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A Tarde Memoria

Por Cleidiana Ramos* | [email protected]

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 11 de setembro de 2021 às 6:01 h | Autor: Cleidiana Ramos* | [email protected]

Com cobertura consistente, A TARDE traduziu consequências dos atentados de 11 de setembro

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Edição trouxe uma ampla cobertura sobre os atentados terroristas ocorridos na cidade de Nova Iorque no dia 11 de setembro do ano de 2001: editorial, infografia, página gráfica, repercussões no Brasil, dentre outras questões, foram abordadas em A TARDE...
Edição trouxe uma ampla cobertura sobre os atentados terroristas ocorridos na cidade de Nova Iorque no dia 11 de setembro do ano de 2001: editorial, infografia, página gráfica, repercussões no Brasil, dentre outras questões, foram abordadas em A TARDE... -

A edição de A TARDE do dia 12 de setembro de 2001 trouxe 11 páginas sobre os atentados terroristas em Nova Iorque. Um dia antes, por meio das TVs e sites de notícias, as informações iniciais pareciam descrever cenas dos filmes distópicos que costumam ser realizados pela indústria cinematográfica norte-americana. A cobertura especial de A TARDE foi extremamente acertada, afinal a geopolítica mundial entrou em mais uma espiral de tensão e conflitos a partir do dia 11 de setembro daquele ano.

Imagem ilustrativa da imagem Com cobertura consistente, A TARDE traduziu consequências dos atentados de 11 de setembro

“Um indescritível caos reinava em Manhattan ontem, com centenas de milhares de pessoas abandonando a pé o sul da ilha, que desaparecia em uma nuvem de fumaça e poeira após os atentados. Os moradores do sul da ilha e centenas de milhares de pessoas que trabalham lá diariamente fugiram para o norte, em estado de choque e incredulidade, horas depois do duplo atentado que destruiu as torres gêmeas do World Trade Center, de 110 andares cada uma. No limite do perímetro de segurança estabelecido pela polícia ao sul da Rua Canal, os bombeiros e numerosas ambulâncias instalaram postos de primeiros auxílios para atender os feridos que chegavam cobertos de poeira branca”. (A TARDE, 12/09/2001, p. 18).

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A edição de A TARDE conseguiu apresentar consistência quando ainda havia uma mistura de incredulidade e temor, afinal esse é o grande trunfo do inimigo revelado nos atentados: o terrorismo. Também havia, nas primeiras horas após o atentado, muitas pontas a se juntar em um ataque que combinava componentes próximos da ficção: duas torres do imponente World Trade Center ruíram após aviões comerciais, que depois se soube estavam sendo pilotados por terroristas, chocarem-se com suas estruturas. Um outro atingiu uma parede do sistema de defesa norte-americano, o pentágono, e um quarto caiu em uma região rural da Pensilvânia. Cerca de três mil pessoas morreram.

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Com as primeiras informações que se tinha, A TARDE publicou a análise por meio de um editorial, que é o espaço que traz a opinião oficial de uma empresa dedicada ao jornalismo; uma infografia (reportagem em linguagem gráfica) explicando o que se sabia até aquele momento sobre a sequência dos ataques; as repercussões na economia de todo o mundo ocidental com o fechamento e óbvio despencar das bolsas de valores, além das repercussões no governo brasileiro, com destaque para a mensagem enviada pelo então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, ao norte-americano George W. Bush; e as repercussões no Senado, na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba).

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Susto com sumiço de deputado

O parlamento federal brasileiro teve, segundo A TARDE, uma preocupação a mais: o primeiro secretário da Câmara, Severino Cavalcanti (PSB-PE), estava em missão oficial em Nova Iorque e até às 20 horas (horário brasileiro) de 11 de setembro não havia dado notícias. Para aumentar a preocupação dos colegas, o hotel em que ele estava hospedado tinha endereço próximo ao do local das chamadas torres gêmeas.

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“Os diplomatas brasileiros também não conseguiram encontrar Severino, que estava hospedado no Millenium Hotel, localizado, segundo seus assessores, no quadrilátero do World Trade Center. De Pernambuco, a família do deputado está em pânico, providenciando viagem para Brasília”. (A TARDE, 12/09/2001, p. 10).

No dia seguinte, A TARDE trouxe o desdobramento da história com boas notícias. O deputado, que estava em Nova Iorque para participar de um encontro da Liga para a Liberdade e Democracia, na sede da ONU, telefonou para o Brasil e justificou a falta de contato por não poder, assim como demais hóspedes, sair do hotel por questões de segurança. Ele também alegou mau funcionamento dos sistemas de comunicação.

“Severino Cavalcante aguarda a liberação dos voos comerciais nos Estados Unidos para poder voltar ao Brasil. A família, que viveu momentos de pânico, com a falta de notícias, está aliviada, mas ansiosa em vê-lo de novo em Pernambuco”. (A TARDE, 13/09/2001, p. 9).

