O bolsonarismo nas ruas
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As investigações sobre o 8/01 confirmam um fato relevante: o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus principais auxiliares coordenaram por meses ataques contra as instituições democráticas em torno de um plano de sabotagem que tinha como principal estratégia clamar a “voz das ruas” em direção a uma ruptura institucional da ordem política vigente.
Este método de encontrar nas ruas a legitimidade e retórica populistas para o início de um golpe de estado não trouxe nada de novo à conjuntura. Desde o início do seu governo, o ex-presidente golpista manteve a missão de forjar uma base social e ideológica estável como projeto político a longo prazo, levando a antecipar-se na ocupação das ruas e das redes sociais com o objetivo de manter um nível elevado de mobilização dos seus apoiadores que o levaram a derrotar o PT após o partido conquistar quatro mandatos presidenciais consecutivos.
O método de colocar bolsonaristas nas ruas veio cedo e nos meses seguintes à posse. Em uma mesma tarde de domingo de 2019, manifestantes bolsonaristas começaram a se concentrar em frente ao Congresso Nacional por volta das 10h, disparando ataques ao centrão, ao então presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e ao STF.
No 7 de setembro de 2021, Bolsonaro esteve na Avenida Paulista. No microfone, reiterou que nunca seria preso e xingou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos. Naquele dia, o ex-presidente peitou Moraes publicamente ao dizer que não cumpriria mais ordens do ministro. Em seguida, ele ofendeu o ministro chamando-o de “canalha”. Àquela altura, sobrou também para as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, com Bolsonaro defendendo o voto impresso e afirmando que as nossas eleições são inseguras.
O que isso nos diz? A tentativa de golpe de estado bolsonarista foi cíclica, havendo organização política, hierarquias e planejamento com o objetivo de impedir a posse de Lula. A operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia da eleição, buscando afastar das urnas os eleitores de bases mais propensas a votar em Lula foi só uma das facetas operacionais do golpe.
O ato de Bolsonaro em São Paulo (SP) deste domingo teve uma ação prática: inelegível e acuado pelas investigações do 8/01, Bolsonaro apela às ruas como uma forma de reforçar a sua influência no espectro à direita do eleitorado brasileiro, ao passo que dissemina a narrativa de que sofre uma ampla perseguição do STF e se antecipa a uma possível prisão. Em termos de estratégia eleitoral, o ex-presidente quer exibir força político-partidária nas ruas para continuar sendo um player nas eleições municipais, mas de olho na sobrevivência eleitoral da sua máquina política em 2026.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB) - [email protected]