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O torcedor fechou os olhos

Publicado terça-feira, 16 de outubro de 2018 às 17:04 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Amanda Souza | [email protected] | Fotos: Felipe Oliveira | EC Bahia e Francisco Leong | AFP
Arena Fonte Nova, localizada no Dique do Tororó em Salvador
Arena Fonte Nova, localizada no Dique do Tororó em Salvador -

Arthur Schopenhauer escreveu – e não chegou a terminar – um livro que abordava estratagemas sobre como vencer um debate sem ter razão. As técnicas foram descritas há anos e mais anos atrás, mas, em palavras bem mais simples, traduzem o futebol brasileiro: vencer sem convencer.

Não sejamos saudosistas. O país do futebol já não é do futebol há tempos. Basta observar a maneira como os atletas se acostumaram a jogar, como os clubes se acostumaram a gerir e como o torcedor e acostumou a torcer. O Brasil não é mais do futebol.

Com isso não quero dizer que o esporte não move céus e terras, adultos e crianças, homens e mulheres. Pelo contrário! Move, mas sem critério. Bola na rede, 1 a 0, falhas, sufoco, mais falhas, fim de partida, três pontos, tá fora da zona. Aí o torcedor sai do estádio – ou desliga a TV –, comemora o triunfo e se prepara para a incerteza da próxima rodada.

É esse o X da questão. Venceu? Sim! Mas e o futebol? Organização em campo, posicionamento, movimentação e estratégia de jogo? Não contam? O torcedor se acostumou com um futebol pouco criativo, que não enche os olhos. Ficou no básico, no suficiente. Venceu sete de 14 partidas, mas teve clube pior. Não caiu? Tudo bem, então. Vamos ver na próxima temporada.

O encantamento pelo estrangeiro

Imagem ilustrativa da imagem O torcedor fechou os olhos
Porto x Galatasaray pela fase de grupos da Champions League

Desde criança eu me perguntava o que a Champions League tinha de tão grandioso. Daí eu cresci, passei a me interessar por futebol e entendi: era a beleza. Não só dos craques, dos belos estádios, das torcidas grandiosas o do evento organizado. Era um futebol bem jogado.

Há quem critique o futebol moderno visto nos gramados gringos. Mas o que se discute aqui, nesse texto-e-quase-desabafo, não são estratégias, divisões de campo. É a exigência do que vê no gramado.

Não gosto de comparações, mas até um Porto x Galatasaray na fase de grupos da UCL parece mais convidativo que um Paraná x Atlético-PR às 16h de um domingo. E não é aquela história de que a grama do vizinho parece sempre mais verde, é a história de um vizinho que cuida da sua grama e outro que a desvaloriza.

Em linhas gerais, quero dizer que, em terras tupiniquins, não jogamos um futebol agradável. E aparentemente não tem ninguém incomodado com isso. De tricolores a alvinegros, ninguém sai insatisfeito do estádio quando o time do coração faz aquele 1 a 0 sofrido, digno de pena.

Não vou julgar. Eu também comemoro as vitórias de placar mínimo, mas elas não me bastam. Eu quero ir ao estádio, sentar na arquibancada e ver um jogo bem jogado, quero enxergar as estratégias, é muito além do triunfo. Mas, como dizem, firula não ganha jogo, nem três pontos, quiçá um título. Me rendo.

É esse o problema, no final, todos se rendem. Os resistentes, os problemáticos e os mais ranzinzas não resistem à folia e à empolgação no momento de uma vitória, por mais fajuta que ela seja. Assim, se juntam aos outros, fazem a festa e seguem o baile. Talvez seja por isso que o Brasil não vá para a frente.

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