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EDUCAÇÃO

Costa Azul abriga, lado a lado, dois polos de excelência na educação

Colégios público e privado são referências em educação de qualidade em Salvador

Por Divo Araújo

20/08/2025 - 16:11 h
Colégio Estadual Thales de Azevedo se diferencia pela preparação dos alunos para além da formação acadêmica
Colégio Estadual Thales de Azevedo se diferencia pela preparação dos alunos para além da formação acadêmica -

O Costa Azul tem uma característica única: abriga, lado a lado, duas escolas que ilustram as diversas faces da educação brasileira. De um lado, o Colégio Estadual Thales de Azevedo, símbolo de resistência e engajamento social.

Do outro, o Colégio Cândido Portinari, referência entre as particulares pela proposta humanista e desempenho acadêmico. Com cerca de 1.200 alunos cada, as instituições, apesar das diferenças de história e método, compartilham o compromisso com a formação integral dos estudantes.

Dos dois, o primeiro colégio a chegar ao Costa Azul foi o Cândido Portinari. Em 1993, iniciou suas atividades na Rua do Canal, na Pituba, e, já no ano seguinte, mudou-se para a sede atual.

Segundo o diretor Aleci Silva, o prédio foi o primeiro de Salvador projetado exclusivamente para funcionar como escola, com rampas, acessibilidade e salas planejadas para as necessidades pedagógicas.

“Na época, era comum adaptar casas para virarem escolas. Aqui, desde o primeiro dia, tudo foi concebido para o ensino”.

Três anos depois, em 1997, foi a vez da Thales de Azevedo abrir as portas. A professora de História Tamara de Menezes conta que a construção da escola fez parte do projeto de revitalização do Parque Costa Azul, que incluía também a biblioteca pública Thales de Azevedo.

“A escola foi uma conquista junto com a requalificação da área”, lembra.

Segundo Tamara, desde o início o Thales de Azevedo se destacou na rede pública pela estrutura diferenciada e proposta pedagógica.

“Temos teatro para 150 pessoas, sala de dança, sala de música, quadra e anfiteatro. Tudo integrado ao projeto educacional, oferecendo uma formação que vai além do português e da matemática, proporcionando uma educação completa”, ressalta.

DNAs das escolas

Para Aleci Silva, o Portinari se destaca pela proposta humanista e pelo cuidado individualizado com cada aluno. “Conhecemos cada estudante pelo nome, compreendendo suas particularidades”, explica.

Colégio Cândido Portinari se destaca pelo cuidado individualizado com os estudantes
Colégio Cândido Portinari se destaca pelo cuidado individualizado com os estudantes | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Esse acompanhamento e o foco no desenvolvimento socioemocional fazem parte do DNA da escola que, mesmo crescendo, preserva o compromisso de tratar cada aluno como indivíduo, valorizando a formação integral.

A proposta do Thales de Azevedo também vai além da formação acadêmica tradicional e busca preparar os alunos para a vida.

“Não oferecemos apenas uma educação pragmática para passar nos grandes vestibulares, mas formamos cidadãos, capacitando-os para o mundo do trabalho e para a participação ativa na sociedade”, destaca Tamara.

Essa visão, diz ela, amplia o papel da escola para além das disciplinas básicas, promovendo uma educação que desenvolve competências sociais, culturais e éticas essenciais.

Para a diretora do Thales, Elisângela Lopes Marques, a intencionalidade educativa está profundamente enraizada no DNA do colégio, que desde sempre problematiza questões sociais e promove debates sobre desigualdade e direitos humanos.

“A escola sempre integrou essas pautas, desde trabalhos emblemáticos como o projeto ‘Brasil País Desenvolvido’, em 2008, até a recente implementação da Lei 1639, que ampliou a curricularização para incluir debates sobre raça, opressões, homofobia, capacitismo e outras formas de discriminação”, explica.

A professora Emmanuelle Andrade, coordenadora de novos alunos que atua no Portinari há 29 anos, destaca o compromisso em manter viva a identidade do colégio.

“Os fundadores deixaram um grande legado dentro da comunidade e hoje a gente tenta sustentar essa filosofia”, conta.

Apesar das mudanças e do crescimento da instituição, essa herança permanece intacta, acrescentou ela, sustentada por uma equipe comprometida com a proposta humanista que marcou o início da escola.

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Segundo o diretor Aleci Silva, a integração do Portinari à Rede Inspira, hoje a segunda maior rede de educação do país, ampliou as possibilidades da escola sem que sua identidade fosse perdida.

“A Rede Inspira valoriza e respeita a cultura e o DNA de cada escola, mesmo que as propostas pedagógicas sejam diferentes entre as unidades”, explicou ele. A rede, fundada por educadores, reúne 105 escolas em 19 estados brasileiros, e tem na Bahia um de seus principais polos.

Capital humano

Outra característica que aproxima as duas unidades de ensino é o investimento no capital humano. “Há um forte sentimento de pertencimento entre todos os envolvidos — corpo docente, funcionários e estudantes — que mantém vivo o legado da escola.

Esse alinhamento cria um ambiente de cooperação e engajamento que reforça a identidade do Thales como uma instituição de referência na rede pública”, diz a professora Tamara.

Elisângela Lopes observa que o ensino oferecido pelo Thales está diretamente ligado ao nível de qualificação do corpo docente.

