Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > BAHIA
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

EXPANSÃO URBANA

Urbis foi estratégica no crescimento das cidades baianas

Fundada há 60 anos, empresa de economia mista, hoje em liquidação, entregou mais de 90 mil habitações

Por Alan Rodrigues

14/02/2025 - 7:00 h
Obras dos Conjuntos Habitacionais Cabula VI e Saboeiro, construídos pela Urbis e destinados a servidores estaduais.
Foto: AGECOM
Obras dos Conjuntos Habitacionais Cabula VI e Saboeiro, construídos pela Urbis e destinados a servidores estaduais. Foto: AGECOM -

Alguns dos maiores e mais populosos bairros de Salvador surgiram a partir dos conjuntos habitacionais erguidos pela URBIS, Habitação e Urbanização da Bahia. A empresa criada em 4 de janeiro de 1965 entregou mais de 90 mil unidades habitacionais em pouco mais de três décadas.

Desde 1998 a empresa se encontra em processo de liquidação e a partir de 2002 todos os contratos foram considerados quitados. O desafio da empresa hoje é regularizar a posse de cerca de 40 mil imóveis e equacionar débitos acumulados que beiram os R$ 130 milhões.

Mais que urbanização, o programa promoveu acesso à moradia para trabalhadores de baixa renda e apontou vetores para o crescimento das cidades. Em Salvador, o primeiro conjunto erguido foi o de Sete de Abril, com 500 moradias, no ano de 1967.

Castelo Branco, Cabula, Saboeiro, Alagados, Mussurunga, Doron, Itapagipe, imbuí, Pirajá, Valéria, Vista Alegre de Coutos, Boca da Mata, Solar Boa Vista, Engenho Velho de Brotas, Paripe, Periperi e Ilha Amarela são outras localidades onde a Urbis deixou sua marca.

Mas, nada se compara ao complexo que engloba Cajazeiras e Fazenda Grande. Numa área de 22 milhões de metros quadrados, 21.984 residências foram construídas, beneficiando mais de 100 mil pessoas. Ao todo, foram 91.282 unidades construídas em 67 cidades da Bahia. Depois de Salvador, Feira de Santana reúne a maior concentração de casas e apartamentos, em bairros como Jomafa e Feira X, seguida de Vitória da Conquista e Camaçari.

Invasão

Na cidade da Região Metropolitana, os conjuntos da Urbis deram origem às ‘glebas’, lotes delimitados para implantação dos projetos com total infraestrutura de comércio e serviços. Inicialmente, os imóveis construídos nas glebas eram destinados a trabalhadores do recém-implantado pólo petroquímico de Camaçari, no final dos anos 70 e início dos anos 80.

Uma das maiores é a Gleba C, com 1,7 mil residências. E entre as primeiras moradoras está Cecília Maria da Conceição, 62. Hoje secretária do colégio de tempo integral Gonçalo Muniz, na Gleba C, ela chegou do Ceará aos 17 anos com a mãe, que vinha aventurar emprego no complexo industrial.

A mãe retornou com os filhos para o estado de origem, sem emprego, mas Cecília resolveu tentar mais uma vez. Conseguiu emprego em um supermercado e foi morar de aluguel no Bairro dos 46, quando ouviu falar Urbis. “Era para trabalhadores do pólo, mas os de Salvador não queriam”, recorda.

Quando soube dos planos de ocupação das unidades construídas, não pensou duas vezes. Um grupo se formou para pleitear a posse dos imóveis junto ao governador de então, Antônio Carlos Magalhães. Não apenas não foram recebidos como ACM ainda determinou a desocupação com uso de tropas do Exército.

Os manifestantes, com apoio daquele que viria a ser prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, resistiram e conseguiram convencer o governo a fazer um cadastramento e distribuir as casas e apartamentos.

“Foi onde eu construí minha vida, meus filhos nasceram, se criaram, tenho muito orgulho de morar na Gleba C”, diz Cecília.

Cecília veio do Ceará aos 17 anos, criou 3 filhos e vive até hoje no imóvel da Urbis na Gleba C, em Camaçari.
Cecília veio do Ceará aos 17 anos, criou 3 filhos e vive até hoje no imóvel da Urbis na Gleba C, em Camaçari. | Foto: Acervo pessoal

Alagados

O orgulho de Cecília é compartilhado por uma arquiteta de 77 anos, que há 54 anos, em fevereiro de 1971, saiu da faculdade direto para trabalhar na Urbis. Cristina Ventura Araújo ajudou a projetar alguns dos bairros mais populosos de Salvador.

Ainda no ginásio, que hoje equivale ao fundamental II, a jovem estudante despertou para a grande necessidade de um projeto de habitação popular. O colégio Santa Bernadete, pertencente à mesma Ordem de Irmã Dulce, promovia ações comunitárias no bairro de Alagados. “Eu pensei, eu quero fazer é isso”, lembra Cristina, que ingressou na Urbis como fiscal de obra.

Palafitas nos Alagados despertaram interesse de futura arquiteta em habitação popular
Palafitas nos Alagados despertaram interesse de futura arquiteta em habitação popular | Foto: Flickr | governodabahiamemoria

Já na função de arquiteta, ajudou a conceber os conjuntos de Cajazeiras, Fazenda Grande, Saboeiro, Boca da Mata, além de tantos outros pelo interior do estado. Hoje aposentada, ela tem consciência da importância da Urbis para a urbanização e, sobretudo, o acesso à moradia e lamenta o fim das atividades. “Era uma empresa que tinha tudo para não acabar”.

Liquidação

Atualmente, a gestão da Urbis está focada na regularização fundiária. Mutirões têm sido realizados por todo o estado. Apenas nos últimos dois anos, mais de 5.300 escrituras foram entregues, totalizando 50 mil famílias com a posse definitiva de suas casas. Cerca de 40 mil aguardam conclusão.

Miguel Mendes, gerente da Urbis, cita outro empecilho para a liquidação da empresa, que se arrasta há 26 anos. A Urbis possui um passivo de R$ 94 milhões em processos trabalhistas, cíveis, execuções judiciais e débitos de IPTU acumulados nas 67 cidades onde existem conjuntos da Urbis.

Além disso, a empresa tem um débito de R$ 35 milhões em empréstimos contraídos com aval do Governo do estado, o que torna a previsão de liquidação em 2027 pouco provável.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

Habitação popular Urbanização da Bahia Urbis 60 anos

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Obras dos Conjuntos Habitacionais Cabula VI e Saboeiro, construídos pela Urbis e destinados a servidores estaduais.
Foto: AGECOM
Play

Motociclista morre em grave acidente com ambulância na BR-324

Obras dos Conjuntos Habitacionais Cabula VI e Saboeiro, construídos pela Urbis e destinados a servidores estaduais.
Foto: AGECOM
Play

Advogado assassinado na Bahia denunciou ameaças em vídeo; assista

Obras dos Conjuntos Habitacionais Cabula VI e Saboeiro, construídos pela Urbis e destinados a servidores estaduais.
Foto: AGECOM
Play

Vídeo: advogado é morto a tiros dentro de carro em Conceição do Coité

Obras dos Conjuntos Habitacionais Cabula VI e Saboeiro, construídos pela Urbis e destinados a servidores estaduais.
Foto: AGECOM
Play

Operação da PF mira desvios de objetos postais que somam quase R$ 300 mil

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA