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Epidemia silenciosa: em Salvador, mais de 35% das crianças e jovens estão com excesso de peso

Epidemia global de excesso de peso envolve fatores genéticos e de comportamento, como o sedentarismo e o alto consumo de ultraprocessados

Priscila Dórea

Por Priscila Dórea

31/08/2025 - 9:09 h
Carolina Farias Perelo de Almeida com a filha Laura Farias
Carolina Farias Perelo de Almeida com a filha Laura Farias -

Um desafio diante de uma epidemia global, ligada normalmente a um estilo de vida sedentário (com o excesso de telas) e ao consumo de alimentos ultraprocessados, o combate à obesidade infantil exige um esforço em conjunto da sociedade e o comprometimento da família.

De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde, 35,8% das pessoas entre 0 e 19 anos em Salvador estão com excesso de peso – uma porcentagem maior até que a nacional, que é de 32,8%. Para mudar esse cenário, especialistas apontam que a prevenção e o cuidado precoce são as regras para combater a obesidade.

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Fatores genéticos, ambientais, sociais e comportamentais podem causar a obesidade, porém esse último possui uma influência grande.

“Uma alimentação rica em açúcar, gordura e sódio, e o consumo excessivo de alimentos processados, são os fatores que mais prejudicam as crianças nesse contexto. É preciso ter cuidado com a criação do chamado ambiente obesagênico: é responsabilidade dos pais não criar um ambiente repleto de alimentos que não fazem bem”, explica a nutricionista pediátrica e materno-infantil, Kelley Adriana Gonçalves.

Nutricionista no Hospital da Obesidade (HDO) – que possui um programa completo e interdisciplinar para tratar a obesidade e doenças correlacionadas em todas as idades –, Kelley afirma que o número de jovens com sobrepeso têm aumentado nos últimos anos.

"E o tratamento precisa envolver a família, assim como precisa considerar as individualidades de cada criança, pois elas estão em fase de crescimento. Tudo isso com muita ludicidade também”, explica.

Kelley Adriana Gomes Gonçalves, nutricionista pediátrica
Kelley Adriana Gomes Gonçalves, nutricionista pediátrica | Foto: Shirley Stolze/ Ag. A TARDE

Paciente do HDO, foi Arthur Dias, de 11 anos, que falou com a mãe, a servidora pública Gabriela Mendes, sobre o hospital.

“Extravasamos nas férias de 2019 e engordamos, sabe? O objetivo era emagrecer com a volta da rotina, mas veio a pandemia e a rotina mudou. Chegamos a melhorar a alimentação em casa e fomos ao pediatra, mas Arthur não emagrecia e já havia começado a ouvir comentários de coleguinhas, o que começou a incomodar ele. Então, um dia, um carro do HDO passou por nós, ele me mostrou e perguntou: Mamãe, será que isso funciona mesmo?”, recorda Gabriela.

O menino chegou ao hospital com esteatose hepática tipo 1 (gordura no fígado) - “uma doença de adulto”, enfatiza a mãe. No hospital, além de ser acompanhado por endocrinologista, nutricionista e psicóloga, ele participa de atividades educacionais e físicas.

“Ele está mais maduro. Conversamos muito e isso é importante, porque a mudança tem que partir da família também. O tratamento da obesidade em crianças tem que começar cedo, para que os resultados venham logo, pois as consequências à saúde a curto, médio e longo prazo são inúmeras”, alerta Gabriela.

Gabriela Mendes com o filho Arthur Dias Mendes
Gabriela Mendes com o filho Arthur Dias Mendes | Foto: Shirley Stolze/ Ag. A TARDE

Diagnósticos que uma criança com sobrepeso pode ter

  • Esteatose hepática
  • Diabetes tipo 2
  • Doenças cardiovasculares (hipertensão e colesterol alto)
  • Apneia do sono
  • Doenças respiratórias
  • Problemas ortopédicos

Hábitos e ambiente

Para além de fatores relacionados aos hábitos e ao ambiente, situações de estresse podem contribuir para a obesidade infantil, aponta a psicóloga e docente de psicologia da Wyden, Edilma Silva.

“Crianças que vivem situações estressantes, como conflitos familiares, separação, luto, ausência de afeto ou violência podem recorrer à comida”, explica.

Psicanalista e psicoterapeuta, Carolina Farias é mãe da Laura, de 12 anos, que tem uma história diferente da maioria das outras crianças obesas. Foi após uma cirurgia, aos 9 anos, para retirar um crâniofaringioma (tumor cerebral), onde seu hipotálamo (área responsável por regular a fome e emoções) foi lesionado e ela desenvolveu obesidade hipotalâmica.

“Com o sensor da fome comprometido, ela passou a sentir fome constante, sem distinguir entre necessidade real e vontade de comer. O corpo deixou de produzir diversos hormônios essenciais, e isso trouxe consequências logo após a cirurgia: ela entrou na UTI com 34 kg e dez dias depois saiu com 12 kg a mais”, recorda Carolina.

Para agravar a situação, a condição de Laura exige o uso contínuo de corticóides, que contribuem para o ganho de peso. Em tratamento no HDO, Laura chegou à instituição com um laudo que afirmava que ela poderia infartar antes dos 15 anos.

