AGRONEGÓCIO
Produtos derivados da tilápia vão de salsichas até gelatinas
Pesquisadores da Embrapa desenvolveram novos alimentos a partir do peixe
Por João Vitor Sena*
Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveram novos produtos alimentícios a partir de resquícios da tilápia, o peixe mais cultivado do país, como gelatinas proteicas, salsichas, patês e embutidos do tipo apresuntado. Estas novas iguarias ainda não estão disponíveis no mercado, mas a Embrapa está procurando parceiros privados para levá-las aos consumidores.
O patê é preparado a partir da carne mecanicamente separada da tilápia, com adição de fibra de abacaxi. É de fácil digestão e pode ser oferecido ao público infantil e idoso, que precisam consumir proteína animal, mas têm rejeição ao pescado inteiro. Já a salsicha e o apresuntado possuem teor reduzido de sódio e não apresentam corantes em sua composição, sendo indicados para consumo em todos os públicos.
Angela Furtado, pesquisadora da Embrapa, explica que o objetivo da pesquisa é reaproveitar os resíduos que são perdidos durante a filetagem dos peixes. “No caso da tilápia, que é o peixe mais cultivado no Brasil, a sua filetagem gera uma quantidade enorme de resíduos que ainda podem ser aproveitados no desenvolvimento de produtos como o patê, a salsicha e o embutido”, comenta.
Estes resíduos são gerados porque as indústrias brasileiras priorizam os cortes mais procurados no mercado, como o filé, que representa 30% do peixe. Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe Br), afirma que os 70% restantes são reaproveitados pelas indústrias, através da produção de farinhas, rações.
“As indústrias hoje fazem diversos produtos a partir da tilápia, não só o filé. Para o consumo, temos a tilápia inteira, o contrafilé, a ventrecha, temos o filé de barriga, os empanados e a carne moída. As indústrias também aproveitam e exportam as escamas dos peixes. O restante é utilizado para a produção de farinhas, óleos e adubos para plantas”, explica Medeiros.
Segundo a Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), o Brasil exportou 35 mil toneladas de produtos de reciclagem de pescados em 2022 – que incluem est as mesmas farinhas, óleos, gorduras e outro resíduos provenientes do abate de pescados. Isto gerou uma receita de aproximadamente US$ 26 milhões.
Porém, o presidente da Peixe Br também comenta que o desenvolvimento de novos produtos a partir dos resíduos da filetagem ainda é uma prática incomum entre as indústrias brasileiras. Isto já faz parte da cadeia produtiva de empresas estrangeiras, principalmente aquelas localizadas na China e na Europa, que produzem cosméticos utilizando compostos encontrados em alguns pescados.
“Conforme vai aumentando a escala, teremos produtos de maior qualidade e é natural que essas empresas venham se instalar no Brasil num futuro bem próximo”, pontua ainda Medeiros.
Por enquanto, a maioria das inovações estão concentradas em centros de pesquisas e universidades. Por exemplo, a máquina despolpadora de peixes elaborada por pesquisadores do Departamento de Morfofisiologia Veterinária da Universidade Federal (UFPI), utiliza a técnica de amassamento para a filetagem dos peixes, reaproveitando os resíduos na fabricação de produtos para consumo humano, como nuggets e fármacos.
“Estes produtos têm grande potencial para atingir as crianças e os idosos que necessitam de proteína animal em sua alimentação. Como a tilápia tem um sabor suave, seria fácil introduzir este tipo de produto na dieta deste público”, aponta Angela.
Couro do peixe
Já pesquisadores do Grupo de Estudos de Produtos de Origem Animal da Universidade Estadual de Maringá (UEM) estudam a aplicação do couro de peixe na aplicação em vestuários e calçados. Um estudo publicado pelo grupo, intitulado “Qualidade de resistência de peles de Tilápia no Nilo submetidas ao curtimento com tanino vegetal”, concluiu que couros produzidos a partir de tilápia são resistentes à tração ao rompimento.
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