FESTIVAL DE SAVEIROS
Bordejo dos saveiros reúne centenas de pessoas no último dia de festa
Evento durou três dias e aconteceu em São Felix, com o objetivo de evidenciar a importância da embarcação
Por Leilane Teixeira
Enquanto os saveiros balançavam no mar em uma frequência de vai e vem, os movimentos também traziam as memórias afetivas de Maria Rita, turista que saiu de Salvador para prestigiar o bordejo que aconteceu neste domingo, 26, durante o Festival de Saveiros do Recôncavo - Festa Náutica 2023, realizada em São Felix, Recôncavo da Bahia.
Emocionada dentro da embarcação, a bibliotecária Maria Rita falou em entrevista ao Portal A TARDE o quão gratificante foi poder participar do festival e que, graças a ele, pôde reviver a infância na época em que morava no distrito de Coqueiros, em Maragogi.
"É maravilhoso estar aqui, poder participar desse evento que é o Festival de Saveiros, que eu tenho a memória afetiva muito grande. Eu sou do distrito de Coqueiros de Paraguaçu, que é um distrito de Maragogipe, e assim, eu vivenciei na minha infância idas e vindas desses saveiros, de coqueiros para outras regiões do Recôncavo. Por isso, é maravilhoso para mim, é bom poder participar deste evento aqui neste festival. Me sinto honrada, me sinto muito grata em poder participar de um evento tão aqui no Recôncavo, em São Félix. E com certeza pretendo voltar outras vezes. Esta região é um local que sempre viemos visitar para relembrar as memórias e aqui é um ponto turístico que sempre gosto de vir, e agora, com esse festival, vou vir sempre nesta época", disse.
O evento iniciou na sexta-feira, 24, com programação que se estendeu no sábado, 26, e seguiu até o último domingo, 26, quando aconteceu o bordejo dos saveiros pelo rio Paraguaçu, momento mais esperado não só para os turistas, mas também para os moradores da região. O poeta local Jonas Sumaúma, aproveitou a ocasião para recitar seus versos em alto e bom som reforçando a beleza de São Félix através dos saveiros.
"São Felix é mais bonito do que o Rio de Janeiro. Independente da Maré, se pesca o ano inteiro, para celebrar a cultura, eu faço a literatura no Festival de Saveiros" recitou o jovem.
Força histórica
Não é difícil entender o porquê das mais de 8 mil pessoas presentes no festival e a espera ansiosa de centenas de populares que esperavam o momento de embarcar nos saveiros.
Segundo o historiador e professor Fábio Batista, existe um relação muito forte e íntima com a presença dos saveiros na região porque essas embarcações foram pontes de troca fortemente presentes na infância de muitos moradores da região. Segundo ele, o Festival de Saveiros do Recôncavo volta a fortalecer a atividade dos saveiristas reforçando a sua importância e a luta para que essas embarcações não acabem.
"O Recôncavo baiano, a Bahia de Todos os Santos e Saveiros de Vela de Sá são identidades que se completam porque todo processo de dinâmica econômica de um recôncavo é muito relacional. Nós temos o recôncavo açucareiro, nós temos o recôncavo tabagista, o cerâmico, pesqueiro, urbano, industrial... E ao longo dos séculos nós temos o Saveiro articulado a essa dinâmica. São mais de quatrocentos anos que essa embarcação foi adaptada e acabou transformando nessa nessa expressão, que, de fato, mobiliza muito a memória. Porque era principal meio de transporte na década de 70, 80", disse.
Ainda em entrevista ao Portal A TARDE, Fábio, alerta ainda sobre o declínio devido às mudanças econômicas na região e faz um alerta de que os saveiros estão acabando e explica o que é necessário fazer para que essa extinção não se torne um realidade.
"Os Saveiros estão acabando e o que é preciso fazer pra que Saveiros não não acabe? É preciso eh um trabalho de patrimonialização do Saveiro, mas essa patrimonialização do Saveiro passa por algumas estratégias: Discussão entre o IPHAN e o IPAC têm agora que discutir a preservação dos saveiros; abrir linhas de crédito para os saveiritas cuidarem da manutenção dos barcos; verificar o licenciamento de madeiras com o IBAMA e disponibilizar a concessão de títulos DR Honoris Causas aos saveiristas”, pontuou.
De 1.200 embarcações, atualmente a Bahia tem apenas 22 saveiro, com tamanho diversos podendo chegar a 18 metros e suportar até 15 toneladas.
De geração para geração
Presente no último dia do evento, o saveirista mais antigo da região, Lourival Almeida, de 88 anos, celebrou com orgulho o evento e relembrou, emocionado, um pouco da sua história ao longo dos 60 anos de profissão.
"Foi um amor que herdei do meu pai. Ainda pequeno eu já entrava nas embarcações e o acompanhava. Até que fui crescendo e seguindo a mesma rota, rota essa que eu segui por 60 anos. É um festival ainda recente, mas que reforça, e faz com que as pessoas saibam da importância dos saveiros aqui pra comunidade e para todo o recôncavo", disse.
Trilhando a mesma rota, o saveirista Bira Portugal ainda não chegou nos 60 anos de profissão, mas, já se vê quase lá. Ao longo de mais de 20 anos fazendo e comandando as embarcações, seu amor foi disseminado em um projeto direcionado para crianças, para que elas também possa, assim como ele, conhecer e aprender a fazer saveiro. Segundo ele, é uma forma de fazer com o que a tradição não morra.
"Meu primeiro saveiro eu tinha a 17 anos quando fiz, pois não tinha condições de comprar um. Aproveitei e fiz um em homenagem a meu pai, e depois outros três, mantendo a tradição. Eu tenho uma escolinha de nautimodelismo em Jaguaripe através da prefeitura e incentivo da Associação Viva Saveiros. A gente ensina aí os jovens de dezesseis anos ou mais e até menores com pinturas".
Expectativas para o próximo ano
O idealizador do festival, Wandick Vieira, celebrou o sucesso da 2ª edição do festival e garantiu que os próximos passos serão dados na busca pelo tombamento dos saveiros.
“O festival não é apenas uma festa qualquer, mas é um festival que tem um proposito, um objetivo de resgatar a memória e preservar este tipo de embarcação, valorizando a sua salvaguarda como patrimônio do nosso estado, além de fomentar o turismo náutico baiano”.
Já seu sócio e produtor do evento, Marcio Soares, cobrou que o os órgão governantes atuem de forma célere nesse processo de patrimonialização, reconhecendo o interesse cultural e histórico.do festival e dos saveiros.
Apoio da prefeitura
Presentes no festival, o prefeito de São Felix, Alex Sandro Aleluia, e o vice-prefeito, Bartolomeu Pereira, o "Bartinho", reafirmaram a importância do evento e garantiram apoio também nas próximas edições, confira.
Além do Bordejo dos Saveiros pelas Águas do Paraguaçu, durante os três dias de festa houve uma rica programação cultural, educativa e de cunho social, com limpeza das margens do Rio Paraguaçu, plantio de árvores, palestra, Feira de Artesanato, Economia Criativa e Agricultura Familiar, encontros de esportes náuticos, exposição de carros antigos e shows musicais.
Confira abaixo alguns trechos do bordejo dos saveiros pelo rio Paraguaçu.
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