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Ninguém compra: por que os 'carros baratos' não vendem na Bahia
Fatores culturais e econômicos explicam preferência por carros maiores
Por Gabriel Moura
Carro 0km mais barato do Brasil, herdeiro do icônico Uno e pertencente à montadora que mais vende no país. Os argumentos para transformar o Mobi em líder de vendas na Bahia são muitos, mas ficam apenas no campo teórico. Na realidade, o caçula da Fiat luta para figurar entre os 10 mais vendidos do estado.
Mais que isso, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o outrora chamado 'carro popular' é o segundo menos vendido da montadora italiana no estado, vencendo apenas o sedan Cronos.
Foram 787 unidades emplacadas até agora no estado, dando ao Mobi a 12ª colocação do ranking que é liderado pelo Hyundai Creta, com 1653 vendas.
Observando o desempenho do único concorrente do Mobi, o Renault Kwid, que está na 14ª posição, fica evidente que o problema não é 'novo Uno', mas da categoria. O segmento de entrada vende menos que compactos e, principalmente, SUVs.
"Estes são veículos de opção de compra para pessoa jurífica, para trabalho, para empresas de telefonia ou de suporte a vendas, por exemplo. São carros de entrada e que servem mais a empresas do que as pessoas físicas ou são os segundos veículos da casa para famílias mais abastadas", explica Milad Kalume Neto, especialista no mercado automobilístico.
E a questão é particular da Bahia. No ranking nacional, o Mobi figura na quinta posição, e o Kwid desempenha levemente melhor, em 12ª. Os baianos, aliás, alimentam uma preferência pelos SUVs.
O top-5 local reúne Creta, Toyota Corolla Cross, Nissan Kicks e GM Tracker. Já no nacional brilham, em ordem, VW Polo, Hyundai HB20, GM Onix, Fiat Argo e o supracitado Mobi fechando a lista.
"Existem algumas questões regionais que explicam esta situação. A primeira delas seria entender o posicionamento das duas empresas em relação aos incentivos (bônus e descontos) que elas estão praticando em cada mercado e as campanhas de marketing para fortalecimento destes modelos. Acontece que, por se tratarem de veículos de entrada, normalmente as campanhas são projetadas para veículos com maior valor agregado", inicia o especialista, emendando com uma explicação macroeconômica.
"A Bahia é o 7º estado em relação ao PIB, mas está em 22º no IDH que mede, entre outras coisas, a qualidade de vida considerando a escolaridade, renda e saúde. Já outro indicador, a renda média, a Bahia está em 23º lugar entre os Estados brasileiros. Tais indicadores econômicos, sob meu ponto de vista, justificam a queda em relação a média nacional", completa.
A única categoria menos prestigiada tanto no Brasil quanto na Bahia são os sedans. No estado, o Corolla é o mais vendido, com 785 unidades emplacadas no ano. Cronos (617) e Yaris Sedan (353) fecham o pódio.
Escolha dos clientes
O preço de tabela inicial do Mobi 2025 é R$ 72.990,00, o equivalente a praticamente 52 meses de salário mínimo. Já o Kwid de entrada sai por ainda mais caro, R$ 73.640,00, igualmente proibitivo para a parcela mais baixa da população.
Além de ambos não cumprirem o requisito básico do carro popular, ser acessível aos mais pobres, o preço encosta-os em outras categorias. Ambos custam R$ 10 mil a menos que os mais equipados, desejados e bem construídos Argo e Stepway, citando apenas veículos das mesmas montadoras, tornando-se opções mais atrativas e racionais para os compradores.
Olhando outras marcas, Polo, Onix e HB20 são as principais escolhas dos baianos no segmento dos compactos. Todos com preço inicial na casa dos R$ 80 mil.
"A oferta de veículos limitada durante a pandemia motivada pela restrição de semicondutores fez com que as fabricantes optassem por direcionar sua produção aos veículos de maior valor agradado. Quando a oferta de semicondutores se regularizou, a indústria de certa forma se acomodou a oferecer veículos com alto valor, pois as vendas estavam estagnados entre 2 e 2,2 milhões de veículos. Então a saída seria aumentar o valor dos produtos para manter as margens", explica Milad.
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