ATIVIDADE MINERAL NA BAHIA
CBPM projeta desafio do aproveitamento de resíduos da mineração
Presidente da companhia, Antonio Carlos Tramm, aponta que o resíduo é de 'importância transcendental'
Por Rafaela Souza
Tendo em vista a discussão acerca da utilização dos resíduos da mineração e de uma cadeia produtiva para o setor, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral promoveu mais uma edição do ‘CBPM Convida’ nesta quinta-feira, 30, no Centro Administrativo da Bahia (CAB). O evento contou com a participação da pesquisadora do Senai Cimatec e doutora em Gestão e Tecnologia Industrial, Luara Batalha, do vice-presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Paulo Misk, e do CEO da Tombador Iron, Gabriel Oliva.
Em entrevista ao Portal A TARDE, o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm, afirmou que o debate sobre o aproveitamento de resíduos é importante para uma maior sustentabilidade para a atividade mineral e o desenvolvimento socioeconômico da Bahia. Nos dois primeiros meses de 2023, a comercialização de minérios da Bahia, registrou crescimento de 50% em relação ao mesmo período de 2022. De acordo com dados do Sumário Mineral de março, produzido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) nos meses de janeiro e fevereiro, o número foi de R$ 1,8 bilhão.
"O resíduo é de uma importância transcendental para continuação da mineração. A mineração não pode estar só escavando e fazendo resíduo. O pessoal do ouro, por exemplo, escava e tira milhões de toneladas para ter um aproveitamento máximo de 3,03% e o resto fica lá. Então, o que nós estamos conversando é que as empresas e o governo tem que se mentalizar para o aproveitamento desse resíduo, que pode ser usado na construção civil, entre outras coisas.A gente não pode deixar que isso fique para daqui a 30, 40 anos porque o aproveitamento do resíduo vai gerar empresas, emprego, renda", pontuou.
Segundo Tramm, o cenário de possibilidades em relação à destinação adequada dos resíduos é promissor, mas precisa de incentivo por parte das empresas e do governo. Ele aponta que a questão também depende de uma 'mudança de comportamento'. "As pessoas tem que ver o resíduo como produto e não como lixo", disse.
Os resíduos gerados pela mineração podem ser usados em diversos setores, sendo eles: construção civil, agricultura, indústria química, pavimentação e cosméticos. Ainda de acordo com o presidente da CBPM, a companhia se comprometeu a participar de um plano de governança da gestão de resíduos minerais que está sendo desenvolvido pelo Governo da Bahia, por meio de uma comissão formada pela autarquia e secretarias estaduais, como a Secretaria do Planejamento (Seplan) e Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE).
Redução dos impactos
A pesquisadora do Senai Cimatec e doutora em Gestão e Tecnologia Industrial, Luara Batalha, falou sobre os resultados da pesquisa acerca da reutilização de resíduos do mármore bege bahia nas cidades de Ourolândia e Jacobina, no centro-norte da Bahia. A iniciativa buscou desenvolver soluções tecnológicas (produtos e processos) para os estoques remanescentes (blocos e pó) de extração, beneficiamento e polimento, considerando o possível potencial de contaminação.
"Desde 2018, a gente vem em parceria com as empresas que exploram o mármore bege bahia em Ourolândia e Jacobina. O intuito é dar uma destinação ambientalmente adequada para esses remanescentes e, para isso, é interessante que a gente possa usá-los em outras indústrias como insumos para ter uma economia circular. O que é remanescente de uma indústria vira insumo de outra e a gente atende as de várias indústrias ao mesmo tempo com esses projetos", explicou.
Segundo a pesquisadora, a medida impactou mais de 60 empresas do setor e contribuiu para a redução dos impactos ambientais. Quanto às perspectivas de aproveitamento dos resíduos na Bahia, a pesquisadora destacou que é necessário o interesse do mercado para a realização de estudos econômicos e de viabilidade econômica.
“É importante que haja interesse do mercado como um todo, no sentido de abraçar essa ideia da gente pensar destinações adequadas aos remanescentes de outras empresas.
O impacto é que se a gente passa a usar um remanescente de uma indústria em outra a gente não precisa explorar matéria prima. A gente tem o respeito e manutenção dos habitats naturais, por exemplo, além da redução de emissão de CO2.
Consciência
Para o vice-presidente da Federação das Indústrias da Bahia (FIEB), Paulo Misk, antes de discutir as alternativas para o aproveitamento dos resíduos, é preciso falar também da relevância da mineração para o desenvolvimento socioeconômico no Estado. Isso porque, segundo ele, a atividade mineral tem a vocação de ‘melhorar a vida do homem’ e possibilitar que iniciativas tecnológicas sejam desenvolvidas, a exemplo das turbinas geradoras de energia eólica.
“Eu acho que a mineração precisa ter muita consciência do papel dela, muita determinação para executar e cumprir a sua vocação. A Bahia sempre foi muito apoiadora da mineração e sabe os benefícios que ela traz para o interior do estado, para a economia, para as pessoas, mas é preciso que as pessoas entendam como a mineração funciona e como ela fornece todos os materiais e metais que a gente precisa para as nossas vidas. Essa é a vocação da mineração: melhor a vida do homem, seja com as coisas mais básicas, como construir uma casa, ter uma ferramenta para trabalhar ou ter um transporte. Isso tudo faz parte do que a mineração fornece”, argumentou.
“Agora, as novas tecnologias também. O mundo não vai ficar mais verde se a gente não tiver matérias primas para construir geradores eólicos, baterias para energia renovável. Esse é o papel da mineração. Então, o que é importante falar aqui é como fazer isso de uma maneira que impacte menos o meio ambiente”, acrescentou.
Assim como a pesquisadora Luara Batalha, o vice-presidente da Fieb ressaltou a cadeia produtiva em relação ao aproveitamento de insumos nas indústrias. Para ele, a destinação de rejeitos, a exemplo do titânio, é importante para a criação e ampliação da economia.
“O efeito do aproveitamento de resíduo talvez não seja tão expressivo por enquanto, só para dar um exemplo, a Largo Vanádio de Maracás vai começar a produzir titânio no meio do ano a partir dos rejeitos, do que já foi extraído da natureza. Isso vai ter a mesma relevância que o vanádio. Não é um subproduto, ou uma coisinha pequenininha, vai ter a mesma importância em termo de faturamento, E o Brasil importa titânio, 70% do titânio usado. É o pigmento branco das tintas, cerâmicas, plástico. A Largo vai conseguir produzir a partir dos rejeitos, ou seja, impacto devido às novas minas será zero”, completou.
Nova presidência
Além da destinação dos resíduos, a mudança na presidência da companhia também foi abordada pelo atual presidente da CBPM durante o evento. Como foi antecipado pelo Portal A TARDE no último dia 20, o vereador Carballal (PDT) deve assumir o cargo nas próximas semanas.
“Cabe a mim desejar grandes votos de sucesso e dizer que nós estamos entregando a ele uma empresa bem diferente do que a gente recebeu em 2019. Eu recebi uma empresa que o Governo colocava dinheiro todo mês para sustentar. Agora, estou entregando uma empresa que está no terceiro ano que o governo não coloca um tostão. Pelo contrário, as nossas rendas vão para um caixa único. Estamos entregando uma empresa com investimentos e pesquisas programadas, além da possibilidade de criar ainda este ano uma nova província mineral na Bahia com a extensão de 100 km. Então, tudo isso é uma alegria e esperamos que haja continuidade desse trabalho”, declarou.
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