Carros hatches e sedans podem desaparecer do mercado
Segmentos perderam força, mas alguns lançamentos, a exemplo do Cruze RS e Honda City, revelam uma sobrevida
Não é novidade que os SUVs e as picapes ocupam os primeiros lugares das paradas de sucesso no Brasil e no mundo. Mas esses estilos nem sempre estiveram “no topo das plataformas de streaming”. Deixando de lado as metáforas inerentes ao mercado musical, vale a pena destacar que hoje a categoria dos utilitários esportivos está engolindo outros segmentos, cujos lançamentos ficaram tão escassos que parecem definhar.
Há alguns anos, a oferta de hatches médios, por exemplo, era enorme: Chevrolet Astra, Vectra GT, Ford Focus, VW Golf, Peugeot 307 e 308, Citroën C4, Fiat Bravo e muitos outros nomes. Hoje, nas concessionárias, alguns dos novos modelos são da Audi, BMW e Mercedes-Benz, custando bem acima dos R$ 200 mil.
“Concordo há 10, 15 anos havia uma febre de hatches médios. E aí eles acabaram sumindo do mercado, da mesma forma que as station wagons. Nós tínhamos a Palio Weekend, Parati, que sumiram. O mercado brasileiro é meio americanizado. As fábricas colocam aqui o que os americanos estão consumindo, que neste momento é SUV ou picape. A gente tem de levar em consideração que as plataformas de produção de carros hoje são globais”, pondera o economista Raphael Galante, que trabalha no setor automotivo há mais de 20 anos e atua como consultor na Oikonomia Consultoria Automotiva. “E aí o hatch médio é aquela jabuticaba brasileira, só tem aqui”, diz.
Sobrevida
Galante não tem a menor dúvida que o segmento de SUV vai continuar crescendo no Brasil. “Mas parece que algumas marcas estão investindo na sobrevida do hatch médio. Estão deixando a gente sonhar”. Ele lembra que a Honda lançou este ano o City nas versões, EX (a partir de R$ 113.000), EXL (a partir de R$ 119.800) e Touring (a partir de R$ 127.700), com opção hatch e sedan.
“O Honda City está vendendo super bem. Está dando uma sobrevida. Talvez seja precursor de novos lançamentos. A gente tem de levar em consideração que os hatches pequenos estão morrendo, porque eles estão muito caros e a população brasileira cada vez mais empobrecida. E aí o hatch médio chega para o consumidor que não quer um SUV, e também não deseja um carro pequeno, mas quer um carro compacto, confortável, com bom desempenho e tecnologia embarcada”. “Quem sabe teremos a renovação desse segmento, que foi bem cobiçado no passado. Tudo é cíclico”.
O sócio da MRD Consulting, Flávio Padovan concorda que os modelos hatch vêm perdendo a briga, principalmente para os modelos SUV. “Mas os hatches ainda mantêm seu espaço no mercado. O segmento que mais sofre é o de sedans, com menos de 20% do total de vendas de veículos”, ressalta.
“Os hatches e sedans não vão desaparecer, mas vão continuar perdendo espaço para os modelos do tipo SUV, que definitivamente conquistaram a preferência da maioria dos consumidores brasileiros. Por serem mais altos e resistirem mais as más condições de nossas ruas e estradas, e também pela posição de dirigir mais alta, que dá uma sensação de melhor visibilidade e maior segurança”, avalia.
Ele destaca ainda que é preciso considerar outra variável, além da preferência do consumidor. “Além das funcionalidades oferecidas pelos SUVs, precisamos considerar que, em função das restrições de produção, por conta da escassez de componentes, principalmente os semicondutores, as montadoras privilegiam a produção desses modelos, que normalmente possuem maior margem de lucro”, explica.
O segmento dos hatches médios dá seus últimos suspiros no Brasil, isso quando consideramos os modelos em uma faixa de preço mais acessível, onde o Chevrolet Cruze Sport6 RS é um dos poucos representantes.