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A Tarde Memória

Por Cleidiana Ramos*

ACERVO DA COLUNA
Publicado Saturday, 27 de July de 2024 às 3:00 h | Autor:

Baiano integrou seleção que ganhou medalha histórica nas Olimpíadas

Nilton Pacheco, jogador do Clube Bahiano de Tênis e depois do Fluminense, estava no time de basquete que garantiu o bronze e primeiro pódio brasileiro

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Equipe de basquete  masculino foi a pioneira na conquista de uma medalha para o Brasil nos esportes coletivos em 1948
Equipe de basquete masculino foi a pioneira na conquista de uma medalha para o Brasil nos esportes coletivos em 1948 -

Na edição de A TARDE de 6 de agosto de 1948 foram registradas na capa do jornal as conquistas do esporte brasileiro nas Olimpíadas realizadas naquele ano em Londres. O time de basquete masculino deu seguidos shows. Na seleção estava o baiano Nilton Pacheco. A campanha acabou com uma conquista que se tornou histórica: uma medalha de bronze, que foi a primeira conquistada pelo Brasil em um esporte coletivo durante Olimpíadas.

“A seleção brasileira de "Basket Ball”, ao conquistar a sua esperada vitória contra a representação da Itália tornou-se. automaticamente, campeã de sua chave, devendo disputar, agora, as semi-finais do certame olímpico. Com este último sucesso, conquistaram para a sua serie invicta o 5º triunfo, em luta contra delegações possantes da Europa e da América”. (A TARDE, 6/8/1948, capa).

A campanha foi demolidora. O time brasileiro derrotou sucessivas seleções, inclusive as que eram referências no esporte, como a da Tchecoslovaquia, campeã do campeonato europeu da modalidade.

“O fortíssimo selecionado de basket-ball do Brasil acaba de transpor o seu primeiro obstáculo na série semi-final dos Jogos Olímpicos, derrotando o "five" da Tchecoslovaquia, campeão da Europa, pela contagem de 28 x 23, Esta é a sexta vitória consecutiva dos brasileiros”. (A TARDE, 09/08/1948, Capa).

  • Equipe de basquete  masculino foi a pioneira na conquista de uma medalha para o Brasil nos esportes coletivos em 1948
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    Equipe de basquete masculino foi a pioneira na conquista de uma medalha para o Brasil nos esportes coletivos em 1948 |

Superação

A Olimpíada de 1948 ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. Como Londres foi bombardeada, o papel de sede dos jogos tinha também o objetivo de marcar a reconstrução de um dos países protagonistas da ofensiva contra a Alemanha e seus aliados adeptos de regimes totalitários e disseminadores do ódio, como o fascismo e o nazismo. A Inglaterra e os integrantes dos Aliados- França, Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)- deixaram as diferenças e enfrentamentos na geopolítica envolvendo os modelos econômicos antagônicos- capitalismo e socialismo- para derrotar os países do Eixo-Alemanha, Itália e Japão- comandado pelo protagonismo de Adolf Hitler e os horrores que ele desencadeou na perseguição a judeus, ciganos e outros grupos.

Com um time em que muitos dos jogadores tinham empregos fora da área esportiva, a seleção brasileira começou a surpreender as equipes favoritas. As sucessivas vitórias a transformaram em uma sensação dos jogos, mas com uma sequência que exigia esforço físico acima do normal.

“O treinador brasileiro Moacir Daiuto declarou que a sua equipe de basquetebol está jogando melhor nas Olimpíadas do que nos campeonatos sul-americanos, porém está começando a ficar muito fatigada. Nos jogos difíceis, declarou Daiuto, o Brasil depende inteiramente de seus jogadores principais, os quais pouco descansam. Acrescentou o treinador brasileiro que a rodada do campeonato será muito difícil, porém declinou de fazer prognóstico sobre o resultado final”. ( A TARDE, 07/08/1948, Capa).

A seleção brasileira só foi parada pela França nas semifinais. Mas ainda teve fôlego para conseguir a conquista do bronze quando derrotou o México. O jogo terminou com o placar de 53 X47 para o Brasil e foi dramático, pois a decisão veio nos minutos finais.

“O esforço dos rapazes brasileiros foi tamanho, dado o seu estado físico precário depois de tantas partidas e de muitos se acharem machucados, que quando o juiz apitou se deixaram cair no tablado fatigados ao último ponto, chorando e se abraçando de emoção”. (A TARDE, 07/08/1948, Capa).

E os tempos difíceis e conturbados não costumam impor obstáculos para a onipresente torcida brasileira. Ela tinha representantes em Londres para fazer a festa com os jogadores.

