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A Tarde Memoria

Por Cleidiana Ramos

ACERVO DA COLUNA
Publicado sexta-feira, 05 de novembro de 2021 às 10:38 h • Atualizada em 05/11/2021 às 10:56 | Autor: Cleidiana Ramos

Pesquisador analisa impactos de projeto pioneiro de A TARDE

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O primeiro especial de A TARDE em comemoração ao 20 de Novembro foi publicado em 2003
O primeiro especial de A TARDE em comemoração ao 20 de Novembro foi publicado em 2003 -

Em homenagem ao Novembro Negro, quando se celebra a memória de Zumbi dos Palmares, os conteúdos de A TARDE Memória vão destacar temas relacionados à luta por cidadania da população afro-brasileira. A primeira destas edições dá destaque à publicação de especiais anuais realizada por A TARDE em 20 de novembro. Nesta edição virtual, o mestre em Estudos Étnicos e Africanos pela Ufba e doutorando em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) analisa a importância desse projeto. Hugo Mansur vem pesquisando, desde a sua graduação, os Cadernos da Consciência Negra (CCN) de A TARDE.

Confira o artigo de Hugo Mansur

Para além das páginas do jornal

Hugo Mansur

Os feitos e efeitos da circulação ininterrupta da edição impressa dos Cadernos da Consciência Negra (CCN), publicados por A Tarde, ao logo de treze anos (2003 – 2015), ultrapassam as páginas do jornal e marcam, com notoriedade, a imprensa baiana. Os CCN, ainda pouco conhecidos e reconhecidos pelas empresas de mídia do país foram eficiente modelo estratégico, tão almejado pelas redações dos veículos nacionais, em trabalhar com temáticas da diversidade, em especial as pautas destinadas a reportar às culturas, identidades e religiosidades negras.

Encarte anual, o caderno especial nasce em 2003 favorecido por transformações internas e externas ao jornal. A virada de século estimula a reformulação do plano editorial, que abandona a cobertura dependente do auge da indústria musical dos anos 1990 e abraça o movimento de políticas afirmativas, implementado nas áreas da educação e segurança social.

Ano a ano, a crescente tiragem do jornal, nas datas do 20 de novembro, marco escolhido para levar aos leitores o fascículo engajado, não restringiu a presença do texto especializado à data comemorativa. O que se publicava como especial penetrou no cotidiano. Os CCN estruturaram uma equipe de jornalistas afrodescentes, que se dedicaram a atualizar as notícias de interesse da comunidade negra local, majoritária absoluta nas estatísticas demográficas.

Educativo, publicitário e militante, o CCN mobilizou reformulação editorial também para os demais cadernos e editorias do jornal. Se fez presente no cotidiano de seções como Cartas dos Leitores, Opinião, Esportes, A Tardinha, fascículo direcionado para o público infantil e reforçou às páginas do Caderno 2, o caderno de cultura, reduto de uma cobertura democrática, seção na qual historicamente o jornal publicou textos alusivos ao 20 de novembro.

Estiveram nas páginas de A Tarde recorrentes debates nas cartas dos leitores, repercutindo a cobertura originada pelos cadernos especiais. Nas prestigiadas páginas de Opinião vimos a introdução de articulistas negras e negros, de diversas áreas do conhecimento - incluídas duas ialorixás. Outro destaque é o surgimento da publicidade de homenagem, tanto de instituições públicas quanto privadas. Foram significativas as campanhas que trataram do Dia da Consciência Negra.

Os CCN atenderam como nunca antes a heterogeneidade social da audiência no território baiano. Com as páginas da Consciência Negra, o jornal renovou o público leitor, regimentou a possibilidade do surgimento de novas coberturas realizadas por outros veículos, tanto em rádios quanto tvs. Passamos a sintonizar programas hegemônicos tratando exclusivamente das religiões de matriz afro e sobre estima e beleza negra. Novas linguagens, novas imagens, novas diagramações, novas coberturas, renovados artigos, renovadas fontes preencheram as páginas de A Tarde entre um 20 de novembro e outro.

Nas palavras do leitor José Augusto Broasky: “Sou negro, a minha identidade confirma. Sou negro como a lama que protege pérolas finas. Sou negro sim. Sou o negro que quebrou os grilhões e as correntes, se livrou das chibatas e arrastou através do sangue o progresso para o futuro melhor. Eu sou negro, o que fazer se a minha identidade confirma? Sou o negro, o negro dos teus olhos que enxergam o brilho da vida. Por isso sou, simplesmente, negro”, lemos poema através da carta publicada em 25/11/2004, ano da segunda edição do Caderno de Consciência Negra, quando, cinco dias após sua circulação, os leitores ainda repercutiam seu conteúdo.

Imagem ilustrativa da imagem Pesquisador analisa impactos de projeto pioneiro de A TARDE
| Foto: Ana do Carmo | Divulgação
Hugo Mansur tem pesquisado os efeitos dos especiais de A TARDE. Foto: Ana do Carmo | Divulgação

Hugo Mansur é doutorando em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) e, em 2019, defendeu a dissertação Ebó de Palavras: uma leitura afirmativa das páginas da Consciência Negra em A Tarde (BA, 2003 – 2015) no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da UFBA (Pos Afro), sob orientação e coorientação, respectivamente, dos professores Jesiel Oliveira e América César.

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