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ANÁLISE

O Eternauta: série argentina escancara passado sombrio de censura

Clássica história em quadrinho argentina de ficção científica, ‘O Eternauta’ ganha versão em seriado da Netflix

Por Rafael Carvalho

07/05/2025 - 9:00 h
Série tem seis episódios, todos dirigidos por Bruno Stagnaro
Série tem seis episódios, todos dirigidos por Bruno Stagnaro -

De repente, uma tempestade de neve tóxica começa a cair sobre Buenos Aires, matando todos aqueles que inspiram o ar envenenado e gélido. Um grupo de velhos amigos se encontram na casa de um deles para uma noite comum de carteado quando a neve começa a descer em pleno verão e as pessoas na rua caem mortas. Logo começa uma batalha por sobrevivência que transforma a capital argentina em terra de ninguém.

Essa é a premissa da série O Eternauta, já disponível no catálogo da Netflix. A série de seis episódios, todos dirigidos por Bruno Stagnaro (cineasta importante para a renovação do cinema argentino na virada do século) e protagonizada por Ricardo Darín e César Troncoso, é baseada na clássica história em quadrinhos de mesmo nome lançada em 1957 pelo escritor Hector Germán Oesterheld e pelo desenhista Francisco Solano López.

Era o tempo da Guerra Fria, momento em que as narrativas de ficção científica, na literatura e no cinema, viviam seu auge, então não deixa de ser uma novidade ver uma cidade como Buenos Aires ser tomada por uma trama pós-apocalíptica e fantasiosa.

Ricardo Darín
Ricardo Darín | Foto: Divulgação

Mas para além do marco de ser uma HQ latino-americana de grande sucesso na época de seu lançamento, O Eternauta ganhou outra dimensão histórica depois que, 20 anos mais tarde, Oesterheld e sua família foram sequestrados pela ditadura militar do país e seus corpos nunca mais foram encontrados.

Esse é um subtexto imprescindível para a série que assistimos hoje. Juan Salvo (Darín) passa grande parte da narrativa em busca de sua filha, a desaparecida Clara (assim como as quatro filhas de Oesterheld sumiram junto com pai), enquanto vemos como milhares de pessoas morreram nas ruas em contato com o ar tóxico.

Os sobreviventes percebem que precisam se proteger do frio extremo e usar máscaras de gás para poder sair às ruas.

Na casa de seu amigo Alfredo (Troncoso), reúnem-se ainda sua esposa Ana (Andrea Pietra), o amigo Lucas (Marcelo Subiotto), uma entregadora de aplicativo (Orianna Cárdenas) que acaba ficando no local e ainda Omar (Ariel Staltari), um conhecido dos amigos que parece deslocado naquele grupo.

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Resistência e coletividade

Apesar de ser calcada em uma trama de ficção científica, a primeira metade desta temporada de O Eternauta – a série já foi renovada para uma segunda temporada – concentra-se muito nas relações interpessoais.

Não demora para surgirem conflitos entre os sobreviventes naquele microcosmo que passa a ser a casa de Alfredo e os arredores do bairro.

Os personagens descobrem aos poucos como se proteger da neve tóxica que não para de cair e precisam sair para buscar alimentos e água, já que todos os serviços passam a ser interrompidos.

Sem energia elétrica e meios de comunicação, eles se viram de modo primário, tentando estabelecer contato através de ondas de rádio.

Imagem ilustrativa da imagem O Eternauta: série argentina escancara passado sombrio de censura
| Foto: Divulgação

Nas suas saídas em busca da filha, Juan Salvo vai se encontrar com sua ex-mulher (Carla Peterson) que se junta ao grupo, assim como acaba se deparando com outros personagens no meio do caminho, mais ou menos conscientes do que está acontecendo – alguns deles sabendo mais do que aparentam, como a misteriosa e suposta junta militar que percorre as ruas em comboios de carros.

Os desentendimentos entre Juan e Alfredo aumentam, o que estremece a amizade duradoura deles, assim como Omar se torna cada vez mais um elo deslocado do grupo, evidentemente mais rebelde. As tensões crescem na medida em que as visões de cada um sobre a sobrevivência do grupo entram em choque.

Mas é a partir do final do terceiro episódio que a dimensão fantasiosa ganha contornos mais fortes e sérios dentro da trama – especialmente quando os personagens descobrem que precisam enfrentar não apenas as intempéries da natureza e as intransigências uns dos outros, mas também criaturas que não são deste planeta.

E, de fato, O Eternauta é conhecida por ser uma trama que envolve vidas alienígenas, viagem no tempo e forças sobrenaturais, sem que nenhuma delas se sobreponha à trama que reforça o sentido de resistência e coletividade diante das ameaças à vida humana.

Se as marcas da ficção científica demoram um tempo para se revelarem de fato na série – apesar das estranhas visões que Juan passa a ter desde o início da trama apontarem para algo muito maior envolvendo sua participação naquele conflito –, isso se dá pela necessidade de construir primeiramente personagens e dilemas morais complexos sobre os principais envolvidos.

Deserto de gelo

O Eternauta contou com um grande investimento da Netflix, o maior para uma produção argentina. O retorno foi positivo, já que no último final de semana tornou-se umas das séries mais vistas da plataforma ao redor do mundo, especialmente nos países latinos e de língua espanhola.

Depois do sucesso da série de realismo fantástico Cem Anos de Solidão, feita na Colômbia, e também das duas temporadas muito bem vistas da brasileira Cidade Invisível, o lançamento de O Eternauta comprova que há não apenas ótimas histórias de fantasia na América Latina, como um público fiel e ávido para este tipo de conteúdo.

A série argentina tem todos os elementos clássicos de uma narrativa pós-apocalíptica, mesmo que não apresente grandes inovações narrativas nesse aspecto. Mas faz um uso muito bom dos efeitos especiais.

E é incrível ver como Buenos Aires, com suas ruas largas e arquitetura imponente, se transforma em um verdadeiro deserto de gelo, com ruas cobertas de neve e corpos mortos espalhados por todos os cantos.

Da metade em diante, a trama começa a se ampliar para novos núcleos, surgem mais personagens e o sentido épico da busca de Juan pela filha e também a noção de sobrevivência ganham maiores proporções.

E quando isso se estabelece melhor, a temporada chega ao fim, o que aponta para uma continuidade muito mais épica e devastadora.

O Eternauta / Dirigido e criado por: Bruno Stagnaro / Com Ricardo Darín, Carla Peterson, César Troncoso, Andrea Pietra, Ariel Staltari, Marcelo Subiotto, Claudio Martínez Bel, Orianna Cárdenas e Mora Fisz / Disponível na Netflix.

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Tags:

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