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CAMPO ABERTO

Alimentação escolar impulsiona agricultura familiar

Investimentos em capacitação e maquinário permitem ganho de escala e cooperativas avançam na conquista de novos mercados

Por Alan Rodrigues

13/03/2025 - 6:00 h
Cooperadas da Associação da Sapucaia, em Santo Antônio de Jesus, produzem grande variedade de pães para merenda escolar
Cooperadas da Associação da Sapucaia, em Santo Antônio de Jesus, produzem grande variedade de pães para merenda escolar -

Nos últimos 10 anos, de 2015 a 2024, a agricultura familiar na Bahia já recebeu mais de R$ 4,2 bilhões em investimentos que vão desde a capacitação até maquinário. Dados do Censo Agropecuário de 2017, os mais recentes disponíveis, mostravam que a Bahia tinha 593.411 estabelecimentos de agricultura familiar, 15% do total do país.

Oito anos depois, certamente este número já é bem maior, assim como a produção desses agricultores, que têm na alimentação escolar seu maior escoamento, mas já começam a se consolidar também como fornecedores para os mercados doméstico, nacional e até de outros países.

O desenvolvimento da agricultura familiar na Bahia ganhou grande impulso a partir da criação, em 2015, da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), que teve como primeiro titular o atual governador, Jerônimo Rodrigues (PT).

As políticas desenvolvidas na secretaria têm possibilitado a organização e fortalecimento de cooperativas. Chamadas e editais, aliados à assistência rural, levam investimentos e capacitação para o campo, expandindo e diversificando culturas em todos os territórios.

Com a aquisição de maquinário, padronização de embalagens e estrutura logística, a produção, antes voltada apenas para compras públicas, começa a ganhar espaços nas prateleiras dos mercados.

“A nossa gente planta e colhe frutas, verduras, legumes, mas hoje eles também produzem chocolates, sequilhos, cafés, cervejas, geleias e diversos outros produtos que já conseguimos, inclusive, exportar”, diz o atual secretário, o deputado estadual Osni Cardoso (PT).

PNAE

Nos últimos dois anos, o Governo Federal promoveu a recomposição de recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o que impulsionou ainda mais a agricultura familiar. Em apenas um desses editais, foram mais de R$ 50 milhões destinados a atender os territórios de Itabuna, Feira de Santana e Salvador.

São 440 unidades escolares beneficiadas com produtos como: arroz, farinha, feijão, flocos de milho, aipim e polpas de frutas, alcançando quase 543 toneladas de alimentos ofertados nas escolas estaduais de 53 municípios relacionados aos territórios selecionados, através de parceria com Secretaria de Educação.

“A chamada centralizada é mais uma forma de dar amplitude e de apoiar a agricultura familiar a partir da alimentação escolar. Com essa estratégia, foram investidos mais de R$ 50 milhões. Vale destacar que a gente já fez uma entrega superior a 2 milhões de quilos dos produtos que estavam na chamada, envolvendo ali mais de 20 empreendimentos e 3 mil famílias agricultoras. Isso é um resultado do trabalho com a base produtiva, com assistência técnica, com a mobilização e sensibilização também de estudantes, nutricionistas, gestores escolares, para que a gente possa trazer comida de verdade para a mesa da comunidade escolar e renda para o agricultor e agricultora familiar da Bahia”, comemora Osni Cardoso.

Variedade

E não é só comida ‘in natura’ que faz parte do cardápio fornecido pelas cooperativas da agricultura familiar. Na Associação dos agricultores da comunidade da Sapucaia, em Santo Antônio de Jesus, recôncavo baiano, o aipim é o carro-chefe, mas a variedade de produtos é grande.

A agroindústria instalada na associação produz diversos derivados da mandioca, desde broa de tapioca, a tapioca em si, bolos, sequilhos e o pão de aipim, que além de abastecer as escolas contempladas também é distribuído entre os agricultores cooperados.

Por mês a associação processa uma tonelada de aipim e a meta é ampliar a produção para expandir a presença nos mercados locais. Para isso, os cooperados esperam os recursos para aquisição de um baú refrigerado para o transporte da mercadoria. A associação já conta com câmara fria e máquina seladora para embalar o aipim congelado.

Em Ribeira do Pombal, a Cooperacaju reúne 700 cooperados e, há 20 anos produz frutas, verduras, ovos, entre outros itens. Mas, tudo começou com Caju e Castanha (favor não confundir com a dupla de repentistas).

A comercialização ‘in natura’ ocorre uma vez por ano, de dezembro a janeiro, período da colheita do caju. Com o passar dos anos, a Cooperacaju buscou diversificar as culturas e passou a produzir polpas de manga, goiaba e acerola, além de investir na produção de tomate, cenoura e beterraba.

