EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Escolas investem em ações práticas para formar cidadãos proativos
Emergência climática já é uma realidade e precisa ser enfrentada
Por Priscila Dórea
A emergência climática deixou de ser algo abstrato ou uma questão a ser enfrentada ‘no futuro’. As recentes enchentes e inundações no Rio Grande do Sul provam isso - o clima é uma preocupação atual, presente no cotidiano da população, e por isso, se deve agir agora. Na educação, a atitude é igualmente urgente. Não é de hoje que a preservação do meio ambiente é tema debatido em sala de aula, mas o cenário atual e as perspectivas assustadoras para o futuro breve têm intensificado a adoção de atividades e projetos nas escolas, para além da teoria - é preciso começar a colocar em prática o aprendizado.
“A escola é o reflexo da nossa sociedade, então nada mais justo e necessário do que discutir sobre desenvolvimento sustentável dentro dela”, afirma a estudante do 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Thales de Azevedo (Costa Azul), Sílvia Vivanco. Diretora de Saúde e Meio Ambiente do Grêmio Estudantil, Sílvia foi uma das criadoras do projeto ‘Xô Desperdício!’, que, através de campanhas e diálogo, visa diminuir o descarte de alimentos na escola. “E a cultura do desperdício está em tudo que consumimos em excesso, a questão é reeducar o cidadão”, argumenta.
A atual Jornada Pedagógica da rede de ensino estadual da Bahia se baseia nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados pela ONU e que devem ser alcançados até 2030 - oito deles estão ligados à preservação do meio ambiente. “E todos os projetos criados no colégio precisam, de forma efetiva, trabalhar com algumas dessas ODS. Sempre levando em consideração que a teoria é importante, mas se você apenas fala, esses conceitos podem ser perdidos”, explica o professor de Biologia do Thales de Azevedo, Ramon Duran.
Entre os diversos projetos que organiza e orienta - e são muitos com os alunos do ensino técnico -, Ramon traz como exemplo o ‘Praia Limpa, Praia Linda’, em que estudantes recolhem lixo das praias, estudam os riscos de cada item coletado, reciclam e apresentam suas análises para o corpo estudantil. “Quando você consegue levar o estudante para a prática, essa teoria vai ficar sedimentada. A discussão sobre a preservação do ambiente tem que fazer o aluno arregaçar as mangas e produzir“, afirma o professor.
“Todo ensino poderia ser pautado na prática”, afirma a ativista ambiental, jornalista e permacultora, Débora Didonê, gestora do movimento ‘Canteiros Coletivos’ - voltado à criação e transformação de áreas verdes de convívio. “A teoria é um embasamento e guia, mas a prática é o que ajuda a gente a fazer, conhecer e sentir. Então, não adianta a gente falar ‘plante a árvore’, e não vivenciar o plantio de uma árvore. Acho que quanto mais se faz, mais a teoria vai sendo absorvida, vivida e recriada”, explica.
Bioperfil 2024
Nas últimas semanas, os alunos e professores do Colégio Perfil (Vilas do Atlântico) arregaçaram as mangas para apresentar possíveis soluções, estudos fotográficos, cartilhas, aplicativo e até documentários como resultado do projeto ‘Bioperfil 2024’, uma jornada científica que tem o Rio Sapato como objeto de estudo. Professor de Geografia da instituição, Paulo Vitor Mascarenhas explica que trazer a temática ambiental para dentro da sala de aula é aproximar o aluno da realidade atual.
“Conscientiza o aluno sobre suas ações e consequências, tendo em vista que as ações climáticas que estão ocorrendo atualmente em nosso País, por exemplo, são reflexos das nossas ações”, pontua o professor. O projeto enfatiza a importância da conscientização ambiental para desenvolver cidadãos responsáveis e proativos, afirma a coordenadora do Colégio Perfil, Renata Souza Barreto. “Nós promovemos uma educação que transcende o currículo formal e inspira a consciência de ser um cidadão do mundo”, explica.
Ações práticas, argumenta Renata, fomentam habilidades como o pensamento crítico e a resolução de problemas, “o que é essencial para enfrentar os desafios ambientais atuais e futuros”. Ela acrescenta que a escola cultiva “uma educação que acompanha o estudante ao longo de sua existência”.
Professor de Ciências e pai de Saulo Lucas, do 8º ano do Colégio Perfil, Alexandre Lucas Lima da Silva conta que é importante também que essa conscientização aconteça em casa. Na deles, por exemplo, energia elétrica é gerada por placas solares, e uma minicomposteira ajuda a cuidar de plantas e hortas. “A educação ambiental se faz pelo exemplo, e plantamos essa semente em busca do equilíbrio de nossas ações no meio em que vivemos”, afirma Alexandre.
Já na casa da procuradora federal Luciana Velloso Guimarães Sodré, mãe de Maria (5 anos) e Pedro (6 anos), estudantes da Escola Girassol (Itaigara), separar reutilizáveis e recicláveis, fechar a torneira ao escovar os dentes e desligar a luz ao sair do ambiente são exemplos de práticas trazidas da escola e que se tornaram automáticas para as crianças, apesar da pouca idade.
Em 2024, a Escola Girassol está com o projeto ‘Cabe todo mundo no mundo’, que tem como subtema ‘O que não cabe mais no mundo?’, explica a professora do Laboratório de Ciências, Raiana Raquel Serra Soeiro, que busca conscientizar sobre o uso e o descarte adequado dos resíduos. “Nas aulas práticas promovemos reflexões a partir de vídeos que sensibilizam os estudantes, e ações são propostas para minimizar o nosso impacto no ambiente”, explica. As atividades já vêm trazendo resultados concretos na casa de Luciana.
“Não tem muito tempo meu filho me perguntou se eu poderia comprar garrafa de suco biodegradável, enquanto minha filha começou a recolher garrafas plásticas que estavam na areia da praia. Nova geração e boas perspectivas. Na minha época de estudante, a educação ambiental era muito incipiente, mas hoje é um tema tratado de forma contínua e constante, fazendo parte do dia a dia deles em diversas searas”, explica a procuradora.
Outra grande diferença é a maior participação de jovens em grandes fóruns ambientais mundiais e nacionais, aponta a professora dos cursos de Urbanismo, Turismo e Hotelaria, e do programa de pós-graduação em Estudos Territoriais da Uneb, Lirandina Gomes. “A exemplo dos jovens de diversos países presentes na ONU, onde debatem o futuro do planeta e cobram dos líderes internacionais ações efetivas para reduzir a degradação ambiental, a pobreza e a desigualdade. Lá, eles manifestam ideias e propostas que podem influenciar futuras decisões políticas relativas às questões ambientais”, explica.
Antigamente, aponta a pedagoga do programa A TARDE Educação, Berta Cunha, havia a ênfase em aprender sobre ecossistemas de forma mais passiva. Hoje, o ensino é impulsionado por uma urgência climática e a necessidade de ação imediata. “No contexto da crise climática e possível escassez de insumos básicos, aliados ao negacionismo das mudanças ambientais drásticas, a educação ambiental se torna ainda mais crucial. Ela é um contraponto vital para as informações enganosas e serve para fortalecer a base científica e a responsabilidade coletiva entre os jovens”, afirma.
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