A China não vai bem e isso interessa à Bahia
Confira a coluna do economista Armando Avena
A China anunciou que cresceu 5% em 2023 e ninguém acreditou. Os dados oficiais de crescimento do PIB da China estão cada vez mais desacreditados, especialmente quando comparados com outros indicadores. Há quem diga que o crescimento real foi de 1,5%. Agora, a China anuncia que vai crescer os mesmos 5% em 2024 e os analistas dizem que será muito difícil.
A verdade é que a China pode estar à beira de uma crise. O sinal mais claro é a deflação persistente, semelhante a que aconteceu no Japão após o auge de sua economia nos anos 70 e que resultou na forte crise a partir de meados da década de 80. A deflação é resultado da baixa demanda dos consumidores locais, agravada pelo alto índice de desemprego entre os jovens. As fábricas chinesas produzem muito mais do que os chineses compram e por isso a pressão exportadora é enorme. Simplificando: há veículos elétricos, painéis solares e produtos de todo tipo para dar de pau, mas ninguém quer comprar. O gasto do consumidor chinês em relação ao PIB é muito baixo. Isso tem a ver com a cultura chinesa, meio avessa ao consumo exacerbado, e com o medo do futuro que faz com que as famílias poupem muito. O economista americano Paul Krugman mostrou em artigo recente, como o governo tentou sair dessa armadilha: a poupança acumulada era canalizada para os investimentos e de tal modo que a taxa de investimento em relação ao PIB chegou a inacreditáveis 40%. Até aí tudo bem, investimento gera crescimento econômico, mas até certo ponto. Se o país aumenta a capacidade produtiva e a economia interna não absorve a produção, chega um momento em que não faz mais sentido investir. Claro, o esforço exportador tenta compensar isso e o desespero das fábricas de carros elétricos chinesas para entrar no mercado brasileiro é um exemplo.
Outro sinal de crise está no setor imobiliário. Para enfrentar os baixos gastos do consumidor, o governo estimulou o setor e criou uma gigantesca bolha imobiliária. O boom imobiliário da China foi o maior do mundo, mas a bolha estourou com a quebra do Evergrande Group que deixou um rombo de 2 bilhões de dólares. Hoje, dois anos depois, as ações da empresa, inadimplente e cheia de dívidas, valem centavos. A crise não se disseminou por toda a economia por causa do Partido Comunista Chinês que controla tudo. Para completar, um enorme déficit público está se formando e os governos locais estão com grandes dívidas que precisarão ser financiadas pelo governo central.
Uma crise na China afeta diretamente a Bahia, pois 25% de nossas exportações vão para o país asiático. E afeta o agronegócio, a infraestrutura e a indústria. A Bahia é o estado do Nordeste que mais exporta para a China e está em 10º lugar no Brasil. E somos o 3º estado brasileiro que mais recebeu investimentos chineses nos últimos dois anos. E há investimentos chineses na Fiol, no Porto Sul, nos projetos de energia eólica e solar, na produção de hidrogênio verde, em carros elétricos e na ponte Salvador/Itaparica, só para citar alguns. Por isso, a crise lá, pode bater aqui.