Como combater o crime organizado?
Operação no Rio escancara o dilema entre o confronto direto e a necessidade de inteligência

Aqui nas páginas do A TARDE, publicamos há duas semanas o artigo “Segurança Pública e as eleições de 2026”, no qual defendemos que o tema da segurança pública ocupará uma centralidade na conexão entre eleitores e candidatos aos diversos cargos nas eleições de 2026.
A Operação Contenção deflagrada no Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha na semana passada para desarticular a cúpula do Comando Vermelho (CV) confirma a nossa tese, já que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), comandou tropas para agir com alta letalidade policial, a maior da história recente do Rio, deixando nítido que ali se buscava uma operação enérgica sem um planejamento meticuloso sobre as diversas etapas de ação. Afinal, o que foi o “muro do Bope”? O que aconteceu com as câmeras corporais? Como foi planejada empurrar os supostos bandidos para as matas da Serra da Misericórdia?
Estas perguntas não advogam pela passividade policial com criminosos, mas preconizam o regramento legal dos direitos humanos e a própria eficácia no cerco a uma bandidagem que passa longe dos morros e das favelas, que anda de jatinho, que tem uma suposta influência no Congresso e no Judiciário, tem bancas de advocacia poderosas e comanda conglomerados empresariais bilionários. Se a ação for mais enérgica na ponta do crime, como fica a inteligência para capturar e destruir quem tem poder de organizar toda a estrutura vertical do crime organizado? Imagina se a gente assistisse uma operação que explode um posto que vende gasolina adulterada como se isso fosse frear a continuidade de uma organização criminosa?
Aí entra no jogo a dimensão de inteligência política na ação do governador Cláudio Castro. A operação ocorreu sem uma coordenação institucional com outros lados responsáveis pela segurança pública, visando somente o confronto direto, mas sem uma costura mais elevada de inteligência e levantamento de dados que gerem um cerco mais ampliado à estrutura corporativa do tráfico de drogas no Rio e com ramificações pelo Brasil afora.
Outra questão é que o governador escolheu o timing da operação, pois há quase dois meses o governo do presidente Lula (PT) domina as pautas na opinião pública, o que ajudou a sustentar a recuperação de popularidade do seu governo e levou à derrota a proposta de anistia aos golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Por fim, as pesquisas de opinião feitas nos últimos dias já mostram o apoio à operação, mas não há certeza se estas ações são as mais eficazes no combate ao crime. Aí entra o governo federal a defender ações de inteligência mais amplas e tecnológicas no cerco ao crime. De fato, a segurança pública entrou de vez na pauta das eleições de 2026.
*Cláudio André é professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].
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