropolitana. Mas há uma contradição inevitável: é melhor ver a região se transformar em um corredor de luxo do que permitir que o patrimônio histórico e cultural simplesmente se acabe, entregue à ruína e ao esquecimento. Com prédios caindo e todo mundo colocando a culpa nos outros, seja o Iphan, o Ipac, a prefeitura e até a Igreja.

O dilema, tanto na Amazônia quanto em Salvador, é semelhante. Entre a exploração comercial sem freios e a revitalização que privilegia apenas uma elite, ainda falta encontrar o caminho do meio — aquele que equilibre sustentabilidade, preservação e inclusão social. O turismo pode ser motor de desenvolvimento, mas só cumprirá esse papel se respeitar quem já vive nos territórios ou entornos; se devolver à comunidade mais do que apenas empregos precarizados e se evitar que a beleza natural ou o valor histórico se tornem produtos de prateleira exclusivos para poucos.

Qual é mesmo a discussão? Não se trata de ser contra ou a favor da modernização ou da presença de hotéis de luxo. É saber para quem serve. A Amazônia é empacotada como exótico playground. A Rua Chile tenta se reinventar como vitrine requintada, coisa que já foi um dia. Vamos aguardar um modelo de turismo e de revitalização que não exclua o povo da sua própria história ou da sua própria terra.

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Tags:

Amazônia belém COP-30 rua chile

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