O que tem de diferente na pesquisa eleitoral AtlasIntel - A Tarde
Por Fábio Vilas-Boas
Se havia uma coisa que não vinha funcionando bem na Bahia era pesquisa eleitoral.
Não se sabe exatamente a raiz do fenômeno, mas o fato é que nas últimas eleições majoritárias todas as pesquisas erraram. E muito.
Peguemos 2006, faltando 30 dias para a eleição Paulo Souto tinha 48% e Jaques Wagner 31%. Deu Wagner no 1o turno com 53% e Paulo Souto com 43%. Já em 2014, também faltando um mês, Paulo Souto tinha 46% e Rui Costa 24%. Deu Rui no primeiro turno com 55% e Paulo Souto terminou com 37%.
Esses erros grosseiros sugerem duas coisas:
1) as pesquisas não capturam eleitores fora das sedes dos municípios (sem telefonia, com acesso difícil);
2) A magnitude da onda provocada pela militância nas duas últimas semanas da eleição possui grande efeito sobre o voto.
Em ciência estatística chamamos isso de viés de seleção. No caso da atual pesquisa do A Tarde - AtlasIntel, é possível que tenham sido feitos ajustes para capturar essa população fora da sede dos municípios, que mora nos distritos mais afastados.
Vocês devem se lembrar do antigo instituto “DataNilo” (Bapesp) de Marcelo Nilo, que era o único que se aproximava do resultado real das eleições na Bahia. Por conhecer a realidade do nosso estado, o pequeno instituto tinha o cuidado de acessar essa população distante e difícil de mensurar, mas que é o maior contingente populacional do estado. E que no dia da eleição aparece igual a formiga saindo do formigueiro.
Nosso estado é muito desigual. Essas assimetrias regionais, associadas às enormes diferenças no perfil populacional, condições de vida, dependência de ações de governo e atenção, tornam a amostragem de pesquisas eleitorais na Bahia um processo muito peculiar.
Muito mais que um alento e motivação para a campanha de Jerônimo e Otto, a pesquisa AtlasIntel pode estar a nos sinalizar, pela primeira vez no atual processo eleitoral, uma calibração correta para atenuar o viés de seleção estatística que nos últimos anos têm ocorrido.