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Nordeste vai acelerar eletrificação no País

Mudança está lenta, mas novos investimentos na região deverão apressar processo

Publicado quarta-feira, 23 de agosto de 2023 às 06:07 h | Atualizado em 11/10/2023, 10:13 | Autor: Núbia Cristina | [email protected]
Compass S 4xe híbrido plug-in, é da Jeep, que vai produzir elétricos no Brasil
Compass S 4xe híbrido plug-in, é da Jeep, que vai produzir elétricos no Brasil -

A região Nordeste será um polo acelerador do processo de eletrificação no Brasil. Não apenas em virtude do investimento da BYD, na Bahia, mas em razão do aporte previsto pela Stellantis, que anunciou planos de eletrificação para a fábrica da Jeep em Pernambuco. O economista Armano Avena acredita que esses estados se tornarão centros importantes para o desenvolvimento de carros elétricos e híbridos no País, e contesta os números do estudo realizado pela consultoria Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Sindipeças.

Segundo a pesquisa, o processo de eletrificação do mercado automotivo brasileiro deve ocorrer de forma mais lenta em relação ao resto do mundo. A estimativa é que, em 2035, 62% dos veículos comercializados no Brasil serão eletrificados. No mundo, no entanto, esse percentual vai ultrapassar os 90%, de acordo com dados publicados anteontem pela agência Automotive Business. 

“Não creio que o processo de eletrificação do mercado brasileiro ocorra de forma tão lenta como previsto pelo estudo, pelo contrário, o que os dados estão demonstrando é que o mercado está aberto e a demanda por carros híbridos e elétricos é crescente no Brasil”, afirmou Avena.

Preço

Para ele, “se houver redução gradativa no preço, conforme indicam as pesquisas da BYD e da Stellantis, o percentual será muito maior que 62% de veículos comercializados em 2035”. “Considero extremamente pessimista essa avaliação da pesquisa, e na minha opinião reflete um pouco o predomínio no mercado local das indústrias que ainda fabricam carros baseados em combustíveis fósseis e que terão de investir na transição para elétricos. Elas não têm grandes expectativas porque precisam investir”, opina o economista.

Guerra fiscal

“Isso é um reflexo do movimento que está havendo no Sudeste contra as empresas que já anunciaram investimentos em carros elétricos e híbridos no Nordeste, na Bahia e Pernambuco”, comenta Avena. Para o economista, para tornar o Nordeste um polo indutor da eletrificação, seria preciso dar alguns passos que incluem a política.

“É preciso que as lideranças políticas e as lideranças econômicas rejeitem a ideia de que os incentivos são para as empresas que estão vindo para o Nordeste. Não, os incentivos não são para as empresas. Eles devem existir para reduzir o gap regional, as desigualdades, e muito mais incentivos setoriais são dados às empresas do Sul e Sudeste do Brasil”, pontua. 

Lideranças do Nordeste já estariam mobilizadas para lutar pela manutenção dos incentivos do regime automotivo regional até 2032. Os incentivos vencem, segundo a lei atual, em 2025. O texto da PEC 45, da reforma tributária, tramita no Senado e deve ser votado até novembro.

Autopeças

“Tanto a BYD quanto a Stellantis poderiam estudar com mais profundidade e aceleração a implantação de um polo nordestino de autopeças. Já existem as fábricas das Baterias Moura em Pernambuco. Na Bahia a área de tecnologia automotiva é avançada e a BYD também pretende investir em formação de mão de obra e transferência de tecnologia”, afirma Armando Avena. O economista também comentou com otimismo sobre o aumento gradativo da rede de eletropostos. “E os carros podem ser carregados em tomadas residenciais. Não vejo problema, essa rede de infraestrutura será adaptada”.

Investimentos

Maior fabricante de carros elétricos do mundo, a BYD vai investir cerca de R$ 3 bilhões para instalar três fábricas na Bahia e deverá gerar mais de 5.000 empregos. Além de veículos de passeio elétricos e híbridos, as fábricas irão produzir chassis de ônibus e caminhões elétricos e processar lítio e ferro fosfato. A expectativa é iniciar a produção no segundo semestre de 2024. “A BYD pode, sem dúvida, reduzir custos de produção e apresentar veículos cada vez mais atrativos ao mercado, com preços mais acessíveis”, comenta Avena.

A Stellantis, responsável pelas marcas Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot e Ram, já anunciou o lançamento de quatro plataformas de eletrificação no País. Serão carros elétricos (sem motor a combustão), híbridos leves e do tipo plug-in. As marcas do grupo devem acelerar a estratégia de descarbonização a partir de 2024. A fábrica da Jeep em Goiana (PE) seria preparada para a produção de elétricos. Um outro projeto já anunciado diz respeito aos estudos e pesquisas para a criação de uma tecnologia de célula de combustível a partir do etanol. A Stellantis já anunciou que até 2030 espera que 60% das vendas do grupo no Brasil sejam de veículos híbridos ou elétricos.

Vendas

No primeiro semestre de 2023, o mercado brasileiro vendeu 11.475 veículos PHEV, o que representa um crescimento de 206% sobre o mesmo período de 2022 (que contabilizou 3.751 unidades), de acordo com a ABVE – Associação Brasileira do Veículo Elétrico.

PHEV (Hybrid Electric Plug-in Vehicle) é a sigla que define o veículo elétrico híbrido com recarga externa (plug-in). Ao passo que HEV (Hybrid Electric Vehicle) refere-se ao veículo elétrico híbrido convencional sem recarga externa da bateria e a tecnologia BEV (Battery Electric Vehicle) define o carro 100% elétrico com recarga externa da bateria (plug-in).  Foram emplacados 32.239 veículos leves eletrificados (HEV+PHEV+BEV) de janeiro a junho de 2023 no Brasil, segundo a ABVE. 

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