BAHIA
Azeite de oliva acumula alta de quase 50% em 12 meses e gera impactos
Em supermercados de Salvador, uma garrafa de 500 ml do produto extravirgem já beira os R$ 70
Por Fábio Bittencourt
A alta no preço do azeite de oliva importado no mercado interno tem interferido no hábito de consumidores e impactado o orçamento de quem é dono de restaurante. Segundo levantamento semanal (Índice de Preços ao Consumidor) realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o item acumula aumento de 7,81% no ano, e 47,5% em 12 meses. Em supermercados de Salvador, uma garrafa de 500 ml do produto extravirgem já beira os R$ 70.
Na manhã da última-sexta-feira, um exemplar da marca Borges no Bompreço do Rio Vermelho custava R$ 68,49. No Atacadão da Avenida ACM, o mesmo Borges saía por R$ 46,33; o Gallo (“clássico”), R$ 49,57; e o Andorinha (“seleção”), R$ 53,89. No Extra da Paralela, o Borges era R$ 39,09; o Andorinha, R$ 47,99; o Gallo, R$ 49,99.
No mesmo dia da cotação, o aplicativo Preço da Hora, criado pelo Governo da Bahia, mostrava que a garrafa de 500 ml do Borges havia sido comercializada 22 horas antes por R$ 33,59, no Bompreço da Boca do Rio. Como é possível concluir, a variação de preço existe e é grande.
De acordo com a educadora financeira Juliana Barbosa, a dica antes de qualquer compra é, além de ter as contas em dia, sempre pesquisar, procurar substituir por marcas mais baratas; no caso de frutas e verduras, como exemplo, dar preferência às da estação.
Daí a se deslocar para adquirir uma determinada mercadoria em um estabelecimento não habitual, isso deve depender “do custo envolvido com o deslocamento, combustível e tempo”.
Se for o caso do endereço ficar no percurso casa x trabalho (do consumidor), pode ser que valha a pena (a compra), diz ela.
Adepto do fisiculturismo e da alimentação saudável, na casa do empreendedor Daniel Pereira da Silva, 34, o filé de peito de frango agora é “grelhado” na manteiga. Apreciador de azeite de oliva, ele conta que viu o preço da marca que mais gosta “quase triplicar”.
“Eu sempre gostei do Borges, mas, de uma maneira inusitada, ele praticamente triplicou de valor. Eu olhei esses dias, quase R$ 60 a garrafa, superando inclusive o Andorinha. Para segurar o gasto, passei a grelhar com manteiga, e uso o azeite só para a salada. Antes era em tudo, cozinhar, na salada. Mas ficou muito caro, um absurdo os preços”, fala.
Para o chef português Gonçalo Ramirez, 52, à frente de dois restaurantes lusitanos (em Salvador e no Morro de São Paulo), e onde são consumidos entre 15 e 20 litros de azeite por semana, a importância do insumo é “sobremaneira”. “Na culinária portuguesa, mediterrânea, muitas receitas nascem do azeite, e sua combinação com alho, (folha de) louro vai em muitos pratos”, conta.
O polvo à lagareiro e o (lombo de) bacalhau à lavrador, por exemplo, são dois carros-chefes nos restaurantes comandados pelo chef, que levam bastante azeite no preparo. Nesses casos, os ingredientes são confitados, ou, cozidos lentamente a baixa temperatura (menos de 80 graus), praticamente submerso em gordura (azeite), sem com isso fritar, explica.
Impacto no bolso
“O impacto causado pela alta do azeite e outros insumos, especialmente no pós-pandemia, tem impactado fortemente o bolso de consumidores e donos de restaurante. O sucesso de qualquer receita está diretamente ligado à qualidade dos ingredientes, na ordem de até 70%, e depois é o chef”, afirma.
Ramirez destaca, no entanto, que o azeite utilizado para cozinhar possui acidez um pouco maior (entre 1% e 1,5%) do que o extravirgem (entre 0,3% e 0,5%) utilizado na salada, e que por isso é mais em conta. “Mas as pessoas devem ficar atentas (ao preço do azeite), porque realmente é algo muito presente na maioria dos lares”.
“O (azeite extravirgem) que vai em cima da mesa está na faixa de R$ 65 e logo vai estar em R$ 100. Lembrando que o utilizado na cozinha é diferente, é semivirgem. Esse está mais barato. A dica é comprar de grandes fornecedores, atacadistas. Dono de bar e restaurante não tem como absorver esse custo, que está valendo para a cebola roxa, tomate. O preço do limão está um absurdo”, diz Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha).
Segundo o chefe de departamento no Escritório Econômico e Comercial da Embaixada da Espanha no Brasil, Alberto Reguera, o preço do azeite de oliva no mercado internacional não tem data para baixar. Ele ressalta que mudanças climáticas e secas tem afetado algumas das principais áreas produtoras, como Espanha, Portugal e Itália.
Ainda segundo ele, dados do Conselho Oleícola Internacional (COI) apontam que, em relação à temporada anterior, as safras de 2021/2022 e 2022/2023 diminuíram 25% (até 2,57 milhões de toneladas) e 6% (até 2,4 milhões toneladas), respectivamente.
A Espanha é o principal produtor e exportador mundial de azeite de oliva, responsável por cerca de um terço da produção global e 43% das exportações mundiais. Já o Brasil é o quinto maior importador de azeite de oliva do mundo, com US$ 589 milhões importados em 2023. Os principais fornecedores são Portugal (61% do valor), Espanha (15%), Argentina (8%) Chile (7%) e Itália (6%).
“Com o aumento dos preços no último ano, houve um aumento no valor das importações de 9%, enquanto o volume das importações caiu 27%, para 80,4 milhões de kg, a níveis semelhantes aos de 2018”, afirma Reguera.
Professora do curso de medicina da Unifacs, a nutricionista Mirela Carvalho lembra que o azeite é um composto de óleo fonte de lipídios, gorduras mono e poliinsaturadas, moléculas que ajudam a manter o perfil (lipídico) de gordura saudável no organismo. Segundo ela, as funções dos lipídios vão desde fornecer caloria (energia ao corpo), veicular outros nutrientes, como vitaminas A,D, E e K, produzir enzimas, até melhorar o sistema nervoso.
A professora, contudo, destaca que o azeite de oliva mantém as propriedades inalteradas quando utilizado cru, como em saladas. E que, quando aquecido, sofre saturação, sendo preferível nesses casos empregar um óleo de milho, girassol, canola ou algodão. “A questão é que a palatabilidade do azeite é melhor”, pontua.
“Pensando em custo, o abacate é bem mais em conta, e a produção tem aumentado. Sementes de linhaça, de melancia, esta rica também em cálcio. O valor do alimento está associado muito à variedade (da dieta), a uma alimentação diversificada. É variedade e equilíbrio”, fala.
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