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Os erros de ACM Neto

Confira a coluna desta segunda-feira

Publicado segunda-feira, 07 de novembro de 2022 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Imagem ilustrativa da imagem Os erros de ACM Neto
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Entender o perfil do eleitorado e dos seus adversários são essenciais para modular uma estratégia eleitoral que leve em consideração como se deve elaborar uma chapa com equilíbrio político, algo que ACM Neto (União Brasil) ignorou na montagem da sua chapa, o que pavimentou a sua derrota “moral” já no primeiro turno.

Quais foram os erros de ACM Neto? Diante da força do governismo e de Lula, o ex-prefeito precisava buscar uma montagem de chapa a deputado federal do União Brasil que alavancasse “candidaturas orgânicas” do interior baiano, alterando a configuração regional com a busca de novos apoios, algo que não aconteceu, uma vez que quase todos os deputados eleitos ou reeleitos já estavam apoiando o ex-prefeito desde a última eleição.

Em segundo lugar, a chegada do PP foi fundamental para o fortalecimento da campanha de ACM Neto, mas a chapa para deputado federal refletiu o mais do mesmo, sendo que dois dos três primeiros suplentes da chapa são vereadores em Salvador. Ou seja, as chapas de partidos aliados ao ex-prefeito poderiam ter buscado projetar lideranças do interior capazes de agregar votos onde o PT foi mais forte: nos pequenos e médios municípios baianos.

Em terceiro lugar, diante da maior polarização desde a eleição de 2006, cabia a ACM Neto buscar um acordo com o ex-ministro João Roma (PL): a sua presença na chapa desde o primeiro turno seria fundamental para o seu projeto político. A insensatez de não buscar uma aliança com o seu ex-aliado tirou uma parte importante dos votos e das condições da chapa reverter a derrota sofrida no segundo turno.

Em quarto lugar, a candidatura ao Senado do vice-governador João Leão (PP) e a troca confusa pelo seu filho, o deputado federal Cacá Leão (PP), não surtiu efeito quanto à capacidade de somar forças à candidatura de ACM Neto. Ao contrário, o candidato perdeu onde ACM Neto ganhou, como nos municípios de Salvador, o ex-prefeito obteve 52,79% e Cacá Leão obteve 26,98%, e em Feira de Santana, com Neto obtendo 42,87% e Cacá ficando com 22,63% dos votos ao Senado.

Por fim, a escolha do candidato a vice-governador foi um desastre sem precedentes. A escolha de ACM Neto por uma pessoa completamente inexpressiva no mundo da política em detrimento de lideranças com carreira estável só pode ser explicada pelo desejo de não ter uma “sombra” na política baiana.

Sem dúvida, ACM neto sai de 2022 como a principal liderança da oposição ao PT, mas o preço pago pelo personalismo foi a derrota nas urnas. Umas das lições a serem maturadas pelo político diante deste fracasso é entender de que forma a sua liderança é um projeto coletivo ou não passa de um desejo pessoal, como a ambição de um príncipe que se reconhece superior a todas as pessoas (os súditos).

*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: [email protected]

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