As compras de Natal e o parcelamento sem juros
Colunista Armando Avena aborda compras a prazo no fim de ano

O Natal de 2025 será marcado por dois recordes: a menor taxa de desemprego da história e a maior taxas de inadimplência já registrada. Com isso, se por um lado, mais pessoas receberão salário e décimo-terceiro e assim poderão ir às compras; por outro é um aviso para que as pessoas não comprem a prazo, pois com a taxa de juro em 15% ao ano na base e se multiplicando na ponta, a tendência é o aumento da inadimplência. Com juros nesse patamar, comprar a prazo é quase um suicídio financeiro, especialmente se a compra for feita nos carnês das lojas ou no rotativo dos cartões de crédito.
Mas a população brasileira é chegada a um autoengano e, por isso, adora quando a loja oferece o parcelamento “sem juros”, mesmo sabendo o juro está embutido no preço final. O comprador pensa que dividindo em 10 vezes ou mais, a prestação estará sendo desvalorizada pela inflação e perdendo valor, sem perceber que o preço de qualquer produto, no parcelamento sem juros, já foi inflado em patamar bem maior que a inflação de 4,5% em 12 meses.
Mas o gosto pelo parcelamento sem juros é tal que até a classe média, supostamente bem informada, compra nos supermercados que prometem essa oferta, sem perceber que o mix de produtos já foi inteiramente reajustado para permitir esse luxo.
Vejamos um exemplo: o preço real do produto é R$ 100, mas como ele será parcelado em 10 vezes, o lojista aumenta seu preço para R$ 110, o que inclui os R$ 5 do financiamento parcelado pelo cartão e R$ 5 a mais de margem para o lojista. Então o consumidor vai pagar 10 prestações de R$ 11, o que significa uma taxa de juros mensal implicita de 1,77% ou 23% de acréscimo no ano. É só um exemplo e o aumento embutido pode ser maior ou menor e depende do lojista, mas fica claro que é um parcelamento com juros.
Se o consumidor propõe pagar a vista, e a loja dá um desconto de 5%, não há beneficio algum, mas apenas a supressão dos juros do cartão, mantendo a margem adicional.
Dito isso, vale recomendar ao consumidor que, neste Natal, proponha às lojas a compra a vista ou pelo PIX, mas com desconto de pelo menos 10%, pois assim o preço se aproxima mais ao preço real. Ao vender à vista com 10% de desconto, o lojista perde a margem, mas pode vender uma quantidade muito maior. E, além disso, não vai precisar esperar 30 dias para receber do cartão, não vai pagar a taxa da máquina, não terá risco de inadimplência e vai melhorar seu fluxo de caixa, pois poderá imediatamente repor estoque e pagar seus compromissos.
O problema é que as grandes lojas, nas quais a maioria das pessoas compra não trabalha com descontos, pois têm politicas diferenciadas com as bandeiras dos cartões, motivo pelo qual muitas vezes os consumidores só vão encontrar descontos em lojas pequenas e naquelas Made in Bahia.
Por fim, duas recomendações: a primeira é que se o consumidor tem condições, deve comprar à vista ou no Pix, lembrando que isso aumenta seu poder de negociação; a segunda é que a melhor ferramenta para negociar os descontos é o celular, um instrumento de barganha, afinal, com ele, você pode pesquisar preços em tempo real.
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