Segundo ela, professores com especialização, mestrado e até doutorado não apenas dominam o conteúdo, mas também ampliam o olhar dos estudantes para além do senso comum.

“Quando o professor investe na sua carreira acadêmica e volta para a sala de aula, ele faz entregas intencionais, comprometidas com a formação integral do aluno”, enfatiza.

Já os professores do Portinari incorporaram as Olimpíadas do Conhecimento à rotina pedagógica de forma entusiasmada, transformando-as em um projeto coletivo.

Mais do que apenas preparar os alunos para as competições, eles estimulam a curiosidade, o estudo autônomo e o gosto por desafios intelectuais. Esse engajamento se reflete nos resultados: em 2024, a escola conquistou um número recorde de medalhas, obtendo destaque nacional.

Relação com o bairro

Se os colégios têm muito em comum, a forma como se relacionam com o bairro apresenta características distintas. O Portinari aproveita o Parque Costa Azul como uma extensão da sala de aula.

Atividades com as famílias e projetos de educação financeira reforçam a conexão com o cotidiano do bairro. Cerca de 40% dos alunos moram em bairros próximos como Costa Azul, Stiep e Imbuí.

Segundo Patrícia Almeida, gerente de marketing do Portinari, o projeto de educação financeira é um exemplo de integração com a comunidade.

“Do primeiro ao quinto ano, os alunos visitam o supermercado GBarbosa, aqui no bairro, para viver uma experiência prática de compras.

Eles observam preços, leem rótulos, fazem cálculos, entendem a importância do troco e passam pelo caixa. É sensacional, porque nesse momento eles deixam de apenas acompanhar a família para assumir o papel de responsáveis pelas decisões de compra”, explica.

A relação dos alunos do Thales com o Costa Azul é diferente. Mesmo para aqueles que não residem no bairro, o local se torna um ponto de referência no dia a dia.

Pela posição estratégica, muitos estudantes conciliam a rotina escolar com estágios, empregos ou cursos preparatórios, aproveitando a facilidade de acesso e a proximidade com serviços e oportunidades da região.

Para Tamara de Menezes, isso se deve tanto ao perfil diverso do corpo estudantil quanto à localização estratégica da escola.

“Muitos alunos dessa escola não são do Costa Azul, mas a gente também tem alunos que moram aqui nas redondezas, nos bairros mais próximos. E isso é mais uma prova de como o Thales tem um projeto educacional de excelência, porque a gente tem alunos de vários lugares que vêm para cá”, destacou.

Mesmo assim, a escola enfrenta um desafio comum na rede pública: a evasão no ensino médio. “Ainda que a escola ofereça diversos atrativos e um espaço seguro, existem questões que vão além de nós”, afirmou.

Segundo Tamara, a vulnerabilidade econômica de grande parte dos estudantes impacta diretamente na permanência deles.

Nesse cenário, iniciativas como o programa Pé de Meia têm sido essenciais: “É um projeto que nos auxilia a garantir ou reduzir e minimizar a evasão desses alunos”, completou.

Entre pontes e muros

Os estudantes do Portinari demonstram uma forte conexão afetiva tanto com a escola quanto com o bairro onde ela está inserida.

Manuela Barcellano, 17 anos, aluna do terceiro ano, conta que os alunos aproveitam os horários livres para explorar e conhecer o bairro, reforçando o sentimento de pertencimento.

Mas, apesar da proximidade geográfica, a relação com os alunos do Thales de Azevedo, ainda é marcada por certa distância, embora haja respeito mútuo entre os estudantes.

Davi Mariano, estudante do terceiro ano do Portinari, destaca essa relação distante entre os alunos do seu colégio e os do Thales de Azevedo, que ficam praticamente , “parede com parede”.

“A gente acaba segregando duas instituições. Mesmo sendo vizinhos, não há muita interação entre o Thales e o Portinari, até por diferenças de locomoção e estrutura. Não existe uma rivalidade, mas também não se cria amizade, não existe essa troca entre os dois colégios”.

A relação dos estudantes do Thales também é marcada pelo sentimento de pertencimento. Filipe Celestino Farias, 16 anos, valoriza os projetos de extensão do colégio, que envolvem parcerias com universidades, órgãos governamentais e outras instituições, ampliando sua formação cultural, acadêmica e profissional.

Alunos Filipe Celetive Farias, Clara Wokaman Silva e Richard Almeida com as professoras Tamara Menezes e Elisangela Lopes no Colégio Thales de Azevedo.
Alunos Filipe Celetive Farias, Clara Wokaman Silva e Richard Almeida com as professoras Tamara Menezes e Elisangela Lopes no Colégio Thales de Azevedo. | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Apesar da convivência diária com o Portinari, ele observa pouca interação entre as duas escolas. Para Filipe, o Thales se diferencia pelo engajamento político que estimula nos alunos, além das ações sociais e culturais.

Apesar de serem referências em suas respectivas redes e vizinhos, Thales de Azevedo e Portinari mantêm uma distância que vai além dos muros das instituições.

Alunos e professores das duas escolas raramente interagem ou desenvolvem projetos em conjunto, refletindo uma desconexão que contrasta com a proximidade física e o potencial para trocas enriquecedoras.

Esse cenário evidencia desafios ainda presentes na integração entre as redes pública e privada, mesmo em contextos em que ambas buscam contribuir para a formação integral dos estudantes.

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Colégio Cândido Portinari Colégio Estadual Thales de Azevedo Costa Azul Educação

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