CARNAVAL
Blocos afros mantêm atividades 365 dias por ano
Com ações educativas, as agremiações ajudam a transformar comunidades onde nasceram
Escoando cultura, ancestralidade e resistência, os blocos afro produzem e realizam atividades 365 dias por ano, enriquecendo e movimentando os bairros onde nasceram –, e gerações de moradores.
“É uma filantropia realmente muito bonita e que trouxe muitas mudanças para o Curuzu, que é o bairro mais negro de Salvador, o que temos muito orgulho de ser e dizer. E fazemos isso através da música, da dança e da estética, buscando contar a verdadeira história do povo negro”, afirma Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente e fundador do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil.
Defendendo questões éticas, ações educativas e trazendo transformação social para o Curuzu há 50 anos, o Ilê Aiyê – assim como muitos outros blocos afro, – toma o caminho da educação para firmar esse ponto de resistência dentro da comunidade onde nasceu, transmitindo informações valiosas sobre a cultura negra, por meio da educação formal, literatura, música e dança que ensinam, valorizam e preservam a cultura afro-brasileira.
“Acredito que essas atividades do Ilê dão escolha, principalmente para os jovens, pois ali eles descobrem e aprendem sobre o que gostam ou não, através de sua própria história ancestral ligada a países como Nigéria, Angola e Senegal, por exemplo. Vovô, inclusive, já veio até mim perguntar um pouco sobre o meu país”, ressalta o empreendedor nigeriano Ange Taofik Kouadio, proprietário da loja de tecidos Taofik Moda África (@taofik_moda_africa), no Curuzu.
Para Taofik, que mora no bairro há quase seis anos, a presença do Ilê o faz se sentir mais seguro, sobretudo no que diz respeito às crianças e jovens, ele conta, que encontram naquele espaço um lugar de aprendizado. Algo que ele acompanha bem de perto, não apenas por Vovô e sua família serem clientes fiéis da Taofik Moda África, mas também por ser vizinho da sede.
“Quando as pessoas vêm conhecer o Ilê, a loja fica muito movimentada também”, conta.
Moradora do bairro há 40 anos, a aposentada Neide Maria Bahia Lopes também é vizinha do Ilê Aiyê, e diz se encantar dia após dia com as atividades realizadas no espaço. “O trabalho que eles fazem é muito especial, e todo ano fico ansiosa e orgulhosa de vestir minha fantasia e sair com o bloco. A verdade é que é um movimento lindo, não apenas pelo que levam para as ruas de Salvador em todo Carnaval, mas pelo trabalho maravilhoso que eles fazem dentro dessas paredes”, afirma.
Bagagem de vivências
O Ilê Aiyê foi criado por um grupo de jovens que queriam mudar a suas próprias histórias, do Curuzu, da Liberdade e toda Salvador, cultivando uma nova realidade para as gerações que viriam a seguir. E assim também o fez – e segue fazendo – o Malê Debalê. Criado por jovens moradores de Itapuã, Garcia e Tororó, que traziam na bagagem vivências em outras entidades culturais, inclusive do Ilê, o Malê Debalê nasceu com o objetivo de difundir a cultura de Itapuã através da educação e do entretenimento.
“O Malê hoje tem 45 anos de existência, e muito do que foi feito por nós e outros blocos afro em todos esses anos, tornou possível que esse forte enfrentamento cultural que vemos hoje em Salvador, pulse também no Brasil”, explica o presidente do Malê Debalê, e da Liga de Blocos Afro e Afoxés, Cláudio Araújo.
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