Os novos caminhos da política cultural na Bahia
As instituições culturais consolidadas certamente merecem atenção e cuidado
Não é coisa fácil estabelecer uma governança eficaz no campo da cultura, em especial num Estado tão rico e diversificado quanto a Bahia. Muito menos quando se pretende inovar, desafiando velhas rotinas e dando novos rumos ao trabalho de promoção cultural. A novidade causa estranheza. Não raro provoca sentimento de insegurança em quem se acostumou com uma visão cristalizada, canonizada, do que seja cultura.
Porém, mais que em qualquer outro domínio político, mudar é preciso. Inovar é indispensável. E urgente. Há uma demanda reprimida de serviços e bens culturais na Bahia, como em todo o Brasil. Essa demanda tem a ver com a exigência de expansão da democracia. Tivemos, em período recente, uma situação escabrosa em que a democracia foi violentada de maneira cruel e em paralelo a cultura foi brutalizada. Superar esta situação exige muito mais do que o retorno a uma condição anterior supostamente pacífica, tranquila, estabelecida e ordenada de uma vez por todas. Exige que se faça um esforço maior. Não se trata apenas da recuperação de equipamentos desgastados, da retomada de iniciativas antigas, do atendimento a uma clientela costumeira.
Há pouco a Periferia Brasileira de Letras fez em Salvador a sua primeira reunião nacional. Trata-se de um movimento que reúne coletivos de artistas, poetas, escritores, performers, atuantes em áreas pouco contempladas – sistematicamente ignoradas pelos setores dominantes. A escolha de nossa capital não foi por acaso. Era patente o interesse da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia em avançar na mesma direção. Houve um duplo reconhecimento. Iniciou-se uma bela parceria, que com certeza renderá muitos frutos.
Nosso Estado tem a dimensão de um país, um dos mais diversos do continente Brasil. Reconhecer essa diversidade e a riqueza cultural que ela envolve é inescapável. Precisamos, portanto, de uma política cultural que o leve em conta e de fato se mobilize para vencer os preconceitos que tanto prejudicam a sociedade. Impossível negar que hoje testemunhamos um avanço considerável neste sentido.
As instituições culturais consolidadas certamente merecem atenção e cuidado. Mas é preciso que elas também se conscientizem do imperativo de abertura democrática, que estendam seu raio de ação, que se empenhem de fato na luta contra o obscurantismo, que se façam e reconheçam prestadoras de serviços à população como um todo e não a apenas um segmento privilegiado.
A meu ver, a Secretaria de Cultura de nosso Estado tem se empenhado seriamente num autêntico esforço de renovação e tomou o rumo certo. Criando condições para um avanço necessário! São grandes os desafios, enormes as carências que tem de enfrentar. Mas já mostrou que merece um amplo crédito de confiança.
*Presidente da Academia de Letras da Bahia