CRISE?
Quem são os ex-aliados que se voltaram contra Marcola e racharam o PCC
Antigos aliados agora acusam Marcola de traição e disputam o controle da facção
Por Redação

sentença de 80 anos imposta a Roberto Soriano, conhecido como Tiriça, por participação na morte do agente penitenciário Alex Belarmino, em 2016, trouxe à tona não apenas os detalhes do crime, mas também as profundas fissuras na cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC). A disputa de poder que antes era silenciosa veio à tona com declarações públicas de traição, delação e desacordo entre os líderes históricos da facção.
Durante o julgamento, lideranças envolvidas no crime não pouparam críticas ao principal nome da facção: Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Acusado de ter delatado antigos aliados e de demonstrar fraqueza na liderança, Marcola tornou-se o centro de uma crise sem precedentes no comando do grupo. Os principais desafetos são três figuras com trajetórias marcadas por sequestros, atentados e assaltos cinematográficos: o próprio Tiriça, Wanderson Nilton de Paula Lima (Andinho) e Abel Pacheco (Vida Loka).
Tiriça, o ex-braço forte do PCC
Tiriça, que está em regime federal desde 2012, construiu fama dentro e fora do crime organizado após comandar um ousado assalto ao Aeroporto Internacional de Brasília, no ano 2000. Vestidos com uniformes da Infraero e dos Correios, seus comparsas conseguiram acessar a pista e roubar 61 quilos de ouro de um avião da Vasp. A ação, que envolveu gravações da rotina dos funcionários e um informante infiltrado, inspirou a série "A Teia", exibida pela TV Globo.
O histórico criminal de Tiriça foi crescendo ao longo dos anos. Sua última condenação é pela morte da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, assassinada em 2017 em uma emboscada. O crime teria sido encomendado por ele, segundo apontou o Ministério Público, como forma de retaliação ao sistema prisional. Essa execução marcou um novo capítulo na crise da facção.
Leia Também:
Após o crime, Marcola teria feito uma crítica a Tiriça em conversa informal com um agente penitenciário em Porto Velho. Chamando o ex-companheiro de "psicopata", o líder acabou gravado e o áudio vazou. A fala foi considerada um ataque direto, e o rompimento foi selado. Tiriça respondeu com acusações de delação e iniciou, junto com Andinho e Vida Loka, uma campanha aberta contra Marcola, que por sua vez conseguiu manter o apoio da "sintonia final", o alto comando do PCC.
Andinho: o sequestrador recordista de penas
Wanderson de Paula Lima, mais conhecido como Andinho, é uma das figuras mais temidas do mundo do crime brasileiro. Com 705 anos de condenação acumulada, é um dos maiores nomes da história criminal do país. Ganhou notoriedade por liderar uma série de sequestros em Campinas (SP) e até por ordenar o uso de explosivos contra veículos de imprensa.
Seu envolvimento com o PCC começou nos anos 1990, mas foi em 2002 que admitiu oficialmente contribuir com a facção, inclusive com pagamentos mensais para garantir segurança. Mesmo quando foragido, Andinho teria continuado repassando recursos obtidos com crimes para manter o financiamento da organização.
A aliança entre ele, Tiriça e Vida Loka era sólida, até o racha. Os três chegaram a planejar ataques a servidores públicos e ações de impacto nacional.
Vida Loka: o radical da cúpula
Abel Pacheco, mais conhecido nos presídios como Vida Loka, tem 47 anos de condenações e uma ficha extensa por crimes como tráfico, sequestro, ameaças, formação de quadrilha e associação criminosa. Apontado como o "número 2" do PCC por muito tempo, chegou a ser chamado pela Justiça de "general" da facção, embora negue pertencer ao grupo.
Com codinomes como Capitú, Zagueiro, Bebel e Japonês, Vida Loka circulava entre os setores mais influentes da facção. Ele fazia parte da chamada "sintonia dos gravatas", um grupo responsável por articular a comunicação jurídica e política da organização criminosa. Em 2019, foi condenado por participar dessa célula estratégica.
Apesar de alegar ser um preso comum, a presença de Vida Loka no núcleo duro do PCC era tratada como certa — até sua ruptura com Marcola. Assim como Tiriça e Andinho, foi acusado de traição e expulso da organização.
Guerra declarada
Com a expulsão dos três antigos aliados e a troca de acusações públicas, a cúpula do PCC enfrenta hoje um de seus momentos mais delicados desde sua fundação. As disputas internas ameaçam a coesão de um grupo que, por anos, se destacou pela disciplina rígida e pela comunicação eficiente entre as lideranças.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes