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Passeio Público serve de estacionamento ao ar livre

Publicado sexta-feira, 20 de março de 2009 às 00:00 h | Autor: Alexandre Santos, do A TARDE

Alvo de degradação por parte de vândalos e moradores de rua, o Passeio Público de Salvador enfrenta agora outro grave problema: está sendo utilizado como um grande estacionamento público. A situação é denunciada por frequentadores do espaço,  que, diariamente, são obrigados a conviver com a presença de dezenas de veículos ocupando calçadas e meios-fios.

“Há muito tempo isso aqui virou o estacionamento de quem vem para o Centro. Todo mundo  coloca o carro aqui. O pessoal que vem para o teatro [Vila Velha] e para o Conselho Estadual de Cultura. Agora, tem um detalhe: a maioria desses veículos pertence a oficiais do Quartel dos Aflitos”, revela um funcionário do Palácio da Aclamação, que, temendo represálias, preferiu não ter o nome revelado. Ele conta que nem mesmo os dois seguranças têm poder para barrar a entrada de automóveis no local, por medo de sofrer retaliações. “Sempre foi assim, e não são eles que vão conseguir mudar”, diz.  

Os carros estão  por toda a parte, conforme constatou a reportagem de A TARDE em visita ao local. Muitos ocupam canteiros e boa parte das calçadas de pedras portuguesas. “As pessoas não respeitam nem mesmo as árvores, estacionando os carros em cima das raízes”, relatou um vigilante, também sem querer se identificar.

O Departamento de Comunicação Social (DCS) da Polícia Militar admite que tanto os oficiais quanto os “praças” que são lotados no Quartel dos Aflitos guardam seus carros no Passeio Público, mas pondera que, se o caso for visto como agressão ao patrimônio público, a PM irá colaborar com o que for proposto para sua preservação. “Se houver a necessidade de um  processo de valorização do local, com certeza, vamos cooperar também”, disse o capitão Pitta, chefe da unidade de imprensa da corporação.

CONTRADIÇÃO – Ao tentar descobrir quem poderia impedir o uso indevido do Passeio Público como estacionamento, A TARDE apurou informações contraditórias. Apesar de estar  localizado numa área anexa ao Palácio da Aclamação, edificação tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac),  o Passeio Público seria responsabilidade do poder municipal, responsável pela limpeza do espaço, segundo a assessoria de comunicação do próprio órgão estadual. Por conta disso, de acordo com assessoria do Ipac, o Passeio Público não pode ser tombado como patrimônio imaterial do Estado, tal qual o palácio.

Já a museóloga Juciléia Cerqueira, única pessoa encontrada para tratar do assunto no Palácio da Aclamação, diz o contrário. Confirmou que a prefeitura executa serviços de limpeza e poda de árvores no local, mas respondeu que o Estado é quem de fato  responde por sua conservação. “Estou apenas há um mês e meio aqui. Fizemos até um levantamento para saber as principais dificuldades do passeio. Mas, se existe algum responsável, deve ser o  Ipac”, declarou.  

Conforme Juciléia, a segurança no espaço é responsabilidade do Palácio da Aclamação. Ainda assim, muitos frequentadores reclamam da presença de usuários de drogas e da falta de manutenção do local.  “Venho aqui para tentar relaxar, ver o verde, ler... mas sou obrigada a presenciar gente usando drogas e dormindo pelos bancos”, queixa-se a enfermeira Karina Cerqueira.  

Reforma – A última vez que o Passeio Público passou por reforma foi em 1990. Na ocasião, seus bens foram catalogados e registrados, com a identificação botânica de todas as espécies vegetais das 55 árvores ali existentes (15 espécies diferentes entre nativas e exóticas), grande parte plantada antes mesmo da inauguração da área, em 1810.

O Passeio Público foi inaugurado em 1810 por dom Marcos de Noronha e Brito, então governador da Bahia (1810-1918), e transformou-se num importante espaço de lazer e local onde aconteciam grandes festas populares. O terreno foi adquirido em 1803 pelo governador da Bahia na época, Francisco da Cunha e Menezes. Em 1815, foi inaugurado no Passeio Público o primeiro monumento lápide da Bahia: um obelisco de forma piramidal, em mármore português, comemorativo da passagem do príncipe regente (dom João VI) e da família real portuguesa por Salvador em 1808.

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