CLÁSSICO DA LITERATURA
"Grande Sertão: Veredas" ganha nova versão em filme
Obra está em cartaz no Cine Glauber Rocha
Por Gilson Jorge
O rosto da atriz Luiza Lemmertz é a única parte do seu corpo que aparece na maior parte do filme "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho", versão da cineasta Bia Lessa para o clássico da literatura "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.
Na obra, que está em cartaz no Cine Glauber Rocha, em evento especial de lançamento, Luiza interpreta Reinaldo, homem que se junta a um bando de jagunços que trava disputas sangrentas com outros jagunços entre o norte de Minas Gerais e o sul da Bahia, com o objetivo paradoxal de colocar um fim na violência do jaguncismo. Reinaldo é, na verdade Diadorim, filha do líder Joca Ramiro, que assume uma identidade masculina para escapar da vulnerabilidade das mulheres sertanejas. Uma verdade que só vem à tona com a exposição do seu corpo nu, no fim da história.
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Disfarçada, Diadorim acaba se apaixonando pelo jagunço Riobaldo, vivido por Caio Blat, que também desenvolve o desejo pelo companheiro misterioso.
Uma paixão que, entre tiros e facadas, permite que os amigos passem muito tempo juntos, usem safanões para poder tocar um no outro, mas não possam concretizar o afeto.
Mãe de um menino de 7 anos, Luiza se aproximou do personagem ainda enquanto amamentava. Bia Lessa a havia convidado para interpretar Reinaldo/Diadorim na montagem teatral que estava preparando e Luiza recusou o convite por conta da gravidez, mas depois de assistir o espetáculo resolveu se unir ao grupo, a pouco mais de um mês da estreia no Rio de Janeiro.
Veio a pandemia, os teatros fecharam e Bia começou a trabalhar em uma versão cinematográfica para a obra, centrada na relação entre Riobaldo e Reimaldo/Diadorim. "Quando eu vi o que eles tinham feito, fiquei completamente arrebatada. Eu precisava fazer aquilo", lembra a atriz, que minimiza a discussão se Riobaldo teria ou não se apaixonado pelo jagunço se soubesse que era uma mulher. "É sobretudo uma história de amor", diz a intérprete de Diadorim.
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Um papel que a protagonista, filha e neta de atrizes (Julia Lemmertz e Lilian Lemmertz, respectivamente), define como um desafio gigante. "É um personagem muito emblemático da nossa história, da nossa cultura, um personagem difícil, misterioso. Quase um enigma", declarou ao Portal A TARDE,Luiza, que considera ter sido um presente poder interpretar uma figura tão complexa.
Ao retratar as nuances do personagem, que é um guerreiro, mas é também um advogado das sutilezas e da beleza da natureza, a atriz recorre ao autor. "Como Guimarães diz, tudo é e não. Poder encontrar dentro de mim também esse lugar masculino, o lugar feminino, o que é também um não-lugar, foi um desafio delicioso e difícil", afirma Luiza.
Se os jagunços de Joca Ramiro se deslocavam pelos sertões a cavalo, em busca de conquistas regionais, Luiza e a equipe da peça estão em uma maratona nacional para a divulgação do filme. A atriz voltou ontem para o Rio, após seis dias em Salvador, mas no sábado já estará em Porto Alegre, para mais uma jornada de eventos de lançamento do filme.
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