ESTELIONATO E LAVAGEM DE DINHEIRO
Escândalo do Pix: Marcelo Castro e editor são indiciados
Jornalista foi demitido em meio a escândalo do desvio de doações na Record TV Itapoan
Por Bianca Carneiro, Daniel Genonadio e Leo Moreira
O repórter Marcelo Castro e o editor Jamerson Oliveira foram indiciados pela Polícia Civil pelos crimes de estelionato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Eles são investigados há meses pelo chamado "Escândalo do Pix", após denúncias de desvios de doações destinadas a pessoas carentes em um programa da RecordTV Itapoan. Além deles, outro homem, apontado como amigo de infância de Castro e responsável por receber os valores desviados, também foi indiciado. Apesar do indiciamento, ainda não há um prazo para a conclusão do inquérito policial que investiga o caso.
"Eu posso informar que dois indiciados são jornalistas e trabalham na área de imprensa da emissora. Nesse momento, estou dando por indiciado também o amigo de infância de um deles", explicou o delegado Charles Leão, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber).
O delegado contou que sempre quando questionava às vítimas sobre o responsável por fornecer a chave pix ou por estipular o valor, a resposta se referia ao jornalista responsável pela reportagem.
>> Delegado detalha investigação do 'Golpe do Pix' na RecordTV Itapoan
"Todos os depoimentos informam que era o jornalista que dizia. Todos informam que a chave pix era fornecida por ele. Surge também para nós a história do relacionamento do amigo de infância com o jornalista. Eu até tento facilitar, perguntar a ele qual a relação comercial. Será que os empréstimos são para justificar movimentações financeiras? Perguntei ao jornalista, disse que emprestou a 30% por juros ao mês. Tem algum documento? Não. Tem alguma testemunha? Conseguiu esse dinheiro como?", questionou o policial.
Charles Leão detalhou como o golpe foi descoberto. Segundo as investigações, foi a própria RecordTV Itapoan que identificou o golpe após alerta do ex-jogador do Bahia, Anderson Talisca, que havia doado R$ 70 mil para ajudar o tratamento de uma criança com câncer.
"A empresa detectou a fraude. Os elementos que tinha naquele momento era que uma das pessoas, no caso do jogador de futebol...É necessário remeter esse procedimento ao Ministério Público, até para fim de maior transparência para que um promotor de Justiça possa analisar e até mesmo produzir denúncia ou não. Eu sei que as pessoas querem logo um final, eu também quero, mas eu tenho esse compromisso com a verdade”, frisou.
Ao serem indiciados, Marcelo Castro, Jamerson Oliveira e o terceiro participante foram apontados pelo delegado de polícia como possíveis autores ou partícipes do crime. O indiciamento ocorre após serem reunidos elementos suficientes que apontem para a autoria da infração penal. No entanto, não houve pedido de prisão para os indiciados até o momento.
Vítimas tiveram medo de denunciar
No entanto, o delegado informou que nem todas as vítimas foram ouvidas ainda. Ele citou outros dois casos também envolvendo doações para crianças em situações de vulnerabilidade social.
"Tem mais dois casos que ainda não ouvimos a vítima. Um caso de uma criança de três anos, que tem problemas de rim, que teve diminuída sua chance de tratamento. Também tem um caso em uma cidade a 400 km de Salvador. É o caso de uma mãe que tem o filho, uma criança autista queimada. São essas pessoas que são as vítimas, pessoas em estado de vulnerabilidade. São crianças com câncer, com casos de hidrocefalia", disse o delegado.
Charles Leão disse que muitas vítimas tiveram medo de denunciar. Ele pediu a colaboração e prometeu ação da polícia em proteger contra possíveis intimidações.
"Relataram para mim que tiveram medo (as vítimas), mas não chegou pra mim nada objetivo. Posso falar de forma objetiva. Se obstruir a Justiça, só me resta pedir a prisão de quem tiver essa conduta. Se você se sentir intimidada, me procure na delegacia", frisou.
Relembre o caso
A DreofCiber, responsável pelas investigações do caso do 'escândalo do pix', apura a existência de pelo menos 15 casos relacionados a arrecadação de doações para pessoas em estado de vulnerabilidade social em campanhas divulgadas na emissora de televisão."Nos procuraram mais duas pessoas e nem todas (as vítimas) foram ouvidas.
Apesar de não serem citados nominalmente pelo delegado, o repórter Marcelo Castro e o editor-chefe do Balanço Geral, Jamerson Oliveira, foram alvos de investigações decorrentes de denúncias de fraudes cometidas por meio de transferências bancárias, do tipo pix, de valores que seriam doados à pessoas em situação de vulnerabilidade social.
No dia 31 de março, a Record TV Itapoan demitiu Castro e Jamerson. O repórter havia acabado de retornar das férias.
Além dos dois suspeitos, mais pessoas são investigadas no inquérito, cujas atividades de inteligência policial, laudos periciais e informações de outras instituições complementam as apurações.
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