Busca interna do iBahia
HOME > CINEINSITE
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

ESTREIA

Um filme sobre fazer filmes: Nouvelle Vague encanta amantes do cinema

Nouvelle Vague é puro prazer cinéfilo

Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

Por Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

21/12/2025 - 8:07 h
O dia em que a Nouvelle Vague ganhou forma no cinema de Richard Linklater
O dia em que a Nouvelle Vague ganhou forma no cinema de Richard Linklater -

O ano era 1959, na França, e os “jovens turcos” estavam em polvorosa. Esse era o apelido dado aos críticos de cinema ferrenhos da revista Cahiers du Cinéma que também se tornariam cineastas renomados. Naquele ano, na verdade, alguns já haviam feito seus primeiros filmes, como Jacques Rivette, Claude Chabrol e Éric Rohmer, sem falar em François Truffaut, que estava prestes a apresentar seu Os Incompreendidos em Cannes.

Somente Jean-Luc Godard ainda não tinha dirigido um longa-metragem. Já se falava em Nouvelle Vague e na revolução de linguagem que os jovens realizadores estavam aplicando aos filmes, em contraposição à velha guarda do cinema francês.

Tudo sobre Cineinsite em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

Godard resolve, então, filmar uma história que ele e Truffaut idealizaram um tempo atrás, baseado no caso real de um ladrão de rua.

Assim, começa a nascer Acossado, um dos filmes mais influentes da segunda metade do século passado e que tornaria Godard um cineasta para sempre ligado à vanguarda e à reinvenção da linguagem cinematográfica. É a história da criação desse clássico que vemos em Nouvelle Vague, já em cartaz nos cinemas, dirigido inusitadamente pelo cineasta norte-americano Richard Linklater.

Diretor de filmes como Boyhood – da Infância à Juventude e da trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite, Linklater faz um cinema que apenas lembra a liberdade criativa do movimento francês, mas nunca pareceu tão tributário a ele.

No entanto, o cineasta investe com precisão histórica e avidez cinéfila a um dos episódios mais importantes da História do Cinema. O lançamento de Acossado chacoalhou não apenas a França no final dos anos 1950, mas reverberou em todas as “novas ondas” pelo mundo, inclusive no Cinema Novo brasileiro.

O resultado é um filme saboroso sobre as peripécias, conflitos, desentendimentos e divertimentos que a equipe vivenciou durante as filmagens. Mas é, sobretudo, um retrato muito descontraído – e mesmo inofensivo – sobre as inovações narrativas e criativas que Godard implementou nesse projeto – o primeiro de muitos. Um filme para regozijar qualquer amante do cinema.

Leia Também:

Deleite cinéfilo

“A melhor forma de criticar um filme é fazendo um filme”.

Essas e outras tiradas clássicas de Godard podem ser escutadas no longa, enquanto toda uma geração de nomes, hoje célebres, desfila pelo filme – Godard vive imerso no mundo do cinema, tem boas relações com cineastas, atores e atrizes, por sua carreira como crítico, embora seja temido por muitos.

Guillaume Marbeck encarna o jovem cineasta – sempre portando seus inconfundíveis óculos escuros, mesmo à noite – em busca de apoio com o produtor Georges de Beauregard (Bruno Dreyfürst) para tirar o projeto do papel.

Linklater cria um filme jovial que faz questão de identificar as pessoas importantes que cruzam o caminho de Godard – uma delícia a visita de Roberto Rossellini à redação das Cahiers – ou que fazem parte do seu cotidiano.

Um dos primeiros desafios é conseguir um elenco com algum reconhecimento. Jean-Paul Belmondo (Aubry Dullin), já um ator conhecido, se encanta logo pelo projeto, enquanto a atriz norte-americana Jean Seberg (Zoey Deutch) precisa ainda ser convencida a entrar no filme.

Imagem ilustrativa da imagem Um filme sobre fazer filmes: Nouvelle Vague encanta amantes do cinema
| Foto: Divulgação

Vale destacar a importância de Raoul Coutard (Matthieu Penchinat), diretor de fotografia, que também precisou ser convencido a entrar no projeto de um iniciante, e que se tornou responsável por dar vazão às excentricidades e exigências de Godard, que preferia filmar fora de estúdios, com luz natural e uma câmera pequena que permitisse maior movimento nas locações – o que faria a fama da “desconstrução narrativa” com que o filme seria largamente conhecido posteriormente.

Com esses outros colaboradores, inicia-se então uma jornada para criar um futuro clássico. Apesar do roteiro assinado por Truffaut, as cenas eram repensadas dia a dia, com o diretor a reescrevê-las e decidir como iria filmá-las na manhã de cada diária de filmagens. “Quero começar cada dia sem saber o que vou filmar”, diria o cineasta.

As peripécias com a equipe de filmagem são muitas, as desavenças não demoram a aparecer, mas Nouvelle Vague prefere focar no senso de companheirismo e na integralidade do projeto de cinema que estava sendo forjado ali por aqueles jovens, sem nem ao menos imaginar a relevância do que estavam criando.

Godard, que acabou ganhando ao longo da carreira a fama de pessoa difícil, é retratado aqui como alguém bem mais espirituoso, com seus métodos pouco usuais de dirigir, talvez ainda não consciente de sua genialidade.

Todo o filme opera no registro da naturalidade, sem excessos e sem tentar engrandecer o que já é em si um marco incontestável. Isso faz de Nouvelle Vague um verdadeiro deleite cinéfilo.

Dobradinha

Além de estrear Nouvelle Vague esta semana, o Cinema Glauber Rocha prepara sessões especiais que envolvem o movimento cinematográfico francês. O próprio Acossado será exibido hoje, após a sessão do filme de Linklater.

Outros filmes ligados ao movimento também serão exibidos, como Jules e Jim – Uma Mulher para Dois, de Truffaut, e Cléo das 5 às 7, de Agnès Varda. Truffaut, aliás, tem recebido uma atenção especial por conta da retrospectiva promovida pelo Cineclube Glauber Rocha.

Ontem houve a reprise de Atirem no Pianista e hoje, pela manhã, sessão de O Garoto Selvagem.

É uma ótima oportunidade para que o público de Salvador conheça não apenas as histórias por trás das obras-primas do cinema, mas tenham acesso também a esses clássicos da filmografia mundial e possam vê-los em cópias de boa qualidade na tela grande.

Nouvelle Vague / Dir.: Richard Linklater / Com Guillaume Marbeck, Zoey Deutch, Aubry Dullin, Bruno Dreyfürst, Benjamin Clery, Matthieu Penchinat, Pauline Belle, Blaise Pettebone, Benoît Bouthors / Salas e horários: cinema.atarde.com.br

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

Godard Jean-Luc Jean-Luc Godard Nouvelle Vague

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
O dia em que a Nouvelle Vague ganhou forma no cinema de Richard Linklater
Play

O filme mais indicado ao Globo de Ouro chega à HBO Max e mira o Oscar

O dia em que a Nouvelle Vague ganhou forma no cinema de Richard Linklater
Play

Esse filme de ficção científica virou fenômeno e já é TOP 1 da Netflix

O dia em que a Nouvelle Vague ganhou forma no cinema de Richard Linklater
Play

Novo reality da Netflix acompanha brasileiras com namorados coreanos

O dia em que a Nouvelle Vague ganhou forma no cinema de Richard Linklater
Play

O filme da Netflix que não vai deixar você desgrudar os olhos da tela

x