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A Tarde Memoria

Por Cleidiana Ramos

ACERVO DA COLUNA
Publicado sexta-feira, 12 de novembro de 2021 às 11:24 h • Atualizada em 12/11/2021 às 11:58 | Autor: Cleidiana Ramos

Chef Angélica Moreira conta história de comida afetiva relacionada ao ofício das fateiras

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A chef Angélica Moreira desenvolve o projeto Ajeum da Diáspora. Foto: Acervo pessoal
A chef Angélica Moreira desenvolve o projeto Ajeum da Diáspora. Foto: Acervo pessoal -

Neste sábado, 13, a versão da coluna A TARDE Memória para o jornal A TARDE vai abordar os desdobramentos de uma greve realizada pelas fateiras em 1937. O movimento foi acompanhado por A TARDE nas edições de 14 e 15 de janeiro daquele ano. O ofício de fateiras foi desenvolvido majoritariamente por mulheres negras em Salvador e tem profundas ligações com a sua emancipação política e econômica. Confira aqui as memórias da chef Angélica Moreira, que desenvolve o projeto Ajeum da Diáspora, sobre essa tradição de alimentação a partir do produto oferecido pelas fateiras. Ele permite a elaboração de uma série de pratos que caíram no gosto popular.

O almoço fresco de sábado

Angélica Moreira

Sempre aos sábados mainha ia à Feira de São Joaquim fazer as compras da semana. Mainha já tinha os vendedores certos e quando o dinheiro estava curto podia contar com a solidariedade deles para “acertar” o caderninho na próxima semana com todas as peripécias que ela fazia para conseguir cumprir o trato. Para isso tinha a renda dos cabelos das vizinhas que espichava ou das roupas da clientela da Barra, Vitória, Campo Grande, etc, que ela lavava.

Quando Mainha chegava da feira fazia uma comida dita rápida: "O almoço fresco de fato"

O fato era vendido aos montes na feira. Ali tinha “livro”, bucho, tripas, bofe, cueira e, na maioria das vezes, um pedaço de cabelouro (que tinha que comer atrás da porta pra ficar bonita rsrsrsrs).

Esse fato era limpo e lavado com bastante limão, depois temperado com sal, alho, cominho, corante, cebola, hortelã grosso e tomate. Refogava no toucinho e deixava cozinhar bastante. Tirava o fato da panela e com o caldo era feito um pirão que dava uma suadeira danada. Depois tinha que descansar, nada de brincar na rua pois a comida era forte.

O fato era vendido praticamente por mulheres, as fateiras. Na Feira do Japão na Liberdade, existiu uma bem famosa: Valdelice do Fato, que criou 11 filhos com sua banca. Destacava-se por usar roupas brancas, inclusive um enorme turbante e sempre estava impecável.

Confira a receita do "Almoço Fresco" da chef Angélica Moreira.

Imagem ilustrativa da imagem Chef Angélica Moreira conta história de comida afetiva relacionada ao ofício das fateiras
| Foto: Cleidiana Ramos
Confira a receita do "Almoço Fresco" apresentada pela chef Angélica Moreira. Criação: Cleidiana Ramos

Angélica Moreira é uma das mais conhecidas chefs baianas. Ela nunca frequentou nenhuma escola de gastronomia. Aprendeu a cozinhar com as mais velhas de sua família, que eram mestras nessa arte. Com seu projeto, Ajeum da Diáspora, Angélica Moreira já realizou e participou de inúmeros eventos em Salvador e outros estados brasileiros, além de ter levado sua culinária ao México, em 2019. Entre oficinas, coquetéis e jantares já recepcionou as escritoras Conceição Evaristo e Angela Davis. Ela desenvolveu o projeto Saboreando Histórias, no qual une gastronomia e literatura negra, em aulas online, que contaram com as presenças de Lázaro Ramos e Ana Maria Gonçalves. A chef é autora do livro Memórias da Cozinha Ancestral, lançado no ano passado. Ela também é de candomblé com o cargo de ajoiê de Oxum no Ilê Axé Opô Afonjá.

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