JUSTIÇA
'Chacina Uber': famílias das vítimas se emocionam em início de júri
Pai de vítima acredita que suspeita do caso será condenada, mas não supera perda do filho
Por Bianca Carneiro e Leo Moreira
Após quase quatro anos do crime, acontece na manhã desta quarta-feira, 19, no Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora, em Salvador, o júri popular que irá julgar a travesti 'Amanda', apontada como uma das autoras da chamada “Chacina Uber”, quando quatro motoristas de aplicativo foram brutalmente assassinados no dia 13 de dezembro de 2019, na localidade de Santo Inácio, no bairro de Mata Escura, em Salvador.
Para os familiares, que esperam o resultado, a ansiedade é grande. Ao Portal A TARDE, Antônio Lázaro, pai de Alisson Silva Damasceno dos Santos, um dos motoristas assassinados, disse acreditar que Amanda será condenada. No entanto, ele não consegue esquecer a perda do filho.
“O que a gente queria era ele aqui com a gente, infelizmente não vai poder estar mais, mas a justiça vai ser feita”, afirmou. “É saudade, muita saudade, muita dor, muita lembrança. Era um menino bom, menino trabalhador. Deixou uma filhinha de 5 anos. A menina está com 8 anos hoje [...] É uma dor que fica, a saudade não passa”, continuou ele, emocionado.
Alisson trabalhava a pouco tempo como motorista na Uber - apenas seis meses. De acordo com Antônio, após o crime, a empresa chegou a prestar assistência e pagou o seguro de vida. O contato não se prolongou, mas ele considera que foi melhor assim.
“Nunca mais ‘entrou’ em contato com a gente, nem nada. Mas é melhor assim, a gente quer esquecer, entendeu? Um episódio ruim que aconteceu”, afirmou.
Além de Alisson, Daniel Santos da Silva, Genivaldo da Silva Félix e Sávio da Silva Dias também foram assassinados. Apenas Nivaldo dos Santos Vieira sobreviveu. Na época, o caso chocou o país pelos requintes de crueldade aplicados contra os motoristas das plataformas “Uber” e “99”.
Representantes de grupos de motoristas de aplicativos também estiveram presentes no Fórum, para acompanhar os desdobramentos do caso e lutar por mais segurança durante as corridas. Segundo Vick Passos, da Cooperativa Mista de Motoristas por Aplicativo (Coopmap), as plataformas de transporte não facilitam o debate. Ele reclama que as plataformas chegaram a firmar um compromisso de fazer a identificação das áreas de risco, mas que isso ainda não foi feito.
“As empresas só abrem diálogo quando estão em crise, quando ‘está’ com a mídia em cima. No ano de 2022, nós tivemos 43 motoristas assassinados no Brasil e 8 foram na Bahia”, destacou.
Para Vick, uma possível condenação de Amanda pela chacina em Salvador pode ajudar a refrear crimes contra os motoristas de aplicativo.
“Uma punição severa hoje pode fazer as pessoas pensarem antes de fazer alguma coisa contra os motoristas. Vamos pedir pena máxima, porque é o mínimo que se pode fazer de justiça para essas famílias que estão aqui sofrendo ainda com tudo que aconteceu”, afirmou.
Trâmites
Por volta das 8h15, foi realizado o sorteio dos jurados. Dos 29 candidatos, foram escolhidos sete, que ajudarão na definição de uma possível pena para Amanda, cujo nome de batismo é Benjamim Franco da Silva Santos.
O motorista Nivaldo dos Santos Vieira, único sobrevivente da chacina, compareceu ao julgamento sob forte escolta policial. Ele é considerado a principal testemunha do caso.
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