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Resenha rubro-negra: Bolso vazio

Publicado sexta-feira, 16 de outubro de 2020 às 10:00 h | Autor: Moysés Suzart | Jornalista | [email protected]

Tive o prazer de trabalhar durante alguns anos no Vitória. Além da experiência ímpar, convivi com pessoas que respiram o clube, são muito mais que meros funcionários. São pessoas que abdicam de sua vida social para dedicar-se exclusivamente ao nosso time. Pessoas que cuidam do clube como se fossem seus filhos, seus bens, sua casa. São muitos assim, a grande maioria. Funcionários que choram quando perdemos, mas enxugam as lágrimas, respiram e estão lá de novo, cuidando do Vitória, com esperança de dias melhores. São os verdadeiros heróis rubro-negros.

Esses heróis que respiram o Leão estão sofrendo calados. Estão sem dinheiro, recebendo de três em três meses, uma prática que se tornou vício, deixou de ser exceção. Quando está próximo de completar três meses de salário, a diretoria paga a folha salarial para evitar denúncias na Justiça (alô, MP!). Alguns funcionários estão recebendo, por mês, pouco mais de R$ 300, graças ao auxílio emergencial, que termina em dezembro. A outra metade, que seria paga pelo clube, não está sendo honrada. O senhor expertise quer apenas que as pessoas trabalhem por amor, mesmo com a barriga vazia. Não vai rolar. Me diga aí, como manter o amor incondicional ao clube que você trabalha, mantendo sua dedicação e comprometimento, quando o profissionalismo só parte dos colaboradores? Alguns funcionários me relataram que o silêncio impera no Vitória e não existe nem o cuidado e assistência àqueles que estão tirando do que não têm para continuar indo ao clube trabalhar. Para o gestor, eles não estão fazendo mais que sua obrigação.

Não ficaria admirado se uma única pessoa do clube, que nem preciso citar, esteja recebendo em dia. Ele é o mito, ele pode, né? Nem os jogadores estão mais recebendo seu ordenado todo mês. Não é nenhuma novidade que os cofres estão vazios, fruto de administrações anteriores que quebraram o clube de forma irresponsável. Os últimos meses de Ricardo David no poder foram de salários atrasados. Eu estava lá. Chegamos a ficar quase dois meses sem ordenado, o que já foi uma experiência que não desejo a ninguém. Atrasei colégio do filho, cortei TV a cabo, foi um arrocho lá em casa. Imagina você receber religiosamente de dois em dois meses. Vá tentar pagar a luz mês sim, mês não. Os problemas começaram antes da gestão atual? Sim. Contudo, o presidente tinha a solução de todos os problemas antes de ser eleito. Até agora, não vi diferença entre PC e RD. Dentro e fora de campo.

Ambos atrasaram salários. Retornaram a uma prática que Alexi Portela acabou no Vitória, deixando o clube com a fama de bom pagador. Curiosamente, Alexi está lá, ao lado do atual presidente, algo que nunca vou compreender. Dentro de campo? RD foi eliminado na fase de grupos do Baiano. PC também. Não conseguimos retomar a hegemonia na Copa do Nordeste com RD, tampouco com PC. Jogadores são contratados a rodo, prática nas duas gestões. Contudo, os torcedores escolheram a atual gestão. Se ela culpa o passado pelos seus próprios erros, vai continuar andando em círculo, querendo morder o próprio rabo. Torço para que o presidente largue o WhatsApp e vá fazer o que prometeu: profissionalizar o Vitória. Ainda há tempo para isso. Caso contrário, PC, um cara de fundamental importância para a construção do clube, também será o pilar de sua destruição. Ou se morre herói ou se vive o suficiente para se tornar vilão.

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