Rio maratona!
Confira a coluna do jornalista Luiz Teles
A convite da organização do evento, viajei na semana passada para fazer a cobertura da Maratona do Rio para o Grupo A TARDE. Exceto pelas provas olímpicas e de Pans, jamais tinha assistido à modalidade in loco, e foi muito impressionante testemunhar a grandeza do evento e seu complexo nível de organização.
Com 45 mil inscritos divididos em quatro provas diferentes (5, 10, 21 e 42 km), a maratona já faz parte do vasto calendário turístico do Rio de Janeiro. O evento, que recorrentemente aproveita o feriado de Corpus Christi para se estender por quatro dias e atrair gente de todo Brasil (galera do bem que negocia com a chefia ‘aquele feriadão’), é muito bem recebido pelos cariocas e movimenta a economia da cidade de maneira significativa. Trata-se hoje do maior Festival de Corrida de Rua da América Latina.
Tomando por exemplo a edição deste ano, 81% dos inscritos vieram de outros estados ou países. Esses 36 mil corredores, entre atletas profissionais, amadores e de final de semana, levaram a ocupação hoteleira do Rio a aproximadamente 85%, média da competição nos últimos 10 anos segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH).
Uma pesquisa contratada pela Dream Factory (organizadora da Maratona do Rio) com apoio do Apresenta e do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFEC- RJ) calculou que o evento gerou um impacto econômico de R$ 137,2 milhões ao estado do Rio na edição de 2023, numa matemática que leva em conta gastos de corredores e frequentadores relacionados ao evento, como inscrição para a prova, hospedagem, transporte, alimentação, lazer, compra de produtos licenciados ou souvenirs, entre outros itens. O estudo concluiu que o gasto médio por pessoa foi de R$ 1.734,00.
A mesma pesquisa revelou ainda que a Maratona do Rio teve uma contribuição direta de R$ 173 milhões para o Produto Interno Bruto (PIB) do estado, gerando 2,8 mil empregos formais e informais entre permanentes ou temporários, além de um aumento de R$80 milhões na renda dos trabalhadores locais.
Salvador, por que não?
Se a Maratona do Rio é um sucesso tão grande, por que a Maratona Salvador não tem uma magnitude ao menos próxima da bela festa que acontece no Rio de Janeiro? Era o que eu mais me perguntava durante o período de cobertura. Não existe uma resposta simples para esse questionamento, mas entrevistando atletas profissionais, patrocinadores, organizadores e participantes da competição, temos algumas pistas importantes.
Primeiramente, a Maratona do Rio não nasceu gigante e teve em 2024 sua 22ª edição. A Maratona Salvador vai este ano apenas para sua 6ª edição. Os mais de 15 anos que as separam representam talvez o maior peso na equação de grandeza entre as duas provas. Em suas primeiras temporadas, o evento do Rio não chegava a cinco mil inscritos (foram 1.500 na estreia).
Tradição conta muito nesse esporte e faz alimentar o calendário de assessorias de corrida de todo o país. Com os anos, a organização da prova se torna mais eficiente, experiente e estreita contatos não apenas com corredores e atletas, mas também com o poder público e patrocinadores, essenciais para a estrutura da prova.
Mas há também de se observar outros elementos, como a valorização cultural da prova, que no Rio conta com uma semana inteira de shows gratuitos e atividades artísticas ligadas ao evento. A proximidade de um feriado é um atrativo que precisa ser pensado, assim como uma distribuição por mais dias (a Maratona Salvador 2024 será no dia 22 de setembro). Além disso, o calor da cidade afasta muitos atletas das desgastantes provas dos 21 e 42 km, mesmo com a largada às 5 da manhã (mas aqui não há muito a ser feito, exceto valorizar o desafio).
Diferenças à parte, entendo que a Maratona Salvador tem muito potencial para crescer nos próximos anos. Com um misto de paciência e empenho incansável, é possível chegar lá.