“Os brasileiros que assistiam carregaram os nossos patrícios, tomando parte nas manifestações o ministro Guimarães e o general Edgar Amaral. Hoje, no encerramento da Olimpíada, a bandeira verde e amarela tremulará no mastro do “stadium” depois dos Estados Unidos e França, sendo que a França obteve o 2º lugar por uma questão de chance, pois teve duas derrotas enquanto o Brasil somente teve uma”. (A TARDE 14/08/1948, Capa).

Astro baiano

Nilton Pacheco nasceu em Salvador. Ele morreu em 2013, no Rio de Janeiro, a um mês de completar 93 anos. Na posição de armador jogou no time do Clube Bahiano de Tênis. Em seguida foi para o Fluminense.

Pela Seleção Brasileira de Basquete marcou 97 pontos em 20 jogos nas competições consideradas oficiais. Além de Nilton Pacheco, o time brasileiro de basquete de 1948 foi formado por Affonso Évora, Alberto Marson, Alfredo da Motta, Marcus Vinícius Dias, Alexandre Gemignani, Zenny de Azevedo “Algodão”, João Francisco Bráz, Massinet Sorcinelli e Ruy de Freitas comandados pelo técnico Moacyr Daiuto.

O professor Luiz Alexandre Avila, especialista em Treinamento Desportivo e Basquetebol pela Universidade Gama Filho, avalia que conquistas como a da seleção de basquete de 1948 auxiliaram na popularização de esportes que não têm, no Brasil, a visibilidade do futebol. “A medalha serve como motivação para os jovens passando a mensagem de que com dedicação, sacrifícios e determinação é possível alcançar seus sonhos. É fundamental para o desenvolvimento do esporte que ele seja praticado por cada vez mais pessoas”, diz Avila que foi técnico de basquete do Clube de Regatas Itapagipe e Esporte Clube Vitória. Ele comandou equipes que conquistaram títulos nos campeonatos regionais e nacional.

Professor do curso de Educação Física da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Luiz Alexandre Avila aponta que quando há investimento ocorre a formação de atletas em alto nível. “O basquete e o voleibol, principalmente, se desenvolveram bastante no Brasil por conta de massificação de sua prática em clubes, escolas e comunidades. Isso possibilitou a descoberta de inúmeros talentos. Temos vários atletas atuando em ligas de excelência desses esportes em várias partes do mundo”, completa Avila.

Novas conquistas

Após 12 anos da campanha de 1948, uma nova conquista da modalidade ocorreu nos jogos realizados em Roma. O time formado por Algodão, Wlamir, Amaury, Blás, Mosquito, Fernando de Freitas, Rosa Branca, Jatyr, Edson Bispo, Sucar, Valdir Boccardo e Waldemar, comandados pelo técnico Togo Renan Soares, conhecido como Kanela, voltou a empolgar. Na primeira fase contra os jogadores da URSS, os brasileiros venceram, mas na disputa que daria a chance para a final contra os Estados Unidos, em um jogo polêmico, os adversários levaram a melhor por 64 X 62. Na disputa da medalha de bronze, os brasileiros venceram os italianos, donos da casa, por 78 X 75. Assim como em 1948, a partida foi sofrida. A vitória brasileira ocorreu na prorrogação.

A outra medalha de bronze veio na Olimpíada seguinte em Tóquio. O lugar no pódio foi conquistado na disputa com Porto Rico em um jogo vencido pelos brasileiros por 76 X 60. O time de 1964 foi formado por Amaury Antonio Passos , Antonio Salvador Sucar, Carlos Domingos Massoni "Mosquito", Carmo de Souza "Rosa Branca", Edson Bispo dos Santos Friedrich Wilhelm Braun "Fritz", Jatyr Eduardo Schall, José Edvar Simões, Sérgio Toledo Machado (Macarrão), Ubiratan Pereira Maciel, Vitor Mirshauswka e Wlamir Marques. O técnico da equipe foi Renato Brito Cunha.

Em Olímpiadas, as conquistas até agora são três, mas o Brasil tem dois títulos mundiais (1959 e 1963) e uma medalha de ouro no Jogos Pan-Americanos de 1987, realizados em Indianópolis, que consagrou a geração de Oscar Schmidt. Agora o time formado por Marcelo Huertas, Yago Mateus, Raul Neto, George de Paula, Vitor Benite, Léo Meindl, Guilherme Santos, Didi Louzada, Bruno Caboclo, João Marcelo “Mãozinha” , Lucas Dias e Cristiano Felício tem a chance de fazer história este ano em Paris ganhando uma medalha neste tipo de competição depois de 60 anos.

*Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia

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