SAÚDE
Samu na BA: o que muda com as novas ambulâncias e cidades atendidas
Serviço chega a 100% do estado após 18 anos: veja as novas cidades atendidas
Por Ana Cristina Pereira

No ano em que completa a maioridade na Bahia, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) finalmente chegou a todas as regiões do estado. Moradores de municípios da Chapada Diamantina, última sem cobertura do programa, passaram a contar com o serviço 192 desde o final de março, quando mais 35 ambulâncias foram destinadas ao estado pelo Ministério da Saúde - somando um total de 232 unidades.
“Com essas novas unidades, completamos a universalização da cobertura regional do Samu”, afirmou à época a secretária estadual de Saúde, Roberta Santana, destacando que a expansão só foi possível pela união entre Governo Federal, Estado e municípios. Segundo o Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde (COSEMS/BA), o Samu agora alcança 333 municípios baianos, com uma cobertura populacional de 91%.
Entre as novas cidades atendidas estão Lençóis, Mucugê, Piatã, Itaberaba, Abaíra, Iaçu e Nilo Peçanha. “Nosso objetivo é a universalização do Samu em toda a Bahia para que toda a população esteja coberta pelo serviço”, reforça Stela Souza, presidente do COSEMS. Ela explica que o conselho trabalha em parceria com a Sesab para viabilizar os recursos financeiros para estruturação do serviço, cessão de ambulâncias, parte do custeio e dimensionamento das equipes de trabalho.
Além da expansão, as novas unidades estão ajudando a renovar a frota de Feira de Santana e Salvador, que receberam, respectivamente, 4 e 17 ambulâncias na última remessa. As da capital chegam simbolicamente no ano em que o SAMU completa 20 anos, no dia 18 de julho, com uma média de 300 atendimentos diários realizados nas 62 ambulâncias, triados entre as mil ligações que chegam à Central de Regulação.
Leia Também:
Rapidez e tecnologia
Coordenador do Samu em Salvador desde o começo, o médico Ivan Paiva Filho, especialista em urgência e emergência, diz que a ampliação está atrelada à grande demanda do serviço - que conta também com 8 motos e duas lanchas para atender às Ilhas de Maré, dos Frades e de Bom Jesus - e engloba dez cidades.
“O serviço foi sendo ampliado progressivamente, garantindo a segurança da população”, pontua Ivan Paiva, lembrando que nestas duas décadas a rede pública ganhou novas unidades básicas de saúde e hospitais, aumentando a complexidade do atendimento. Ele também destaca a modernidade dos equipamentos das ambulâncias, nas quais é possível realizar procedimentos como massagem cardíaca mecânica, ultrassonografia e tomografia, entre outros.
“Em casos de acidente nós conseguimos saber, com precisão, se houve alguma lesão interna, com sangramento”, detalha o médico, acrescentando que o SAMU é referência no socorro às pessoas que sofrem um Acidente Vascular Cerebral (AVC) - uma das maiores demandas locais.
Segundo o médico, a especificidade do atendimento causa até uma certa confusão, pois as pessoas, de maneira geral, acham que a ambulância deve deixar o local da ocorrência o mais breve possível. Ele explica que, na verdade, o mais importante é estabilizar o paciente, e saber que unidade de saúde pode recebê-lo adequadamente - tanto na rede pública quanto na particular.
Dor de barriga e trote
Filtrar os atendimentos é um dos grandes desafios do SAMU, que recebe todo tipo solicitação, passando por febre, dor de cabeça, dor de dente e até problemas com animais. Nove médicos trabalham na Central de Regulação em Salvador, para identificar os casos que precisam de atendimento de urgência e mandar uma ambulância. “Em muitos casos orientamos que a própria pessoa se dirija a uma unidade de saúde, mas sabemos que muitos não têm nem o dinheiro para o transporte”, lamenta.
Segundo o médico, os acidentes de causas externas são responsáveis apenas por 25% dos chamados. “Somos muito solicitados para atender idosos, vítimas de AVC e mulheres em trabalho de parto”, detalha doutor Ivan, acrescentando que cerca de 10% dos chamados estão relacionados a problemas mentais. Nesse mar de chamados, as equipes precisam driblar a avalanche de trotes que tomam tempo e tiram a chance de alguém com um problema real ser atendido.
No ano passado, foram 51 mil trotes contabilizados, que tiram o sossego dos atendentes e médicos que realizam a triagem. Apesar de alto, no começo eles foram ainda mais frequentes. Além de um grande número de crianças, que ligam para brincar, os trotes são passados por pessoas criminosas que querem atrapalhar o sistema ou por indivíduos com problemas mentais. Tem ainda homens que ligam a noite para falar obscenidades às atendentes.
“Os trotes representam cerca de 20 % a 30% das ligações que recebemos por dia e tiram a saúde dos nossos profissionais”, pontua Ivan. Para barrá-los, o órgão investe em campanhas educativas, como a Samu nas Escolas, para tentar conscientizar os pequenos. Nos casos das pessoas reincidentes, o Samu trabalha junto com o Ministério Público para identificar e punir as pessoas.
Histórias de vida
Nessas duas décadas em Salvador e Região Metropolitana, o Samu fez diferença na vida de muita gente, em momentos de dor e tensão, como do ex-músico Beto Falcão, 54 anos, e da aposentada Marilúcia dos Santos Oliveira, de 75. Beto teve um AVC Isquêmico depois de uma apresentação em 2019, no bar do Galego, em Mussurunga. Já era quase meia-noite quando caiu no chão e uma pessoa presente, que era da área de saúde, sugeriu ligar para o 192.
Beto lembra que foi tudo muito rápido e quando chegou no hospital Roberto Santos já tinha recebido a medicação anticoagulante. Apesar de não ter voltado a tocar e ainda seguir com as sessões de fisioterapia, ele já recuperou boa parte dos movimentos e não teve comprometimento cerebral. “Os médicos disseram que a rapidez no atendimento fez toda a diferença. Foi determinante para eu estar aqui hoje”, afirma Beto .
O caso de dona Marilúcia foi ainda mais complexo, pois era um domingo chuvoso de Carnaval e a família estava em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. Ela também sofreu um AVC, em 2022, e precisou ser trazida para Salvador em um helicóptero do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer), acionada pelo Samu depois do atendimento na Unidade Básica de Saúde de Cairu.
Filha de Marilúcia, Joelma Márcia dos Santos estava ao lado da mãe e diz que a rapidez o bom atendimento foi também foram determinantes. “Ela passou mal às 5h da manhã e às 11h já estava no hospital em Salvador. Minha mãe nasceu de novo, ficou com uma sequela motora do lado direito, mas está bem”, diz Joelma, agradecida.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes