ELETROCUSSÃO
Bahia é líder em mortes por choque elétrico
Nos últimos 30 dias, pelo menos oito pessoas morreram no estado, devido a acidentes com eletricidade
Por Jane Fernandes
Pelo menos oito pessoas morreram na Bahia em acidentes com eletricidade nos últimos 30 dias, um indício da permanência entre os líderes em óbitos por descargas elétricas. No ano passado, o estado esteve no topo do ranking da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), com 61 mortes desse tipo, uma média de cinco registros mensais.
A Abracopel não tem um levantamento centrado nos motivos para a posição de destaque da Bahia, que fechou 2023 com 9 mortes a mais do que o Rio Grande do Sul (2º colocado) e 12 mortes acima do total registrado em São Paulo, que ocupa a terceira posição. No Brasil, 674 óbitos foram provocados por choque elétrico.
“A Bahia é um estado muito grande territorialmente, com cidades espaçadas, e as informações talvez não cheguem em todos os locais; e vemos também uma baixa preocupação das pessoas com o risco com eletricidade. Isso acontece no Brasil inteiro, mas quando você vai indo para o interior fica pior, o pessoal acaba achando que é normal fazer isso, que não tem problema, pensa ‘sempre fiz assim’ e acaba acontecendo acidentes”, analisa o diretor da Abracopel, Edson Martinho.
Segundo o levantamento da Associação, os 61 casos com desfecho fatal representam 73,5% do total de 83 acidentes com choque elétrico registrados no estado. Entre as mortes computadas, 17 foram causadas por ocorrências em residências, e 27 resultaram de contato com a rede aérea de distribuição de energia. Os dois locais com maior incidência desses acidentes letais concentram 44 (72%) dos 61 óbitos.
No início deste mês, um casal foi eletrocutado no município de Araci (200 km de Salvador) após o homem receber uma descarga. Renovaldo Jesus atingiu a fiação da casa vizinha ao bater um prego, usando martelo, na parede de casa. Betânia Santana tentou puxá-lo e acabou também recebendo um choque fatal. O procedimento é contraindicado pelos especialistas em eletricidade e saúde.
Na última terça-feira, uma mulher de 48 anos morreu após tomar choque em uma máquina de lavar, em São Sebastião do Passé. Ela chegou a receber atendimento do Samu, mas não resistiu. Entre os casos que chegaram à mídia baiana este ano, também chama atenção o jovem morto em Ibipeba, quando uma cerca ficou acidentalmente eletrificada; e um homem que morreu por choque em Boa Nova, enquanto pintava a fachada de uma loja.
Incêndios
O diretor da Abracopel alerta que temos, em todo o país, uma média de quatro acidentes com eletricidade por dia, dois deles sendo fatais. Importante lembrar que os curto-circuitos por sobrecarga são ainda mais comuns do que os choques elétricos. No ano passado, a entidade identificou 963 incêndios por sobrecarga no Brasil, com 67 mortes resultantes deles.
O tenente Péricles Menêses, do Corpo de Bombeiros, observa que nas áreas mais pobres, as sobrecargas frequentemente estão associadas a instalações elétricas mal dimensionadas ou muito antigas. “Com o passar do tempo, esses fios vão perdendo a condutividade que tinham de ter, perdendo o isolamento que deveriam ter e pode ocasionar um incêndio por isso”, adverte.
“É assustador porque a eletricidade em geral é controlável. Eu diria que 99% dos acidentes poderiam ser evitados com poucas coisas, e essas poucas coisas são pequenas informações, do tipo, eletricidade mesmo que seja uma tomada de 110 volts, se você levar um choque você morre”, alerta Martinho. Entre os descuidos comuns, ele cita o uso de extensões, fios desencapados ou mal isolados, “que as pessoas vão deixando para resolver depois, até ter um acidente, muitas vezes fatal”.
Gerente de Saúde e Segurança da Neoenergia Coelba, Hugo Vidal aponta as ligações clandestinas, popularmente chamadas de gatos, como principal fator de risco para acidentes com eletricidade. “É crime previsto no artigo 155 do Código Penal Brasileiro e pode causar graves acidentes, com quem faz o ‘gato’, com quem está próximo e com a família dessas pessoas”, enfatiza.
As intervenções em instalações elétricas, seja reparo, ampliação ou melhoria, feitas por um profissional sem a qualificação adequada também estão entre os principais geradores de descargas e sobrecargas, segundo Vidal. Ele acrescenta a conexão e desconexão da tomada de equipamentos - a exemplo de videogames, notebooks e smartphones - feito por crianças.
Para fechar a lista, o gerente ressalta os cuidados necessários para garantir instalações seguras nas chamadas áreas molhadas: copa, cozinha e banheiro. “Essas áreas precisam ter - mandatoriamente, conforme norma - aterramento elétrico e instalação do DR, o disjuntor diferencial residual”, explica. Simplificando a função do DR: o disjuntor vai suspender o fornecimento de energia quando houver falha nos equipamentos e/ou instalações.
Edson Martinho conta que a Abracopel deve fazer um novo levantamento este ano sobre o uso do DR e cita dados de 2017, quando apenas 21% das residências brasileiras contavam com o disjuntor diferencial residual. Quando esta última pesquisa foi realizada, a norma que torna a instalação obrigatória estava completando 20 anos, ou seja, ela está vigente desde 1997.
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