Resenha rubro-negra - Respeita o futebol feminino!

Publicado sexta-feira, 08 de abril de 2022 às 06:01 h | Atualizado em 07/04/2022, 19:52 | Autor: Angelo Paz | Jornalista | angelonpaz@hotmail.com
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O descaso no Brasil vai na contramão do crescimento do futebol feminino em nível global
O descaso no Brasil vai na contramão do crescimento do futebol feminino em nível global -

Muito provavelmente você não se recorda do que fez no último dia 30 de abril, mas saiba que este dia jamais será esquecido por milhares de pessoas. Ao menos para as 91.553 presentes no Camp Nou, estádio do Barcelona, no belíssimo clássico contra o Real Madrid pelas quartas de final da Liga dos Campeões Feminina. Em campo, futebol da mais alta qualidade e gol a rodo, como se diz em Soterópolis: 5 a 2 para as donas da casa. Entretanto, o protagonismo da noite na capital da Cataluña acabou sendo o extraordinário público, o maior já registrado em um jogo do futebol feminino.  

E óbvio, esse momento histórico rodou o mundo através do noticiário e também das redes sociais.  Aos felizardos que foram ao Camp Nou, uma oportunidade incrível de registrar a presença. Assim fez a jornalista baiana e torcedora do Vitória Julia Belas Trindade. Devidamente vestida com a camisa rubro-negra, postou um fotão na arquibancada em sua conta do Twitter com a seguinte legenda: “Um dos dias mais foda da minha vida”. 

O departamento de comunicação do Vitória retuitou a publicação da rubro-negra, que em sequência deu uma chamada, com a devida elegância, no clube do coração. “Aí, @ecVitória, aproveita para voltar a investir no futebol feminino! A gente teve umas campanhas tão legais, seria massa ver as Leoas sendo valorizadas. Ou vai ficar só postando foto no Twitter?”. 

Para o desapontamento de Julia, que leva o amor pelo futebol também para o dia a dia profissional e em fevereiro publicou uma matéria sobre a baiana Formiga na edição impressa do conceituado jornal britânico The Guardian, e para todos os demais que apreciam o futebol feminino, o Leão ficará só postando foto no Twitter mesmo. Curiosamente, também no final de abril, o clube decidiu encerrar as atividades do futebol feminino, que assim como no masculino, acabou rebaixado para a terceira divisão do campeonato brasileiro. Sem receber salários desde outubro, algumas jogadoras voltaram às suas cidades de origem para trabalhar em outras atividades.   

Triste realidade que poderia ser evitada caso os clubes tivessem a real obrigação de seguir o regulamento previsto no Licenciamento de Clubes da CBF, que consiste em uma autorização concedida pela entidade aos clubes, habilitando-os a disputar as competições nacionais e internacionais, desde que observados requisitos mínimos definidos. Uma das exigências para a obtenção da licença é a obrigação de os clubes terem uma equipe feminina adulta e uma de base, que disputem ao menos um campeonato oficial. 

No Licenciamento, a obrigação dos clubes de ter uma equipe feminina adulta e uma de base deveria ser implementada pelos clubes da Série A em 2018, os da Série B a partir de 2019, os da Série C em 2020 e, por fim, os da Série D, em 2021. Porém, hoje, a obrigatoriedade das equipes femininas se limita as equipes da primeira divisão do futebol nacional. Segundo o regulamento, o não cumprimento das regras estabelecidas sujeita os clubes a uma série de sanções, sendo a mais grave a revogação da licença. Infelizmente, essa é uma política de igualdade de gênero que fica ‘só no papel’ mesmo.  

Um descaso que vai na contramão do crescimento do futebol feminino em nível global, mesmo durante a pandemia. De acordo com o último relatório da Fifa sobre a janela de negociações de meio de ano do futebol mundial, enquanto o número de transferências entre os homens manteve-se semelhante ao de 2020, entre as mulheres houve um crescimento de 8,7% em relação a 2020. O futebol feminino merece o devido respeito. Acorda, Vitória! Acorda, CBF!

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