ARTES CÊNICAS
Thais Laila debate as redes em peça sobre influencer solitária
Espetáculo conta o drama de uma influencer que entra em uma crise existencial com as redes sociais
Apague as velas e faça um pedido. A atriz Thais Laila sobe aos palcos do Teatro Sesi Rio Vermelho com o show de uma mulher só Nesta Data Querida. O monólogo, descrito como uma comédia dramática, é assinado, produzido e dirigido pela intérprete – sua estreia na direção. Da plateia, o público conhecerá o drama de uma influencer que, ao comemorar seu aniversário, entra em uma crise existencial com as redes sociais.
Para Thais, o tema da peça é algo que a faz refletir muito sobre a vida, e ela cita como inspiração pessoas que levam a data de nascença a sério demais. “O aniversário é esse momento em que as pessoas querem renascer, recomeçar, é um grande ciclo da vida. Essas datas como réveillon e aniversário são marcantes porque o ser humano precisa disso. É como se ele achasse que tá tudo muito confuso, mas agora as coisas vão começar. O ser humano precisa de ciclos, de começar a dieta na segunda-feira, ele gosta de se projetar, de ter uma oportunidade de se renovar”, explica a atriz.
Ela diz que a escolha da ambientação é proposital também para que todo o público traga sua bagagem para a peça: “Todo mundo faz aniversário, e todo mundo tem uma relação com isso. Tem gente que gosta, que não gosta, que dá importância, que prefere não comemorar…”. A partir disso, Thais expande suas reflexões para falar sobre a solidão dos tempos modernos.
“A peça fala sobre esse mundo maluco onde a gente vive, onde as pessoas estão cada vez mais conectadas com as redes sociais, com esse mundo virtual, e cada vez mais desconectadas das próprias pessoas. As pessoas estão sempre mais preocupadas em mostrar que estão vivendo do que vivendo de fato. Além disso, as redes estão sendo invadidas por coaches, todo mundo acha que tem que influenciar todo mundo. São questões que me afligem e eu queria falar sobre o tanto que as pessoas estão ficando sozinhas”, conta.
“E o fato de ser monólogo é justamente por falar de solidão. A personagem é uma mulher que está preparando sua festa de aniversário. Ela é uma influencer, mas ela não tem quem vá pro aniversário dela”, detalha Thais. “Ela se relaciona com muita gente pela internet, mas na vida real, ela não tem esses laços que consigam estar vivos de verdades. Mas é uma comédia”, ri a artista.
O flash perfeito
Esse pensamento reflete o próprio pensamento de Thais sobre as redes sociais. “Eu tenho uma relação confusa, tenho uma questão forte com a internet. Não sei se diria que é um preconceito ou uma antipatia, não sei como definir minha relação, mas é conflituosa”, afirma. “Nunca gostei de expor minha vida, mas ao mesmo tempo, é como se você fosse deixando de existir se você não se mantém ali”, percebe.
“As pessoas acham que tem que criar conteúdo, não importa que conteúdo seja esse. Tem que alimentar o algoritmo, e isso vira uma uma missão. Tenho agonia desse movimento. Cada vez mais eu tenho vontade de me retrair, porque não acho que eu tenha que estar sempre postando tudo para ser lembrada”, desabafa.
Para que não restem dúvidas, Thais já deixa claro de saída que a personagem é fictícia, não se trata de alter ego. “Essa peça é bem autoral porque conta muitas histórias da minha vida, traz recordações da minha infância, memórias de aniversários e passagens importantes da minha vida, mas tem muita criação também. É uma peça que não é totalmente baseada em fatos meus. Apesar disso, ela é muito real, porque coisas que inventei que não minhas, são coisas que eu vi em outras pessoas”, diz.
Então, a comédia de Nesta Data Querida toma um rumo mais sombrio, mostrando como essa personagem em um momento eufórico lida com sua depressão. Para Thais, isso está relacionado com a ilusão das redes: “Todo mundo sabe que o que tá ali não é a versão real, é a versão ideal. Todo mundo sabe que quando alguém posta uma foto, ela tirou 50 fotos e escolheu a que saiu mais bonita. Mas por que acredita?”
“Tem uma geração, principalmente de jovens, que está completamente abalada por isso. A depressão assola as pessoas. Você começa a ver o outro tão feliz, tão pleno, que começa a pensar que sua vida não é tão maravilhosa quanto a dos outros. Todo mundo pega o flash perfeito, né? Essa comparação toda que tem na internet adoece, todo mundo acaba achando que o jardim do outro é mais bonito”, afirma a atriz.
Nesta Data Querida nasceu no final de 2021, Thais conta. “Eu comecei a ter muitas ideias e precisava escrever. eu tinha muitas ideias e não colocava no papel. Faço muita coisa de audiovisual, de roteiro de cinema, mas de teatro, eu nunca tinha escrito um texto meu. Me obriguei a pensar na minha ideia, e foi algo bom”, conta.
“Esse projeto não era algo que eu queria que um diretor me dirigisse para eu ter uma bela performance enquanto atriz. Eu tenho uma história que eu quero contar, que é minha, e que ninguém vai saber como contar melhor do que eu mesma. E ai decidi que teria que ser um espetáculo solo. É tudo novo para mim, eu tô acostumada a fazer peça com muita gente”, conta ela, que já atuava como produtora para realizar seus projetos.
Às vésperas da estreia, a ansiedade está alta para Thais. “Tá uma confusão”, ela ri, “para a Thais atriz acontecer, eu tive que virar produtora, e dessa vez virei escritora, virei diretora… É engraçado porque tem horas que eu me pego indo ensaiar, mas tem tanto detalhe de produção para resolver… Eu fico pensando ‘tenho que falar com o cara que vai entregar o banner, e a menina que vai entregar a caixinha com os convites…. É tanto detalhe que a última coisa que eu lembro é da Thais atriz. Esses dias eu até me perguntei se eu sei o texto todo [risos]”.
“Eu tô achando a experiência toda muito interessante porque não tô apavorada”, revela. “A principal questão desse processo é que a vaidade de atriz está sendo anulada para eu poder pensar no projeto como um todo. Como tudo é meu, eu penso em como eu quero contar essa história de uma forma bonita, eu acredito no valor desse texto. Quando eu esqueço uma frase do texto, fico muito sentida porque quero contar tudo, mas fico menos preocupada em ter uma atuação perfeita. Fico mais preocupada em não esquecer de contar nada”, conclui.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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