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Estudo detecta aumento de nova geração de superbactérias em hospitais

Resultado acende alerta das comissões de controle de infecção hospitalar

Publicado domingo, 16 de julho de 2023 às 21:03 h | Autor: Da Redação
Taxa de detecção dessa enzima em um grupo de bactérias (enterobactérias) quase sextuplicou em sete anos, de 4,2% para 23,8%, entre 2015 e 2022, com pico na pandemia de Covid-19
Taxa de detecção dessa enzima em um grupo de bactérias (enterobactérias) quase sextuplicou em sete anos, de 4,2% para 23,8%, entre 2015 e 2022, com pico na pandemia de Covid-19 -

O aumento de uma enzima ligada a uma nova geração de bactérias multirresistentes em hospitais do país, acende o alerta das comissões de controle de infecção hospitalar. É o que demonstra, pela primeira vez, um estudo brasileiro. Publicado na revista Clinical Infectious Diseases, o estudo brasileiro foi financiado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), dos Estados Unidos, e faz parte de um projeto internacional para aprimoramento da detecção e do conhecimento sobre resistência bacteriana.

Denominada de metalobetalactamase New Delhi (NDM-1), a enzima foi isolada pela primeira vez em 2009 na Índia e até agora já provocou surtos por lá e também no Paquistão e na Inglaterra. Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos também registraram aumento de casos.

No Brasil, a NDM já tinha sido encontrada, porém nunca quantificada. De acordo com a publicação, a taxa de detecção dessa enzima em um grupo de bactérias (enterobactérias) praticamente sextuplicou em sete anos, de 4,2% para 23,8%, entre 2015 e 2022, com pico na pandemia de Covid-19.

A NDM faz parte de um grupo robusto de enzimas produzidas por bactérias, as carbapenemases, que representam atualmente uma ameaça global à saúde pública devido aos altos níveis de resistência aos antibióticos atuais. Outra muito conhecida é a KPC, Klebsiella pneumoniae, responsável por vários surtos em hospitais brasileiros e do mundo.

Uma hipótese é que o cenário de hospitais superlotados, profissionais despreparados e o uso indiscriminado de antibióticos tenham contribuído para o aumento. O estudo demonstra ainda que, entre 2020 e 2022, houve alta de 65,2% da detecção de enterobactérias e de 61,3% da Pseudomonas aeruginosa no total de amostras isoladas.

Outras pesquisas já haviam detectado que até 94% dos pacientes infectados com Covid-19 foram submetidos a antimicrobianos em hospitais durante a pandemia. Porém, muitas dessas indicações podem ter sido desnecessárias porque se tratava de quadros virais e não bacterianos.

Um exemplo é a Europa, já que mesmo com a redução do uso de antibióticos, a resistência bacteriana também aumentou entre 2019 e 2020.

Uma estratégia tem sido voltar a usar antibióticos mais antigos, como a polimixina, que, embora mais tóxicos, mostraram-se eficazes no combate a algumas dessas bactérias resistentes. O grande problema é que até eles estão perdendo a guerra.

No Brasil, foram testadas mais de 80 mil bactérias do banco de dados do sistema público de informações laboratoriais. A enzima KPC continua a mais frequente, com taxa de detecção de 68,6% entre as enterobactérias, enquanto a NDM teve 14,4%.

A NDM teve um aumento percentual anual de 41,1% entre as enterobactérias e de 71,6% entre as P. aeruginosa. Já a KPC apresentou uma queda de 4% no primeiro grupo de bactérias e uma alta de 22%, no segundo.

O projeto também tem outras frentes de ação nas áreas de educação, de treinamento e capacitação dos centros para a melhoria da testagem nos laboratórios públicos de microbiologia.

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