Diversificação garante trabalho e renda para os agricultores da Cooperacaju, em Ribeira do Pombal
Diversificação garante trabalho e renda para os agricultores da Cooperacaju, em Ribeira do Pombal | Foto: Divulgação | Cooperacaju

A produção é distribuída para 17 municípios, com ênfase na alimentação escolar. Murilo Nunes é um dos gestores da cooperativa e conta que, apenas em 2024, a entidade forneceu mais de R$ 3 milhões em alimentos através do PNAE.

O investimento permite alcançar uma escala de produção maior e o excedente é vendido para as escolas municipais. Mas, uma parte dos produtos hoje já é comercializada para São Paulo e Portugal. Segundo Murilo, ‘há mais facilidade de vender produtos para fora do que no mercado local’. Ele atribui isso a uma questão cultural.

Segundo o gestor, os produtos da agricultura familiar, orgânicos e selecionados, têm valor agregado e muitas vezes o comércio local não está disposto a pagar um pouco mais caro por uma mercadoria sem a ‘grife’ de uma grande indústria.

Fruticultura e tubérculos também são o forte da Cooperlad, cooperativa da Lagoa de Bento e eegião, em Tucano. São 147 cooperados e 1.500 não cooperados que participam do plantio e da colheita. As polpas de frutas e o polivalente aipim são comercializados via PNAE municipal (Euclides da Cunha e Tucano) e estadual (Tucano e Araci). A cooperativa também abastece o quartel do Exército de Paulo Afonso

Foi através de uma parceria com o Banco Mundial e o Governo do Estado que a Cooperlad começou a produção artesanal de polpas, em 2008, como conta o presidente, Cristóvão Roma. Com R$ 6 milhões de investimento, sendo R$ 4,5 milhões em maquinário e R$ 1,5 milhão em irrigação, a cooperativa se expandiu.

Hoje produz polpas de caju, umbu, acerola, manga, goiaba e Cajá, tudo certificado pelo Ministério da Agricultura. Somente em 2024, a Cooperlad forneceu 30 toneladas de polpa através do PNAE estadual e hoje possui um estoque de 100 toneladas do produto, que tem marca registrada: ‘Caatinga’.

Além de fornecer para escolas e o Exército, a Cooperlad já atende a rede hoteleira local e investiu R$ 60 mil na aquisição de 30 ‘freezers’. Com prospecção para produzir 75 toneladas de polpa por mês, a entidade hoje já emprega 80 trabalhadores entre diretos e indiretos.

Galpão da Unicafes, em Itapuã, reúne e distribui a produção de 83 cooperativas
Galpão da Unicafes, em Itapuã, reúne e distribui a produção de 83 cooperativas | Foto: Divulgação | Unicafes

Escoamento

Um dos principais desafios da agricultura familiar na conquista de novos mercados é a distribuição. Para isso, as cooperativas contam com a Unicafes (União das cooperativas da Bahia).

Segundo Ícaro Rennê, presidente da entidade, que distribui os produtos de 83 cooperativas, a conquista das prateleiras dos mercados passa pela maior publicização das mercadorias oferecidas.

Do centro de distribuição localizado em Itapuã saem as entregas para toda a Região Metropolitana de Salvador (RMS). Na Ceasa do Rio Vermelho, o Empório da Agricultura Familiar oferece os produtos da agricultura familiar e os clientes também podem degustar os produtos no restaurante que funciona no local.

Rennê revela que a receita obtida pelas cooperativas junto a clientes do mercado está quase a igualando o faturamento obtido a partir do PNAE. Em 2024, foram R$ 50 milhões de faturamento proporcionado pela alimentação escolar, enquanto os mercados chegaram próximo dos R$ 40 milhões em compras.

Para avançar ainda mais, o presidente aposta na qualidade para vencer a resistência com relação ao preço. “Qualidade é o diferencial. Mais caro é relativo, a nossa polpa de fruta é 100% fruta, outras marcas são só 30%, o resto é gelo”, compara Ícaro Rennê, que3 destaca ainda o flocão 100% não transgênico e café 100% puro, ‘sem casca e sem milho’.

Esse ano, a Unicafes ampliou sua capacidade de distribuição, o que deve alavancar ainda mais as vendas para os mercados locais. Uma parceria inédita entre o Governo do Estado e os Correios foi firmada durante a Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária, em dezembro de 2024.

Essa colaboração facilita o escoamento da produção e vai permitir que os produtos cheguem a todas as regiões do Brasil e até ao mercado internacional. A parceria também inclui coleta programada nas sedes das cooperativas, envio de amostras para feiras nacionais e internacionais e personalização da logística do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Para quem ainda não conhece os produtos da agricultura familiar e deseja experimentar, os Correios também facilitam a entrega em domicílio e a Unicafes disponibiliza um catálogo (clique aqui) com os produtos das cooperativas associadas.

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Tags:

agricultura familiar cooperativas PNAE produtos orgânicos sdr

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