Seca no Amazonas afeta produção de motos e reduz estoques
Yamaha e Honda adotam medidas para gerir a crise nas fábricas; nas lojas já houve redução da oferta de modelo
A demanda por motocicletas se manteve aquecida ao longo deste ano e agora os fabricantes e revendedores deveriam ter a expectativa de superar todas as metas de crescimento em novembro e dezembro. Mas o clima não está para tanto otimismo, isso porque a seca severa que castiga toda a região Norte do País afeta a produção de motos do Polo Industrial de Manaus – PIM.
“Está acontecendo uma seca histórica na Bacia do Rio Amazonas, e como todos sabem, mais 95% da produção brasileira de motocicletas está concentrada na Zona França de Manaus. O escoamento dessa produção é feito unicamente por balsas até Belém do Pará e de Belém, por outros meios de transporte, para o resto do Brasil. Com a baixa do leito dos rios, as áreas navegáveis estão diminuindo diariamente, o que inviabiliza alguns portos e cais. Há redução do número de balsas, provocando um gargalo gigantesco em Manaus”, explica o sócio-diretor do Grupo Motofácil (Yamaha), Cláudio Cotrim.
“Já estamos sem estoque na maioria dos nossos modelos, com filas de espera nos mais procurados, e a Yamaha nos passou que a dificuldade não está somente na saída da motocicleta pronta da fábrica, está também na chegada a Manaus dos componentes importados para a montagem de novas motocicletas”, detalha o diretor. “Essa é a pior seca dos últimos 121 anos, e se não começar chover até o final deste mês, não conseguimos ainda projetar a dimensão dos prejuízos e os danos ao mercado”, afirma Cotrim.
“Eu que sou de Guanambi, grande produtora agrícola do interior do sertão baiano, deixei a minha cidade Natal e vim para Salvador estudar, na crença de que não precisaria mais rezar para chover, eu só queria rezar para agradecer! E hoje, voltei a rezar com toda a fé para chover, e para chover no Amazonas”, resume o empresário.
Adequando a produção
Após registrar a pior seca em 121 anos, o Rio Negro continua descendo em Manaus. Desde domingo, 22, o nível das águas está abaixo dos 13 metros no Porto de Manaus, onde a medição é realizada diariamente. A Yamaha, que ocupa a segunda posição em vendas, com 19% de participação no mercado brasileiro, informou para a agência Automotive Business estar “adequando a produção ao fluxo de chegada de insumos, reduzindo a produção e escolhendo os produtos que tem condições de fabricar”.
Este ano, a empresa produziu 26,5 mil motos por mês, em média. Já a líder Honda, que detém 71,21% de market share, pontuou em comunicado para a agência que “segue monitorando a situação da estiagem e adotando alternativas junto aos seus fornecedores e parceiros de negócio, para minimizar eventuais impactos em sua operação”. A marca produziu em média 99,3 mil motos por mês em Manaus de janeiro a setembro.
O diretor comercial do Grupo Motopema, Kidy Cordeiro, afirma que o problema da estiagem em Manaus ainda não afetou os estoques das revendas do grupo. Com seis lojas da Honda na Bahia (três em Salvador, uma Camaçari, uma Santo Amaro e uma em Candeias), o Grupo Motopema está prestes a inaugurar nova loja na capital baiana, para atender à crescente demanda do mercado. “Em 2023 nosso grupo tem batido recorde de vendas. Julho e agosto registraram melhor desempenho de vendas da nossa história e no acumulado de janeiro a setembro deste ano nosso crescimento foi de 18%, em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa em relação a novembro e dezembro é muito alta, são dois meses de aquecimento”, afirma o diretor comercial.
A perspectiva da Abraciclo, entidade que representa os fabricantes de veículos de duas rodas no país, é fechar 2023 com 1.560.000 motocicletas fabricadas, alta de 10,4% na comparação com o ano passado. No acumulado do ano de 2023, saíram das linhas de produção 1 milhão 192 mil motocicletas, crescimento de 12,3% sobre o mesmo período do ano passado.
Para Claudio Cotrim, há outro fator que pode comprometer as metas de vendas no final do ano: a diminuição do crédito. “Devido à crescente inadimplência, as financeiras diminuíram o índice de aprovação e aumentaram um pouco as suas taxas, essa ação impacta diretamente nas vendas.
“A Yamaha criou mais uma linha de montagem em sua fábrica em Manaus que proporcionou, de Jan a Set/23, alta de produção de cerca de 40%, houve aumento na rede de concessionárias também. Mas o Grupo Motofácil logrou êxito, chegando em algumas lojas a um crescimento médio de 25%, comparado ao mesmo período de 2022”.
Quem ama moto
O médico Elton Ferreira Santos tem moto desde 2015. Já teve carro, mas hoje usa uma Tenere 250cc, para trabalho, lazer e viagens. “Utilizo a moto como terapia, escutar o ruído do motor, a vibração, o vento no rosto, tudo isso elimina o estresse”, justifica. Para ele, “a versatilidade no trânsito, aliada à economia de tempo e economia financeira, transforma a moto no veículo perfeito para o trânsito das grandes cidades”.
Larissa Quintino da Costa, técnica em edificações, comprou uma Biz 110i há um ano e meio, desde então a moto tem sido sua companheira para trabalho, viagens curtas e lazer. “Meu principal meio de transporte; uso todos os dias para trabalhar, viajo, faço passeios, vou à praia, tudo com ela”.
“Tenho carinho e imensa gratidão, porque a moto de dá uma sensação de amor e liberdade. Minha família inteira tem relação de amor com motos, minha mãe pilota uma Biz também, meu pai e irmão têm motos”, conta. Ela mora em Camaçari e costuma rodar muito em Salvador e Região com sua Biz. “Por um tempo fiquei muito receosa, com medo de sair de Camaçari, mas com apoio de amigos e da família fui criando coragem e hoje vou para onde quero. É libertador”, conta. Larissa pratica a direção defensiva, usa equipamentos de segurança o tempo todo. “Sou muito cuidadosa com minha vida e a vida do outro, respeito as leis de trânsito, evito distrações. Percebo certo machismo no trânsito, mas sigo com cuidado e gratidão”, resume.