Bin Laden

Na edição de 13 de setembro, o destaque foi maior para o personagem que se mostraria como central nessa história: Osama Bin Laden, com o nome nos textos ainda grafado como Usama, que é próximo de uma versão também usada: Usamah.

“O regime talibã, no poder no Afeganistão, negou qualquer envolvimento do milionário de origem saudita Usama Bin Laden nos atentados contra os Estados Unidos, mas afirmou que pode estudar uma eventual extradição, casos os investigadores americanos consigam provar sua culpa. – Podemos estudar as provas e tomar providências – declarou ontem à imprensa o embaixador da milícia fundamentalista na capital paquistanesa, Abdul Salam Zaeef. Interrogado sobre uma eventual extradição do milionário de origem saudita, Zaeef afirmou que a primeira etapa dependeria das provas apresentadas pelos EUA relacionando Bin Laden com os ataques”. (A TARDE, 13/09/2001, p. 17).

A entrada de Osama Bin Laden– morto por militares americanos há dez anos – no cenário dos atentados de 11 de setembro foi a sinalização de que as conexões do evento com o intricado jogo da política norte-americana no chamado Oriente Médio e na Ásia Central tinham raízes bem mais complexas. Cristiane Soares de Santana, doutora em História pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professora da Uneb no Campus XIV, localizado em Conceição do Coité, destaca que as tensões na região envolvendo os EUA são antigas. “Remonta do contexto da Guerra Fria quando os Estados Unidos e a União Soviética disputavam zonas de influência. O Afeganistão, por exemplo, se situa em uma região estratégica e interessava a ambos os lados”, completa.

De acordo com a professora Cristiane Santana, detalhes sobre a história da Ásia Central, mesmo entre historiadores, ainda são pouco conhecidos. O preconceito e, por consequência, ódio generalizado contra praticantes do islamismo nos países ocidentais é um dos desdobramentos desse desconhecimento. “A ideia de que todo muçulmano é fundamentalista marca esse discurso islamofóbico”, acrescenta.

Disputa

Ela explica que a região onde está o Afeganistão foi disputada no século XIX por Inglaterra e Rússia. “Estando posicionada estrategicamente, sendo uma opção para os russos de saída até o Índico, a região passou a ser disputada, chegando até mesmo a ser protetorado britânico, quando em 1919 se tornou independente. Iniciou-se um período monárquico que durou até 1973 quando o primeiro-ministro Daoud Khan extinguiu a monarquia e proclamou uma república”, explica Cristiane Santana.

Em 1978 ocorreu a Revolução de Saur, organizada pelo Partido Popular Democrático do Afeganistão com o anúncio de medidas como o fim do patriarcado e a reforma agrária. “A pressão exercida pelos grupos rivais no interior do país juntamente com o financiamento dos Estados Unidos fez que a União Soviética enviasse tropas para o Afeganistão e a partir daí se iniciou um novo capítulo com dez anos de presença russa em território afegão”, acrescenta a professora Cristiane Santana.

Segundo a professora, quando as tropas russas se retiraram, o governo de Muhammed Najibulla não conseguiu vencer a resistência mujahidin chamada AL Mak Tab-al Khidmat (MAK) criada por Abdullah Azzim e Osama Bin Laden. “O primeiro era professor de uma universidade paquistanesa e o outro um milionário membro de uma família rica saudita. Ele foi responsável por financiar a causa mujihadin no Afeganistão e arrecadar dinheiro para tal propósito entre as elites sauditas”, destaca.

Ela reitera que, sempre é importante entender que a chamada guerra santa, utilizada como discurso ocidental para tentar compreender a motivação de grupos como a Al-Qaeda de Bin Laden não pode ser confundida com uma prática generalizada do islamismo. “Movimentos extremistas fazem a leitura da Sharia, conjunto de normas que derivam das orientações do Alcorão, livro sagrado do Islã, de forma literal. É importante entender o que é o fundamentalismo religioso e que nem todo muçulmano é fundamentalista e interpreta a Sharia do mesmo modo que organizações como o Estado Islâmico, o Talibã ou o Boko Haram”, diz a historiadora.

Uma situação tão complexa, como quase tudo que envolve interação entre culturas diferentes, especialmente quando é em ambiente de tensão, continua a promover conflitos com consequências graves. Há poucos dias um clima de terror cercou a retomada do poder pelo talibã no Afeganistão. O grupo havia sido afastado após a ocupação norte-americana do país sob a justificativa de punição por conta dos ataques de 11 de setembro e guerra ao terrorismo. Vídeos mostraram pessoas caindo de aviões onde estavam penduradas para tentar sair do país. Estamos no presente em relação ao 11 de setembro de 2001, mas ele continua a mostrar força, portanto. Isso quando já foi resultado dos conflitos originados no passado. O desenrolar da história continua implacável na maioria das vezes.

A reprodução de trechos das edições de A TARDE mantém a grafia ortográfica do período. Fontes: Edições de A TARDE, Cedoc A TARDE.

*Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em Antropologia

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