O renascimento poético das cidades através do cicloturismo de base comunitária
Confira o artigo de Tássio S. Cardoso, ciclista, fundador do Pedal Zen e doutor em Educação pela Uneb
No coração pulsante da modernidade, onde o concreto sufoca a natureza e o ritmo frenético das cidades nos desconecta do nosso próprio ser, emerge uma revolução silenciosa e poética: o cicloturismo de base comunitária. Esse movimento, que floresce como um oásis de serenidade, transforma a relação das pessoas com os espaços urbanos, oferecendo uma nova perspectiva sobre a vida e a cidade. E é nesse contexto que o Pedal Zen encontra seu propósito, desbravando trilhas que resgatam a essência de uma convivência harmoniosa com a natureza e a cultura local.
O cicloturismo, ao contrário do turismo convencional, não é sobre a pressa de chegar ao destino, mas sim sobre a jornada em si. Pedalar é um ato meditativo, um convite à contemplação e à introspecção. Ao girar os pedais, o corpo se liberta das tensões acumuladas, o coração encontra seu ritmo natural e a mente se despe do excesso de pensamentos. Nesse processo, o cicloturista vivencia uma forma de mindfulness, similar à filosofia zen, onde cada pedalada é um momento presente, um elo com o aqui e o agora.
Os benefícios para o corpo são evidentes. Pedalar fortalece os músculos, melhora a capacidade cardiovascular e promove a liberação de endorfinas, hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. Além disso, o contato direto com a natureza e o ar fresco revigora o organismo, trazendo uma sensação de vitalidade e energia renovada. Mas os efeitos benéficos não param no físico; eles se estendem à mente e ao espírito, proporcionando uma harmonia interior que muitas vezes se perde na agitação do cotidiano urbano.
Através do Pedal Zen, essa filosofia ganha vida em trilhas que revelam a riqueza histórica e cultural dos destinos visitados. Em Massarandupió, Barra de Itariri, Subúrbio e no Centro Histórico de Salvador, o cicloturismo se torna uma ponte entre o passado e o presente, conectando o viajante à alma dos lugares. Cada pedalada é uma descoberta, uma interação afetiva com as paisagens e as pessoas que habitam esses espaços. A bicicleta, silenciosa e ecológica, permite uma aproximação genuína e respeitosa com o meio ambiente e a comunidade local.
O cicloturismo de base comunitária promove uma ocupação poética da cidade. Ele nos ensina a olhar para os espaços urbanos com novos olhos, a encontrar beleza nas pequenas coisas e a valorizar a simplicidade. É uma forma de resistência contra a desumanização das metrópoles, uma celebração da vida em sua forma mais pura e essencial. Através do Pedal Zen, redescobrimos o prazer de explorar, de nos conectar com o outro e com nós mesmos, numa jornada que é tanto exterior quanto interior.
Essa prática renova o mundo porque transforma as pessoas. Cada cicloturista que desbrava uma trilha do Pedal Zen leva consigo uma nova visão de mundo, mais sensível, consciente e solidária. É um movimento que cresce, silencioso mas poderoso, como uma correnteza que, aos poucos, molda o curso de um rio. E assim, pedalada a pedalada, vamos ocupando a cidade de forma poética, deixando um rastro de esperança e renovação.
O Pedal Zen encontra seu propósito, resgatando convivência harmoniosa com a natureza e a cultura
* Tássio S. Cardoso: Ciclista, fundador do Pedal Zen e Doutor em Educação pela Uneb