“O tratamento que ela faz no HDO vai desde consultas com psicóloga e nutricionista, até atividades físicas e sociais, onde ela conversa com outras crianças e elas se apoiam. O caso dela é raro e mais complicado que outros, mas o fato é que a obesidade ser um problema de saúde pública ainda é pouco aceito na sociedade. As pessoas obesas precisam de ajuda”, afirma.

A própria Carolina tem obesidade e já precisou passar por uma cirurgia bariátrica. “E desenvolvi ainda na infância, entre a idade de 10 e 12 anos. Hoje eu sei que, se houvesse a oportunidade de me tratar como hoje minha está sendo cuidado, não precisaria ter sofrido tanto ao longo da vida. Cuidar da obesidade infantil é salvar vidas, porque você pode poupar as crianças de alguns sofrimentos futuros. E estou falando também dos impactos psicológicos e emocionais", afirma Carolina Farias.

“Quando a gente fala de tratamento, eu diria que a palavra deveria ser prevenção”, afirma a endocrinologista do HDO, Dandara Reis, salientando que prevenir é mais fácil do que tratar.

De acordo com o Sisvan, 32,6% dos soteropolitanos entre 0 e 4 anos estão com sobrepeso, e 32% daqueles entre 6 meses e 2 anos já consomem alimento ultraprocessados.

“A gente percebe que é preciso atuar em uma rede familiar, não só na criança, mas também com quem cuida dessa criança. Conversar sobre a obesidade ainda na idade gestacional”, sugere.

O envolvimento da família é o ponto-chave
Taiane Cazumbá - nutricionista e professora

“Quando os pais cozinham, comem juntos à mesa e dão o exemplo de escolhas saudáveis, a criança absorve esses hábitos de forma natural e positiva. O ato de cozinhar em família e fazer as refeições juntos, sem a distração de telas, fortalece a relação com a comida e torna o processo mais prazeroso e eficaz. Com o aumento do uso de telas, as crianças passam menos tempo brincando ou praticando esportes”, explica.

Mãe de Melinda Lefundes, de 4 anos – que está saudável e com o peso ideal para a idade –, a assistente administrativa Jane Souza conta que a escolha de matricular a filha na natação foi, primeiro, pela segurança (na piscina e no mar) e para tirar ela do sedentarismo das telas.

“Queríamos que ela fizesse uma atividade para extravasar, sabe? Ela é muito ativa e sociável, e sabemos o quanto as telas hoje são um problema, então procuramos uma atividade divertida, Ela come de tudo um pouco, mas tem muita energia para gastar e eu, como uma pessoa que foi uma criança obesa, sei o quanto isso é importante”, reflete a mãe.

Além da natação, Melinda anda de bicicleta, acompanha os pais em corridas e até já fez aulas de Zumba Kids que, assim como a natação, ela faz na Academia Podium, que possui inúmeras atividades voltadas para crianças, explica a professora de educação física da Podium, Dalila Bastos.

“O número de casos de obesidade infantil é crescente e isso só coloca em evidência a importância da atividade física. Hábitos saudáveis são a melhor estratégia. E isso tem que começar cedo, pois não é um problema que devemos resolver depois”, alerta.

Dalila Bastos professora, Jane Souza, mãe de Melinda Lefundes
Dalila Bastos professora, Jane Souza, mãe de Melinda Lefundes | Foto: Shirley Stolze/ Ag. A TARDE

Problema gera impactos psicológicos nas crianças

Relacionada ao ambiente em que a criança vive, a obesidade infantil é um fator de risco para inúmeras doenças crônicas, mas também diagnósticos psicológicos. Além dos impactos fisiológicos, os danos emocionais são profundos, como bullying, exclusão social e baixa autoestima, o que pode desencadear quadros de depressão e ansiedade.

A prevenção, portanto, não é opcional, é urgente – e exige uma ação conjunta da sociedade. “O bullying por aparência física é uma das formas mais cruéis de violência psicológica na infância”, afirma a mestre em psicologia Edilma Silva.

Além de eliminar a autoconfiança, o bullying por aparência afeta o rendimento escolar e pode deixar marcas duradouras, explica a psicóloga.

“Isso facilita o surgimento de transtornos mentais como o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), transtorno de ansiedade social, depressão, transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), bem como os transtornos alimentares, como: compulsão alimentar, bulimia e anorexia nervosa”, explica Edilma Silva, apontando ainda que a forma como os pais abordam alimentação e imagem corporal pode moldar profundamente a autoestima e os hábitos de vida dos filhos.

Cuidados

“Os pais precisam transformar a comida em aliada e não em vilã. Evitando rótulos e julgamentos sobre alimentos, assim como não usar comida como punição ou recompensa, pois isso pode criar uma relação emocional com a comida que pode gerar compulsão ou culpa. É importante também valorizar o corpo pela funcionalidade, não pela aparência, mostrando que todos os corpos merecem respeito e cuidado. Fale sobre saúde com leveza. Acolha as emoções sem associá-las, incentive atividades físicas. Converse sobre redes sociais, filtros e padrões irreais. Mostre que beleza é diversa e que o valor de alguém vai muito além da aparência”, aconselha a psicóloga aos pais.

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Tags:

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