Apagão paralisa concessionárias de Salvador
Corte de energia para equipes de vendas e interrompe serviços em oficinas autorizadas e centros automotivos
O apagão de energia elétrica que afetou todos os estados do Brasil, exceto Roraima, paralisou as concessionárias de Salvador, na manhã de ontem. O expediente já havia começado às 8h31, quando o Operador Nacional do Sistema (ONS), o Sistema Interligado Nacional, teve uma falha, interrompendo o fornecimento de energia.
“Esse apagão afetou todo o funcionamento da concessionária. Não estamos absorvendo carros na oficina para serviços de manutenção. Os que já estão retidos para reparo não podem ser liberados; não podemos requisitar peças, insumos”, comentou o supervisor de preparação de veículos novos da Cresauto Veículos, Carlos Guedes.
“Estamos sob tensão e expectativa, esperando que isso se normalize para voltarmos à rotina. Tudo depende de energia, toda a loja está interligada por sistemas, precisamos de internet para tudo hoje em dia”, disse. “Como vamos saber se o cliente pagou, por exemplo, antes de liberar o carro, se não temos acesso ao sistema financeiro?”, questiona Guedes. Lembrando que o apagão afetou toda a cadeia produtiva da loja. Na Cresauto, localizada na Avenida Mário Leal Ferreira (Bonocô), perto das 11h a energia ainda não havia voltado. “A loja está vazia, dia atípico hoje”, comentou Guedes.
Transtornos
“Tivemos alguns transtornos, pois os nossos equipamentos, tais como elevadores, scaner e rampa de alinhamento não funcionavam. Ficamos impossibilitados de executar serviços, requisitar peças, receber pagamentos”, descreveu o chefe de oficina da Cresauto Veículos, Matheus Figueredo.
“E em função da ausência de telefone, ficamos impossibilitados também de avisar aos clientes agendados sobre a condição de atendimento. Essa situação vai impactar em toda nossa semana, pois os clientes agendados terão que ser reprogramados e teremos que gerenciar muitas dessas situações ainda esta semana”, constatou Figueredo.
“O apagão de energia afetou a rotina geral em todo o Nordeste. Houve dano financeiro, também impacto em toda logística dos veículos, para realização dos serviços em nossa concessionária”, explicou o gerente da oficina da Fiori Paralela, Wellington Nunes.
“Tivemos que informar aos clientes agendados, e sem maiores informações do ocorrido, tivemos que liberar os clientes que chegaram, para possível retorno”, comentou Wellington, destacando que a falta de informação sobre o que causou o apagão e quando o problema seria resolvido complicou ainda mais a situação.
“Ficamos impedidos de trabalhar, pois temos necessidade de energia para todos os processos da empresa”, pontuou o gerente da Fiori Paralela, Franciso Sarno. Pouco antes das 11h, a energia já havia voltado por lá.
A Fecomércio-BA estima que, na Bahia, a perda potencial de vendas por impulso, por hora parada, de determinados setores seja de R$ 2,2 milhões. Entram nesse levantamento os supermercados, farmácias, vestuário e outras atividades como artigos esportivos, lojas de produtos alimentícios etc. Vale ressaltar que “não entram no cálculo, por exemplo, veículos, eletrodomésticos, móveis, entre outros, pois independentemente do apagão, as pessoas comprariam depois. É o que se chama de compra programada”, destaca o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.
Perdeu venda
O gerente da Parvi/BYD, Danilo Dias, afirma que mesmo que tenha durado poucas horas o apagão tem impacto sobre a venda de veículos. “Hoje foi muito atípico, nós tivemos apenas um cliente na loja esta manhã e mesmo assim a gente não conseguiu atender, porque estávamos sem acesso aos sistemas”, lamenta Dias. “Tudo parou aqui, porque somos totalmente dependentes de energia elétrica. Pior que esse não é o primeiro apagão que ocorre no Brasil. Já aconteceu antes: e afeta as vendas, a produtividade, a economia”, comenta Dias.
“Estou em Belo Horizonte e está um caos, um dia perdido. Estou em um evento nacional da montadora, da semana do SUV, que tem ações regionais programadas. A gente estava com uma prospecção marcada e agora não pode fazer nada, sem acesso à internet”, explica a gerente geral da rede de concessionárias Grande Bahia, Paloma Oliveira.
“Eu tenho três lojas sob a minha liderança e duas delas têm geradores, mas a internet está caindo, não conseguimos falar com os clientes pelo WhatsApp, telefones não funcionam direito, caindo ligações toda hora. A gente está tentando se virar como pode, mas é como se hoje fosse feriado nas concessionárias”, afirma. “Isso compromete todo o trabalho. As concessionárias de Salvador, do Nordeste pararam, porque hoje os processos são digitais e tudo depende de internet e telefonia”, lamenta Paloma, que coordena as praças Salvador e Fortaleza, da rede Grande Bahia.
Proprietário do Centro Automotivo Super Auto, Alexandre Guedes Afonso lembrou a música de Raul Seixas: “O dia em que a terra parou”. “Como sempre, cheguei cedo aqui e quando acabei de organizar tudo veio o apagão. Foi a manhã toda parado. Dependemos de energia, sem ela os elevadores, os equipamentos eletrônicos não funcionam. Telefone, cartão de crédito, PIX, para receber pagamentos, também não”, disse. “Os clientes marcaram horário e cancelaram. Eles sabiam que não tinha o que fazer na rua. Eu teria de ir ao banco, resolver coisas, mas tudo parou”.
“Pior é que depois do que aconteceu hoje vem o medo da gente voltar aquela época dos apagões. Já passamos por isso antes, ficar sem energia e sem saber o que aconteceu e o que fazer. Eu espero que seja apenas algo pontual e não seja mais uma crise. Já vivemos tantas, a Covid, a econômica. Viver nova crise energética seria muito, muito ruim. Mas vamos seguir e chamar por Deus, manter a fé, esse tipo de problema é algo que foge ao nosso controle”, comenta Afonso.