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O alemão não gostou dos indígenas, do calor e do incêndio

Confira o artigo de Jolivaldo Freitas

Jolivaldo Freitas*

Por Jolivaldo Freitas*

21/11/2025 - 12:38 h
Jolivaldo Freitas
Jolivaldo Freitas -

Diesel, plástico e o ar poluído que se respira na COP30. Tem o calor. Teve o incêndio. “Tem de um de tudo”, como dizemos na Bahia. A confusão dos indígenas (foi engraçada a cara do gringo quando teve a face pintada e lambuzada de urucum). Claro, como não falar da indelicadeza dos alemães que odiaram Belém e do mico geral. Mas quem mandou confiar no governador Jader Barbalho?

A ideia de fazer na Amazônia foi boa, mas todos sabiam que seria um desafio para o qual ele não teria cacife para executar. Mas Jader até que respondeu bem ao chanceler alemão, dizendo que a Alemanha ajudou a aquecer o planeta e que a “alemãozada” agora estava se queixando do calor.

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A chuva constante. Os alagamentos. Os pingos de água nas salas de reuniões. Antes mesmo de se falar em metas climáticas, compromissos globais ou pactos históricos, Belém já acordava envolta no ronco grave dos geradores. Era um som contínuo, quase teimoso, que lembrava mais um porto em madrugada eterna do que o palco da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima. Era assim, com esse ar de contradição, que a COP30 começava oficialmente naquela segunda-feira, 10 de novembro. Geradores movidos a combustível fóssil.

Se alguém resolvesse caminhar do portão monumental do pavilhão para trás — invertendo o trajeto padrão dos chefes de Estado, assessores e cientistas — encontraria logo o fluxo incansável dos caminhões-tanque. Um entra, outro sai. A qualquer hora. Eles trazem, nas entranhas metálicas, milhares de litros do velho óleo diesel, responsável por manter de pé os 160 geradores que garantem luz, ar-condicionado e silêncio refrigerado dentro da conferência. Aliás, faltou ar-condicionado.

O mundo lá dentro discute como abandonar os combustíveis fósseis. Fora, os motores lembram que a dependência ainda tem cheiro, fumaça e vibração. Nos lanches, na hora do almoço, talheres plásticos aos milhares. O edital, naquele papel bem-intencionado e hoje amarelado de ironia, dizia que os equipamentos deveriam priorizar combustíveis renováveis.

O ideal era o B100, puro, limpo, conceitualmente bonito. Mas ideal é aquilo que se escreve; realidade é aquilo que dá para fazer. E, na Amazônia, disseram os organizadores, o que “dava para fazer” era abastecer tudo com um diesel contendo, quando muito, 25% de conteúdo renovável — graças a um acordo firmado com a Petrobras.

O calor úmido de Belém, passando fácil dos 30 graus, abraça quem circula, lembrando que a floresta vive numa cadência própria que nenhum gerador consegue domesticar. Ambientalistas e representantes do setor de biocombustíveis olham a cena com aquele misto de resignação e perplexidade. Uma conferência do clima movida a diesel — não deixa de ser uma espécie de metáfora, um aviso involuntário. Como se a própria cidade murmurasse: “talvez vocês estejam querendo correr antes de aprender a caminhar”.

E assim segue a COP30, alimentada por contradições, num Brasil contraditório, tentando, com discursos, acordos e promessas, empurrar o mundo para o futuro. A contradição paira no ar — um ar que, curiosamente, só permanece fresco graças à fumaça que sai dos fundos do pavilhão. Sinceramente, o Brasil é bom mesmo em realizar campeonatos de futebol. E olhe lá! Sobre a COP30 posso afirmar: desse mato não sai coelho.

*Escritor e jornalista. Autor do romance “Os Zuavos Baianos Contra Dom Pedro, os Gaúchos e o Satanás” (na Amazon e Livraria Escariz)

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Tags:

Conferência das Nações Unidas COP30 Incêndio

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