BRASIL
Aumenta o número de mortes por queda entre a população idosa
Um aumento significativo também foi registrado na Bahia
Por Jane Fernandes
O número de mortes por quedas entre idosos quase dobrou no Brasil, passando de 4.816 em 2013 para 9.592 em 2022, segundo dados do Ministério da Saúde. As estatísticas são referentes às quedas da própria altura, quando a vítima está com os pés no nível do solo e acaba caindo. Um aumento significativo também foi registrado na Bahia, em proporção um pouco maior do que a média nacional.
Registros da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) mostram um total de 311 óbitos por queda do mesmo nível em 2013, e 680 em 2022, um incremento de 118% em uma década. No ano retrasado, cerca de 17% dessas mortes foram decorrentes de escorregões, tropeções ou passos falsos, especificações pertinentes a 10,9% dos óbitos por queda da própria altura de 2013.
Atualmente, esse tipo de queda é a terceira causa de mortalidade entre pessoas acima de 65 anos. Em todo país, foram 70.516 óbitos em uma década (2013 a 2022), 5.052 delas ocorreram na Bahia.
O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seccional Bahia, Lucas Kuhn, ressalta a alta ocorrência de quedas entre os idosos, apontando que cerca de 30% deles caem uma vez por ano, e o percentual aumenta para 50% quando são considerados apenas aqueles acima de 80 anos. “Aqueles que caem são pacientes de altíssimo risco, porque 60% a 70% voltam a ter quedas de novo”, alerta.
Entre os fatores que fazem esses acidentes serem tão recorrentes entre os idosos, o geriatra cita a perda de massa muscular e algumas doenças mais comuns nessa faixa etária, que acabam alterando o equilíbrio.
“O sedentarismo é muito alto no envelhecimento. Se já tem uma perda natural de massa muscular com o envelhecer, o sedentário perde mais, então ele tem menos força muscular e menos equilíbrio”, reforça.
O equilíbrio ainda é impactado negativamente, acrescenta Kuhn, pela presença de doenças osteoarticulares, como as artroses, as doenças neurológicas, a exemplo de Parkinson, da doença de Alzheimer e das neuropatias causadas pelo diabetes.
“Doenças da visão, catarata, glaucoma, degeneração macular, todas essas doenças que causam déficit visual, se não forem bem tratadas e acompanhadas, também irão interferir no equilíbrio, vão aumentar o número de quedas”, complementa o médico, citando ainda os distúrbios do labirinto.
Um outro elemento facilitador do desequilíbrio entre idosos é o uso paralelo de vários medicamentos, algo relativamente comum na terceira idade. Entre os mais relacionados aos riscos de queda estão os sedativos e medicamentos para dormir, aumentando a importância de não recorrer à automedicação.
A mãe da manicure Joana Barbosa, 39 anos, não morreu em decorrência de uma queda, mas caiu e fraturou o fêmur alguns anos antes de falecer, em 2022. Dona Maria usava sedativos e outros medicamentos para tratamento de transtornos psiquiátricos, além de também levar uma vida sedentária. Joana conta que ela foi operada e se recuperou bem, embora o comprimento da perna tenha mudado.
“O osso do idoso está mais frágil do que o osso do jovem, existe uma perda de massa óssea com o envelhecimento. Em alguns é acelerado, pelo tabagismo, pelo etilismo, e outros fatores, como medicamentos, mulheres pós menopausa perdem mais massa óssea”, explica Kuhn.
Entre janeiro e novembro do ano passado, a Sesab registrou 5.231 internações de idosos por quedas da própria altura decorrentes de escorregões, tropeções ou passos falsos. Os dados mostram uma redução das ocorrências a partir de 2016 e manutenção de cenário estável até 2020, quando volta a haver um aumento significativo. Em 2022, a Bahia teve 5.727 idosos internados por esse tipo de acidente.
Se manter ativo
Ainda que as quedas possam ocorrer também com quem mantém uma vida ativa, as consequências tendem a ser bastante diferentes. No caso do empresário José Rosenvaldo Evangelista, 80 anos, tudo se resumiu a um susto. Ele conta que sofreu uma queda, num momento de desatenção, há quase uma década, mas sem qualquer tipo de dano.
Praticante de exercícios físicos há mais de 15 anos, José incluiu essas atividades na sua rotina para cuidar da saúde e da autoestima. Ele realiza os exercícios em casa, com “ajuda de aparelhos mais simples, a exemplo de extensores, elíptico, esteira...”. O resultado é energia suficiente para passar o dia na sua empresa de contabilidade e ir cursar sua terceira graduação à noite.
Lucas Kuhn enfatiza a necessidade de se manter ativo, seja para prevenir o primeiro acidente ou a sua repetição.
“Muito idoso desenvolve, pós queda, o medo de cair. Então ele começa a sair menos de casa, a ficar mais parado, a diminuir as atividades e isso exatamente vai piorar a perda de massa muscular, diminuir o equilíbrio. O idoso que está caindo não tem que ficar parado, tem que treinar equilíbrio, marcha e força”, afirma.
Prevenção deve começar antes dos 60 anos
Embora os riscos decorrentes de quedas muitas vezes chamem atenção apenas quando a vítima é idosa, a prevenção desses acidentes precisa começar bem antes da terceira idade. “Não pode deixar para prevenir a partir dos 60 anos, tem de começar lá atrás, deixando a pessoa ativa, fazendo atividade física, fortalecendo a musculatura, fortalecendo a parte óssea”, argumenta a fisioterapeuta Ludmila Santos, do Hospital Santa Izabel.
Ela reforça a importância dos exercícios de resistência, aqueles que exigem uma carga, e esclarece não haver nenhum impedimento para que idosos façam exercícios com peso, desde que orientados adequadamente. “Para ter força precisa fazer força”, resume.
Treinamento
O treinamento para favorecer um bom equilíbrio durante a velhice também precisa envolver a parte neuromuscular, os receptores proprioceptivos, responsáveis pela nossa percepção de posição do corpo. “Quando a gente vai envelhecendo, vai diminuindo, vai perdendo esses receptores proprioceptivos, então acaba tendo uma tendência maior a quedas”, adverte Ludmila.
Além de preparar o corpo do idoso para estar menos suscetível a quedas, a fisioterapeuta lembra que alguns cuidados em casa também reduzem os riscos desses acidentes. Como não ter tapetes soltos, não usar pisos escorregadios e colocar barras de apoio no banheiro são algumas medidas citadas por ela.
Se uma queda ocorrer, ela ressalta a necessidade de buscar um atendimento médico imediatamente e, em caso de fratura e similares, começar a reabilitação o mais precocemente possível. Embora as lesões tenham impactos variáveis, Ludmila lembra que em pacientes idosos algo aparentemente mínimo pode gerar uma repercussão significativa no quadro geral de saúde.
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