EXCLUSIVO
“Busco justiça, não vingança”, diz jovem torturado em supermercado
Jeremias fala da violência sofrida nas mãos de seguranças e busca por apoio para planos de vida
Por Da Redação
O jovem Jeremias Capistrano, de 19 anos, que foi agredido por seguranças dentro de um supermercado da Rede Carrefour, em Salvador, disse ao Portal A TARDE que busca por justiça, não vingança. A declaração foi dada nesta terça-feira, 16.
Os acusados que aparecem em imagens de vídeo atacaram Jeremias e Jamile após uma suspeita de furto de quatro pacotes de leite. O caso aconteceu na manhã de sexta-feira, 5, quando a dupla foi agredida e xingada a todo o tempo pelos funcionários, dentro de um estabelecimento da rede.
“A busca [por justiça] é para que isso não venha a acontecer com mais ninguém, que ninguém tenha que passar por aquilo que aconteceu comigo. Ninguém merece passar pelo que passei. Fiquei com medo, disseram [os seguranças] que iam me matar”, contou Jeremias.
O jovem ainda recorda o momento de tensão vivido ao não ser levado para uma delegacia. Ao invés disso, foi puxado pelos seguranças para um espaço dentro do supermercado, onde foi agredido com barras de ferro, tapas no rosto e ofensas homofóbicas. A violência sofrida ainda é tratada pela ótica do racismo estrutural presente na sociedade brasileira.
“Fiquei assustado. Achei que ia parar na mão da Justiça, não ser espancado. Bateram com barra de ferro nas minhas pernas, mandaram ficar agachado, abrir as pernas, só para chutar as minhas partes íntimas”, lembrou Jeremias.
A defesa de Jeremias quer a prisão dos envolvidos nos ataques ao casal, além das responsabilização da Rede Carrefour pelos fatos, ao considerar que os funcionários faziam parte do quadro da empresa.
O jovem está na busca da primeira oportunidade de emprego, uma chance para recomeçar e ajudar a família com o aluguel da casa, a alimentação. Ele ainda espera por apoio de entidades e instituições sociais que atuam na Bahia, com o objetivo de fazer com que o seu caso não “caia no esquecimento”.
Relembre o caso
No vídeo do último dia 5, uma mulher afirma que se chama 'Jamile'. Ela justifica que furtou porque precisava levar leite para a filha. Mesmo confessando, 'Jamile' chega a levar tapas no rosto e é xingada por um dos suspeitos: "tire a mão sua d*sgr*ça”. O segurança também diz: “Tá ligado que aqui tem polícia, né?”.
Já o homem que acompanhava 'Jamile', se identificou como 'Jeremias' e diz no vídeo que é morador de Itapuã. Os agressores ainda forçam o rapaz a falar o nome da mãe, é chamado de “vi*do” e agredido com socos no rosto.
A equipe de segurança e o gerente da unidade do Carrefour, que ainda funcionava como Big Bompreço, foram demitidos no dia do acontecimento, depois do grupo tomar conhecimento do caso.
Resposta
Procurada pelo Portal A TARDE, a Rede Carrefour fez um comunicado oficial. Veja na íntegra:
"Assim que tomamos conhecimento do caso lamentável, empenhamos de forma imediata todos os esforços para apurar o ocorrido e tomar todas as medidas cabíveis. A primeira delas e fundamental foi, de forma proativa, realizar uma denúncia de agressão e lesão corporal à Polícia Civil, para que esse crime inaceitável seja rigorosamente apurado. Esta denúncia foi registrada eletronicamente, com número de protocolo 2023/0000257096-0, e encaminhada à 12ª Delegacia Territorial - Itapuã.
Esta medida reforça o nosso compromisso de sermos incansáveis no combate a qualquer tipo de violência.Em um vídeo que mostra o fato, é possível identificar que o agressor tem uma tatuagem na mão. No avanço das nossas investigações internas, apuramos que nenhum profissional direto ou indireto que atua na unidade tem essa tatuagem. Mesmo assim, não podemos aceitar que um crime como esse tenha ocorrido em nossas dependências.
Por isso, na própria sexta-feira (5/05), desligamos a liderança e equipe de prevenção da loja. Reforçando nossa tolerância zero com a violência, inclusive nos cargos de gestão. Além de rescindir o contrato com a empresa responsável pela segurança da área externa, onde a violência ocorreu. Assumimos a nossa responsabilidade e tomamos medidas rápidas e duras.
É inadmissível que qualquer pessoa seja tratada desta maneira. É um crime, com o qual não compactuamos. Estamos buscando o contato das vítimas para nos desculparmos pessoalmente, além de oferecer suporte psicológico, médico ou qualquer outro apoio necessário."
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